Por Daniel de Castro Rodrigues1
Grande parte das pastagens que sustentam o rebanho brasileiro estão ou se encontram em algum estado de degradação. Têm-se discutido diversos processos para recuperação e/ou renovação das pastagens, introdução de novas espécies de plantas forrageiras, manejo, adubações, entre outras medidas que visam recuperar a produtividade das pastagens nacionais. Cada vez mais um número maior de produtores passa a reconhecer a importância de um pasto de qualidade na alimentação do seu rebanho, seja de corte ou de leite, visando o aumento das taxas de lotação, elevação da produção de leite ou carne, melhora da sanidade do rebanho e sobretudo aumento de competitividade com outros segmentos da atividade agropecuária.
A agricultura e a pecuária são setores cujos investimentos em modernas tecnologias devem se fazer cada vez mais presentes. A demanda por sistemas que permitam aumentar a produtividade agrícola e pecuária do país é crescente, desse modo um programa que permita envolver um sistema de integração pecuária e agricultura contribui sobremaneira para o atendimento dessa demanda crescente (Magnabosco et al. 2001).
A integração tem sido motivo de discussão entre técnicos e produtores e tem mostrado resultados promissores no campo. A integração lavoura-pecuária pode ser feita de diversas maneiras, como rotação de culturas (e.g. arroz – soja-soja-milho-pasto) e no plantio “associado” (e.g. soja + pasto, milho + pasto, arroz + pasto, etc). Segundo Sainz & Magnabosco (2001), o uso de culturas como milho, milheto, arroz, soja, sorgo quando implantadas sobre pastagens degradadas, e dentro das recomendações técnicas específicas, tem possibilitado o restabelecimento da capacidade produtiva das pastagens e produção de grãos, em apenas um ciclo de cultivo associado (pasto e grãos), obtendo uma relação custo-benefício favorável. Nesse artigo iremos comentar sobre o plantio associado entre milho e Brachiaria brizanha.
Milho-pasto alternativa viável
O binômio agricultura-pecuária, que possibilita integrar a produção de grãos e criação de gado numa mesma área, tem despertado o interesse de produtores em diversas regiões do país. Esse sistema traz benefícios como:
– Descompactação das camadas superficiais do solo, permitindo maior infiltração de água e aprofundamento das raízes;
– Melhoria da fertilidade do solo pelo uso de corretivos e fertilizantes;
– Melhor eficiência no controle de pragas e plantas invasoras
– Lucro extra para o produtor com a venda de grãos e reforma dos pastos a custo reduzido;
– Acúmulo de biomassa (pastagem) para o período de entressafra (seca), que acontece após a colheita da cultura;
– Aumento da produção e produtividade do rebanho, que tem a seu dispor forragem de qualidade no período seco do ano;
– Aumento da capacidade de suporte das pastagens e redução no uso de suplementos (farelos) para os animais.
– Maiores produções de carne, leite e bezerros, uma vez que será disponibilizado alimento (pasto) de melhor qualidade para os animais.
– Formação de cobertura vegetal (palhada) para plantio direto da próxima safra.
– Diversifica e minimiza a vulnerabilidade da atividade agropecuária por variações de clima e de mercado.
O milho é uma dos cereais mais indicados para a consorciação, principalmente devido ao grande número de herbicidas seletivos para a cultura, o que facilita o controle do capim diminuindo assim a competição entre milho-pasto.
No plantio “associado”, o produtor deve ficar atento para eventuais problemas na colheita devido à agressividade das gramíneas do gênero brachiaria, que em períodos de crescimento relativamente longos (ciclo do milho) adquirem altura elevada dificultando a colheita. Nesse caso, o uso de sub-doses de herbicida e adubação de cobertura estratégica é indicado (Embrapa 2001). É importante ressaltar que, também é objetivo do consórcio a formação de uma boa pastagem, que deve cobrir bem o solo (formação de palha) e fornecer alimento (forragem) para o gado no período da seca.
A integração lavoura-pecuária tem como premissa a sustentabilidade dos sistemas de produção (pecuária e agricultura) deste modo, o processo se inicia com a análise do solo e caso necessário, correção da acidez através da aplicação e incorporação do calcário. O produtor deve ter em mente que o solo é a base de todo o sistema, e investir na melhora das características químicas e físicas do solo trará resultados positivos a curto e em longo prazo. Corrigido o solo, o produtor deve iniciar o plantio do milho e do pasto. As formas de se implantar o pasto vai depender da infra-estrutura do produtor.
