Fischer América Agronegócio conquista conta da Produquímica
27 de janeiro de 2006
Clostridioses: controle e profilaxia
31 de janeiro de 2006

Interação

Por Luiz Villela1

Rastreabilidade + responsabilidade = saúde + pecuária forte

A Pecuária Brasileira convive atualmente com persistente depreciação no valor da arroba, infelizmente demonstrando de forma clara nossa grande capacidade de produção. É a crise da fartura, como se diz.

Para reverter esse quadro, só uma maior demanda por carnes vermelhas (e sua conseqüente valorização), seja ela proveniente de aumento de consumo interno, incremento nas vendas externas ou então, meta maior, com a pecuária passando a agregar valor aos animais comercializados, através de uma produção qualificada, certificada e direcionada, seriam as soluções apresentadas !!

No primeiro caso, a proposta de inserção de 2 quilos de charque na cesta básica seria excelente alternativa, saudável tanto para produtores como para toda a população, já que garantiria a saída de uma mercadoria proveniente dos descartes de fêmeas adultas e animais com carcaças côncavas e de baixo rendimento, mas mesmo assim matéria prima de charque de primeira qualidade, que proviria a população de baixa renda com boa e barata dose de proteína vermelha, e sendo concomitantemente um instrumento padronizador de rebanhos, direcionando abates que certamente obteriam apoio do pecuarista, mormente se vinculados a algum tipo de fundo voltado à sanidade como erradicar a brucelose, por exemplo, mas essa excelente proposta da ABCZ empacou, talvez por trâmites tributários.

Os impostos do Boi e sua arrecadação são importantes demais para os Estados e para o Governo Federal, já que o saldo das exportações amortiza as suas dívidas com a Banca, financiadas e corrigidas pela atual maior taxa de juros do mundo!

Os credores do governo, internos e externos, ao meu ver, também deveriam estar mais interessados na existência de um comércio internacional mais justo, pois seus créditos teoricamente dependem do saldo em caixa, seja das exportações provenientes de agronegócios, ou dos impostos recolhidos.

Quanto a estes, já temos internamente o maior recolhimento X PIB em comparação com outros países em desenvolvimento, com impostos excessivos incidindo sobre toda a cadeia produtiva;

Já no mercado europeu, a incidência de taxas sobre a carne importada do Brasil impede a necessária abertura e maior acesso.

Tais taxações precisam ser questionados com firmeza, ser desoneradas dos traders responsáveis pelos negócios sujeitos à politica protecionista Européia.
Assim, aos nossos compradores da UE, faríamos ver que ser nosso cliente é benéfico para eles mesmos, já que além da saúde física, estariam também fomentando a saúde de suas próprias instituições de crédito comprando a saudável proteína brasileira assim que as atuais barreiras fossem levantadas, quando provavelmente habilitarão para compras somente a carne proveniente dos rebanhos certificados que tiverem plena condição de ter sua sanidade e outros históricos relevantes disponibilizados de forma eficiente e crível no abate.

Caberia portanto, ao Itamarati, recrudescer a postura madura e atual de defesa de nossa produção, e quem sabe tentar inseri-la eficientemente no mercado globalizado com respaldo no foco de que só assim o Brasil pode pagar sua conta.

Aos nossos legisladores, caberia trabalhar para desonerar a produção em toda a cadeia pecuária, e ao MAPA, continuar fazendo o atual, fomentando o uso de parcerias público-privadas, a exemplo das certificadoras, para ajudá-lo nos controles sanitários obrigatórios, aliviando assim seu orçamento para fazer frente a suas necessidades crescentes.

Equalização de recolhimentos internos e das taxações internacionais é motivo de primeira ordem, pois penalizam tanto os produtores, as indústrias e o País; estimular as PPP´s com diferenciação em seus recolhimentos seria interessante.

Com vendas externas recordes em 2005 e sua valorização proporcional, chegamos a um ponto de inflexão complexo: o gado de qualidade é totalmente direcionado à exportação, e mesmo assim a commoditity brasileira ainda é cotada com menor preço em relação ao pago aos nossos concorrentes.

