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Intensificar ou Vender ?

Há décadas a pecuária de corte no Brasil vem ciclicamente rumando em direção as matas. O pecuarista tradicional se orgulha, antes de tudo, de ser um desbravador e não ter “medo” do Sertão e, como a atividade extrativa gera poucos recursos, não sendo possível pagar qualquer tipo de “luxo”, esse “não ter medo do sertão” normalmente significa passar todo tipo de desconforto para esperar a valorização da terra, o que só ocorre quando alguma intensificação se avizinha.

Esse modelo cíclico (derrubada – pecuária extrativista – venda ou arrendamento para agricultura tecnificada), embora tenha propiciado e em determinadas condições, continue propiciando a prosperidade de algumas pessoas, não pode ser considerado o único meio de sobrevivência e crescimento patrimonial ligado à atividade pecuária como vêm apregoando, ainda que inconscientemente, alguns críticos da intensificação.

Ao contrário das outras comódites agrícolas, a carne, por ser um produto de maior valor agregado, permite que se produza a distancias maiores sem que isso cause elevação significativa no custo de produção por causa de frete e, dependendo de como se contabiliza o uso do “capital natural” (que é a fertilidade de matas recém derrubadas), é possível fazer uma conta em que se demonstra ser mais barato produzir nas áreas de fronteira, do que em lugares que já necessitem repor os nutrientes exportados ou indisponibilizados pela atividade de produção.

Mas será que é assim mesmo que se deve fazer essa conta ? Aquele que arrenda sua terra por R$ 3,00 por cabeça/mês em Rondônia conseguirá repor com esse valor a fertilidade do pasto recém plantado sobre as cinzas da mata ?

Produzir a arroba mais barata do mundo sugando o potencial de florestas com recursos ainda incompreendidos talvez não seja a maneira mais sábia de aproveitar nossas enormes vantagens tropicais mas, infelizmente, é o que vem acontecendo.

Numa visão mais abrangente, a intensificação da pecuária nas áreas já exploradas provavelmente seja a única forma de conservar um patrimônio biogenético que vem sendo destruído antes mesmo de ser conhecido.

Não creio que por causa de alguns exemplos de insucesso de pessoas mal orientadas ou que simplesmente não tinham perfil para a intensificação a pecuária tenha que se manter como uma atividade que só é possível nas margens… Mesmo porque também conheço pessoas que não tiveram perfil para o modelo “antigo” e também deixaram de progredir se embrenhando em lugares que nunca foram para frente.

Não acho que a intensificação da pecuária seja uma panacéia que sirva a todos, porque cada produtor sabe ou deveria saber aquilo que faz melhor, mas creio que cabe aos bons técnicos demonstrar a viabilidade e os caminhos alternativos para aqueles que, querendo permanecer na atividade pecuária, não pretendam vender ou arrendar suas terras e ir brigar com o Ibama para derrubar novas e maiores áreas.

Além dos fatores acima mencionados, vale a pena registrar que, em momentos como o atual, em que existe uma elevação do preço da arroba e uma melhora na relação de troca, sistemas intensificados e tecnicamente bem preparados demonstram uma capacidade de reação mais acelerada, respondendo com ganhos bastante significativos e gerando ciclos ainda mais virtuosos de produção e valorização do patrimônio.

Certamente falta divulgação de modelos de sucesso embasados em números reais, mas até que ponto isso não ocorre por causa do enorme preconceito que ainda existe na nossa sociedade em relação àqueles que tem lucro e são prósperos ? O fracasso não causa inveja e infelizmente no Brasil dá mais IBOPE …

0 Comments

  1. José Roberto Puoli disse:

    Sou formado na Escola e tenho trabalhado e/ou estudado pecuária pelos últimos 15 anos.

    Neste período já fiz de tudo, desde fazer meu mestrado e doutorado nos EUA até ser gerente de uma grande fazenda no MS e trabalhar de consultor nos dias de hoje.

