Integração lavoura-pecuária: sustentabilidade e competitividade

Por Daniel de Castro Rodrigues 1

É incontestável os benefícios do plantio direto para agricultura nacional. No final da década de 60 o conceito inicialmente adotado era denominado de “no-tillage”, que significa, sem preparo. Atualmente esse conceito assume a visão integrada que envolve uma combinação de práticas culturais ou biológicas tais como: uso de herbicidas específicos, práticas mecânicas no manejo da cultura destinada a adubação verde, manutenção de resíduos culturais na superfície do solo (formação de palha), adoção de métodos integrados de controle de plantas invasoras, dentre outros.

Nas regiões tropicais, em geral, predominam solos naturalmente ácidos e de baixa fertilidade. Mesmo com a evolução do plantio direto, a dificuldade de se formar palha para a cobertura do solo, a monocultura e o sistema extensivo de exploração pecuária associado ao mau gerenciamento do agronegócio têm gerado sinais de insustentabilidade. Os solos após a correção são utilizados para o plantio de lavouras por apenas quatro-cinco meses, ficando ociosos na entressafra e sujeitos a erosão eólica e térmica. As pastagens por sua vez, apresentam baixa capacidade de suporte, devido a algum processo de degradação com notória deficiência de forragem no período seco ou entressafra.

De acordo com Kluthcouski et al. (2001), por razões econômicas e/ou agronômicas, a exploração isolada da lavoura ou da pecuária tem apresentado reflexos negativos nos parâmetros sociais e ambientais. Para os autores, a atual conjuntura econômica, tanto a competitividade como a sustentabilidade dos setores estarão cada vez mais dependentes da redução dos custos de produção, e da utilização intensiva das áreas agrícolas durante o ano todo. Nesse sentido, observa-se expressivos resultados na integração lavoura-pecuária, usando os fundamentos básicos do plantio direto, com rotação de culturas e proteção dos solos com palhadas, explorando com eficiência as áreas de pastagem e produtoras de grãos.

A baixa rentabilidade da pecuária nos últimos anos tem desestimulado os pecuaristas a investirem em tecnologia para o aumento de produtividade de suas pastagens. Vilela et al (2004), ressaltaram que a viabilidade econômica da adubação de pastagem freqüentemente tem sido questionada, no entanto, os autores alertam que para recuperar a produtividade das pastagens é necessário corrigir as deficiências do solo por meio de adubação e calagem. Sendo assim, a integração lavoura-pecuária, em suas diferentes formas, é uma das técnicas mais indicadas para que se recupere a fertilidade do solo e a produtividade das pastagens. Essa técnica tem como objetivo aproveitar o residual da adubação utilizada nas lavouras para recuperação da pastagem a menor custo (Vilela et al. 2004)

Na Tabela 1, mostra-se o efeito de diferentes estratégias de renovação com intuito de restabelecer a capacidade produtiva das pastagens. De acordo com Vilela et al. (2004), a produção de grãos de arroz e milho amortizou os custos da renovação em 49% e 82%, respectivamente. Segundo os autores, a rotação de culturas anuais com pastagens é uma das alternativas ideais para obter um manejo sustentável de solo e água nos trópicos.

Tabela 1. Capacidade de suporte e desempenho de bovinos recriados, no período de 9 a 24 meses de idade, em pastagens renovadas com diferentes estratégias e submetidas a uma oferta de forragem de 7% em pastejo rotacionado, em um solo arenoso no município de Baslilândia, MS.


Além do aproveitamento do residual da adubação para o aumento da produtividade das pastagens, diversos autores ressaltaram a importância das pastagens, com seu sistema radicular profundo e volumoso, na melhora das características físicas do solo. (Ayarza et. al. ;1993; Salton et al., 1999; Casa et al., 2004). Os solos cultivados com pastagem apresentaram maior macroporosidade e porosidade total (Alvarenga e David, 1999), melhora na estabilização dos agregados (Silva e Mielniczuk, 1997), além de melhora da qualidade do solo, no que se refere à quantidade e distribuição da biomassa radicular (Kanno et al. 1999).

Literatura Citada

AYARZA, M.; VILELA, L.; RAUSCHER, F. Rotação de culturas e pastagens em um solo de Cerrado: estudo de caso. In: CONGRESSSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 24., 1993, Goiânia. Cerrados: fronteira agrícola do século XXI: resumos. Goiânia: SBCS, 1993. v.3, p. 121-122.

ALVARENGA, M.I.N.; DAVIDE, A.C. Características físicas e químicas de um Latossolo Vermelho-Escuro e a sustentabilidade de agroecossistemas. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v. 23, N.4, p. 933-942, 1999.

CASA, R,T,; REIS, E.M.; ZAMBOLIM, L. Manejo Integrado das Doenças de Milho em Plantio Direto. Ed. Zambolim, L.; Silva, A.A.; Agnes, E. L. In: Manejo Integrado – Integração Agricultura-Pecuária – Viçosa: UFV. p. 45-71. 2004.

KANNO, T.; MACEDO, M.C.; EUCLIDES, V.P.B.; BONO, J.A.; SANTOS JÚNIOR, J.D.G.; ROCHA, M.C.; BERETA, L.G.R. Root biomass of five tropical grass pasture under continuous grazing in Brazilian savanas. Grassland Science, Tochigi, v.45, n.1, p.9-14, 1999.

KLUTHCOUSKI, A.; AIDAR, H. Evolução das Atividades Lavoura-Pecuária nos Cerrados. In: Integração Lavoura-Pecuária. Ed. KLUTCHCOUSK, A.; STONE, L.F.; AIDAR, H. – Santo Antônio de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2003. 570 p.

SALTON, J.C.; HERNANI, L.C.; BROCH, D.L.; FABRÍCIO, A.C. Alterações em atributos físicos do solo decorrentes da rotação soja-pastagem, no sistema de plantio direto. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, 1999. 5p. (Embrapa Agropecuária Oeste. Comunicado Técnico, 10)

SILVA, I. de F.; MIELNICZUK, J. Ação do sistema radicular de plantas de formação e estabilização de agregados do solo. Revista Brasileira de Ciência do Solo. Campinas, v.21, n.1, p.113-117, 1997.

VILELA L.; MARTHA Jr., G.; BARIONI, L.G.; BARCELLOS, A.O. Adubação na recuperação e na intensificação da produção animal em pastagens.

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1 Eng. Agrônomo, MSc

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