No mercado interno, onde apura-se na carne valor menor que na exportação, mesmo assim o produtor recebe na fazenda menos da metade do valor atual de venda no varejo, sem contabilizar nesta conta os subprodutos ou o couro dos animais. Um esperado aumento no consumo interno provavelmente manterá a distorção, com o supermercado mandando forte no mercado.

Contudo, o maior valor negociado na commodity exportada também não reverte ao produtor, os maiores volumes estão gerando margens crescentes apenas às indústrias, vide o interesse das exportadoras apenas para bois ´rastreados´.

Cabe aos produtores a menor margem em todas as formas de comercialização.

É urgente estabelecer meios para uma estruturação adequada a fim de que o mercado ganhe eficiência, e passe a ser distributivo em seus lucros auferidos.

Acredito que uma maior rentabilidade na pecuária está dependendo cada vez mais, por incrível que pareça, de termos realmente um SISBOV eficiente.

O MAPA, graças às reformulações internas do ano passado e ao esforço de seus profissionais, tem procurado possibilitar entendimentos, buscando a evolução do sistema e seu funcionamento eficaz, conforme seria esperado após duas gestões seguidas de competência exemplarmente exercida pelos Srs. Ministros.

Mas de nada adiantam esses esforços sem termos a lição de casa bem feita!

O produtor com meios e capacidade de organização, precisa deixar de pensar só no próprio umbigo, vide o desenrolar da crise da aftosa, ainda não resolvida por embargos aos abates na justiça, apesar dos prejuízos que isto tem acarretado a todos que tem propriedades nas áreas sujeitas ao cerco sanitário, e assim vai.

Receber certificados oferecidos pelas indústrias é outro tiro no próprio pé, pois abrem excessões que podem ocasionar entradas e baixas fraudulentas na Base Nacional de Dados, habilitando certificados e boiadas de forma desordenada.

É urgente um check up na BND à procura de erros nos cadastros, nas entradas e baixas de animais, determinando responsáveis para irregularidades encontradas.

Exibir X milhões de animais em cadastros antigos não adianta, ao invés disso precisar-se-á aprimorar novo cadastramento para as futuras propriedades aprovadas Sisbov, aos proprietários dos rebanhos ali apascentados e qual será a certificadora responsável pelo seu controle e de suas movimentações; também efetuar o cadastramento dos estabelecimentos aonde circulam animais e dos abatedouros habilitados para exportação ou desossa, não esquecendo de uma atenção especial ao próprio sistema da BND, eventualmente passando a ser conferido e avaliado por corpo técnico especializado privado, indicado pelas partes envolvidas, mantendo-se a reserva das informações junto ao MAPA.

Hoje não se discute mais se existe a necessidade do sistema, mas como e aonde precisa ser melhorado, tornando-se mais eficiente e útil. Mas como proceder?

Primeiramente, unir, sem confundir, a rastreabilidade com a sanidade; depois, estruturá-lo de acordo com a premente necessidade que se apresenta:

um SISBOV com cadastramento único e seguro, lincado com os órgãos estaduais que garantem a sanidade obrigatória, e com as certificadoras responsabilizando- -se pela identificação dos animais em cada inscrição estadual ou propriedade e pelos detalhes de todas as suas movimentações, auxiliando e complementando o trabalho dos órgãos sanitários estaduais, enfim, possibilitando tornar-se em conjunto com outros procedimentos, agregador de valor para uma mercadoria da qual ele detalha a origem, históricos relevantes e podendo ser usado para ajudar a comprovar sua garantia de sanidade. É uma grande responsabilidade.

O processo atual, de uma forma geral, exige dos produtores mais do que somente o desembolso e o controle de numeração: exige paciência para não desanimar e não se irritar com a falta de contrapartida de um processo burocrático que lhe é exigido no dia a dia da fazenda, praticamente obrigando-o a lidar de forma diferente do que é orientado na legislação específica, onde qualquer erro que acontece penaliza-o cumulativamente, e que só lhe traz ônus sem nenhum bônus.