    Penso que o maior problema que a pecuária enfrenta em termos de usar tecnologia e na nomenclatura das coisas. Pois, em primeiro lugar, porque temos que fazer (ou responder) a pergunta intensificar ou vender?

    Acredito que é esta pergunta que atrapalha e incomoda o avanço da PECUÁRIA TECNIFICADA.

    A pergunta, na minha modesta opinião, deveria ser: O que devemos fazer para salvarmos ou melhorarmos a pecuária, TECNIFICAR OU TECNIFICAR?

    Sim, não cometi erro de digitação. A tecnificação da pecuária deve ocorrer em qualquer lugar que tenha pecuária. Seja nas regiões de derrubada, onde literalmente o proprietário está gigolando a natureza ou nas regiões mais velhas onde o proprietário está cuidando melhor da terra.

    Com isso tudo quero dizer que para termos uma pecuária eficiente e rentável, com custo do kilograma engordado próximo de R$0,80. E, o que é muito importante, alto desfrute. 75% de desfrute na recria-engorda, por exemplo. Temos que USAR AS TECNOLOGIAS CORRETAS E ADEQUADAS PARA CADA SITUAÇÃO. Tecnologias que, muitas vezes não representam intensificação.

    Obrigado pela atenção.
    JR Puoli, Limão

  2. Josmar Almeida Junior disse:

    Caros Companheiros

    Gostaria de parabenizar o autor do artigo e contribuir dizendo que estes sistemas extrativistas, no meu conceito, estão fadados a ir pro buraco.

    Imaginem a rentabilidade dessas novas terras desbravadas, se estas forem intensificadas corretamente !!

    Por quantas vezes ainda teremos que ouvir o custo de produção atrelado à cabeça !!

    Quantas vezes já presenciamos estes grandes projetos extrativistas inadequadamente utilizados, com superpastejo em áreas próximas as sedes ou colônias, e subpastejo em áreas distantes, processo este causado pela falta de logística e planejamento de derrubada.

    Bem companheiros, desta forma gostaria de contribuir, e peço a todos técnicos que simpatizem com o assunto que opinem, e acrecentem suas experiências.

    Obrigado
    Zootecnista MSc. Josmar Almeida Junior
    (043)-3323-9362; (043)-9112-9564

  3. Marcio Sena Pinto disse:

    Dr. Último,

    Gostaria de receber uma lista de projetos ou propriedades em que se pratica a Pecuária Intensiva e logicamente tecnificada, há mais de 5 anos, cuja atividade principal da pessoa seja ela própria (Pecuária de Corte).

    Caso seja possível, solicitamos a gentileza de adicionarem o tamanho destas propriedades e o volume de vendas (em reais ou número de cabeças). Se for possível, gostaríamos de agendar algumas visitas.

    Resposta do autor:

    Consideramos a intensificação como um processo dentro da propriedade que independe do volume ou da origem dos recursos que são investidos. É claro que quem possui outra atividade e não precisa fazer retiradas, podendo reinvestir aquilo que lucra na própria pecuária e é bem orientado, normalmente caminha mais rápido e “aparece” mais… Mas acreditamos que o importante é o rumo! A velocidade vai depender do capital envolvido, mas também e com enorme peso, do quão bem os processos são absorvidos e incorporados na rotina da propriedade. Tem gente que tem bastante dinheiro e entra em ciclos viciosos e acaba por desperdiçar muitos recursos. Quanto mais apertado for o orçamento melhor tem de ser o direcionamento.

    O importante é aplicar os “dinheiros” nos lugares de melhor relação rentabilidade X risco.

    Entre em contato por telefone (16) 39111377 com a ViaVerde Consultoria Agropecuária em Sistemas Tropicais e teremos o maior prazer em conversar sobre as visitas a fazendas de diversos tamanhos com mais de 5 anos nesse processo.

    José Ultímio Junqueira Junior