A prática tem demonstrado que a B. brizantha cv. Marandu se estabelece melhor quando suas sementes são cobertas pelo solo, a semeadura a lanço sem incorporação das sementes não tem resultado em pastagens bem formadas.
Após semeado o milho e o pasto, vem a fase mais crítica do processo. O produtor deve ficar atento ao momento da aplicação do herbicida que irá “segurar” a brachiaria. A combinação de herbicidas pós-emergentes mata as folhas largas e controla o capim. Após a aplicação do pós-emergente deve-se realizar a adubação de cobertura (ficar atento para a incompatibilidade de alguns herbicidas com produtos organofosforados), assim as plantas de milho se desenvolvem rapidamente sombreando o capim que se encontra “enfraquecido” pela sub-dose do herbicida. O sombreamento do capim impede o seu crescimento, desse modo, as plantas de brachiaria ficam na “espera” de condições ideais (no caso luz) para se desenvolverem.
Aconselhamos sempre ao produtor que caso inicie a integração consulte o engenheiro agrônomo com experiência no processo. A B. brizantha quando não é devidamente controlada compete sobremaneira com o milho, reduz a produtividade e em muitos casos impede a colheita mecanizada. A integração visa produção de grãos e de forragem de maneira eficiente sem que haja prejuízos na atividade.
Na Figura 2 pode-se observar a produtividade da cultura “solteira” e consorciada utilizando o sistema “SANTA FÉ” desenvolvido pela Embrapa Arroz e Feijão. É interessante ressaltar que praticamente não houve diferença entre a produção de grãos do cultivo solteiro e consorciado. Isso só é possível quando o processo de integração é realizado dentro das especificações técnicas corretas.
Quando as plantas de milho começam a senescer, a luz solar penetra no interior do dossel da lavoura e atingir as plantas de brachiaria que passam a crescer e emitir novas folhas (Figura 3). Mais uma vez, o produtor deve ficar atento para que a não haja atrasos na colheita, pois com a senescência do milho, as plantas de brachiaria passam a crescer de maneira vigorosa podendo causar problemas na colheita como embuchamento e/ou reduzir a velocidade de operação da colheitadora (Embrapa 2001).
O resultado de um processo de integração bem feito é a alta produção de grãos, solo coberto, forragem para seca, gado gordo e leite no balde (Figura 4).
Além das vantagens técnicas da integração citadas acima, a reforma das pastagens a custo reduzido é uma das principais características do processo. A otimização do uso da terra e diversificação das atividades na propriedade é que torna o consórcio entre grãos e pasto uma atividade extremamente interessante para o agricultor e pecuarista.
Literatura citada
EMBRAPA (2001). Sistema Santa Fé. Integração Lavoura-Pecuária pelo consórcio de culturas anuais com forrageiras. Área de Comunicação Empresarial, 2001.
MAGNABOSCO, C.U.; BARCELLOS, A.O.; OLIVEIRA, I.P.et al. Desempenho do componente animal no sistema PIAP. In: Workshop Internacional Programa de Integração Agricultura Pecuária para o Desenvolvimento Sustentável das Savanas Tropicais Sulamericanas. Anais…Embrapa Arroz e Feijão, 2001. 154 p. (Documentos / Embrapa Arroz e Feijão, ISSN 1516-7518; 123); (Documentos / Embrapa Cerrados, ISSN 1517-5111; 28)
SAINZ, R.D. & MAGNABOSCO, C. Análise de sistemas agropastoris. In: In: Workshop Internacional Programa de Integração Agricultura Pecuária para o Desenvolvimento Sustentável das Savanas Tropicais Sulamericanas. Anais…Embrapa Arroz e Feijão, 2001. 154 p. (Documentos / Embrapa Arroz e Feijão, ISSN 1516-7518; 123); (Documentos / Embrapa Cerrados, ISSN 1517-5111; 28)
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1Daniel de Castro Rodrigues, M.S em Ciência Animal e Pastagem, Consultor Integração Lavoura-Pecuária, Fazenda Santa Clara – Goiás