O produtor precisa é participar mais ativamente e exigir um processo com mais eficiência, e o governo (MAPA) entender, apoiando uma iniciativa neste sentido.

A necessidade de um SISBOV eficiente e fomentando a interação entre as partes é quesito numero 1 para que o boi tenha perspectiva de melhora em sua cotação.

Empresários rurais tecnificados, sindicatos rurais atuantes e participativos, certificadoras estruturadas e compromissadas com a respeitabilidade, são os responsáveis para uma organização necessária que possibilite uma retomada do entusiasmo na produção pecuária. O MAPA deve estar preparado para auditar rigorosamente e uma terceira entidade acreditar o processo das certificadoras.

Vale lembrar que os investimentos necessários para que fosse implementado o processo foi bancado principalmente pelos produtores e pelas certificadoras, as quais tem um papel complementar ao do Estado, pois são autorizadas pelo MAPA e precisam ter todos seus procedimentos necessariamente auditados, entre eles, verificar que trabalhar a mando e causa dos frigoríficos não é seu papel.

É necessário que a certificação seja feita de forma criteriosa, cumprindo o que se espera de um serviço extremamente necessário ao país e à nossa pecuária.

E é imprescindível que este seja executado de forma independente e usado como instrumento facilitador da interação entre produção e indústria, capaz de propiciar uma rastreabilidade efetiva, geradora da necessária informação retroativa que possibilite uma crescente padronização da saudável carne bovina brasileira, podendo certificá-la desta condição disponibilizando a garantia de comprovação de sua sanidade aprovada pelos Órgãos Estaduais, e mais que isso, produzida e certificada num sistema que possa servir para demonstrar toda a qualidade de determinadas boiadas que possam ser oferecidas padronizadas;

Portanto, é a primeira condição para que exista qualquer tipo de organização pecuária que possa ser eficiente a fim de obter sua merecida remuneração.

___________________
1Luiz Villela, FNet LTDA, Araçatuba-SP

0 Comments

  1. Paulo Sérgio Telles da Cruz disse:

    Parabéns Villela

    Muito oportunos os teus comentários. Particularmente continuo bastante preocupado com o novo Sisbov que está para nascer. Sempre fui da opinião de que a base de dados necessita de rigor absoluto, mas ao mesmo tempo precisa ser simples. Eis o grande desafio.

    E aproveitando a “carona”, já que falas em sanidade, nunca é demasiado lembrar que somente será possível certificá-la, se o serviço de supervisão for feito, exclusivamente, por veterinários.

  2. Luiz Marcos de Oliveira Penna disse:

    Concordo com o artigo do sr. Vilela. Porém posso dizer que a posição dos produtores de carne hoje, é muito ruim, onde eles arcam com todas as intempéries do mercado, aumento de custos e fica alijado de qualquer melhora no preço que o seu produto obtenha no comércio externo.

    A “crise da aftosa”, deveria ser tratada como um caso de polícia, não apenas um problema sanitário, já que provocada pelo ingresso de animais contrabandeados, através de uma fronteira por onde passa de tudo.

    A rastreabilidade, realizada no campo e terminada no momento do abate, não prossegue dentro do frigorífico. Todos eles envolvidos em empréstimos subsidiados, trocas de sêlos de origem além de não recolherem os tributos devidos.

    Acho que está na hora do produtor impôr suas regras, dentro do que é possível ser feito, procurando mercados menos exigentes remunerando o produtor como ele é remunerado hoje, porém com menos custos.

  3. Joao Caetano Chiavagatti Francisquelli disse:

    Concordo com seu ponto de vista, mas acho que o mercado de exportação é uma grande protituição. Estive conversando com alguns proprietários de Frigoríficos, ou os seus gerentes, e eles foram unânimes em dizer que a exportação, se você não tiver alguém no poder, não consegue nada.

    Acho também que nós devíamos ter acesso ao preço da @ no mercado de exportação, pois nunca tive essa informação e nem sei quem possa me dar. Assim saberemos identificar realmente onde estão os verdadeiros motivos dessa “crise” que estamos passando na pecuária.