
O setor de carne bovina da Austrália está entrando em um dos ciclos mais fortes da última década, sustentado pelo aumento da demanda global, por preços históricos do gado e pelo apetite contínuo de investidores por terras de pastagem de alta qualidade, segundo novas pesquisas.
Os preços nacionais do gado, medidos pelo Eastern Young Cattle Indicator, continuam próximos de máximas históricas. O mais recente Agricultural Outlook do Australian Bureau of Agricultural and Resource Economics prevê que o valor bruto da produção de carne bovina deve se aproximar de AU$ 21 bilhões (≈ US$ 13,9 bilhões) em 2025-26, com mais de AU$ 17,4 bilhões (≈ US$ 11,5 bilhões) esperados dos mercados de exportação.”
O diretor sênior de agronegócios da JLL, Chris Holgar, afirmou que a força do mercado de commodities está sendo refletida diretamente na demanda por terras rurais.
“O avanço dos preços do gado, combinado com a retomada da demanda por carne bovina e ovina nos mercados externos, reforça a atratividade das propriedades de pastagem como classe de investimento”, afirmou.
“Estamos observando consultas ativas tanto de produtores familiares quanto de investidores institucionais que se posicionam para a próxima fase de crescimento.”
Tim McMaster, diretor associado de pesquisa em agronegócios da JLL, disse que a trajetória das exportações nos últimos cinco anos está entre as mais fortes já registradas.
“O ABARES relata que as exportações de carne bovina e de vitelos cresceram cerca de 85% nos últimos cinco anos, com esse aumento atribuído de forma equilibrada tanto ao volume quanto ao preço unitário”, explicou.
Os Estados Unidos permanecem como o maior e mais estrategicamente importante mercado de exportação da carne bovina australiana, com volumes embarcados que devem continuar crescendo após a recente remoção da tarifa de 10%.
Segundo McMaster, a diferença tarifária em relação ao Brasil segue moldando os padrões globais de compra e sustentando níveis mais altos de preços do gado australiano.
“Mesmo com a recente retirada de tarifas recíprocas pelo Brasil, seus exportadores agora enfrentam uma alíquota de 26,4% após excederem a cota de exportação para os Estados Unidos em janeiro. Isso está redirecionando a demanda para a Austrália”, afirmou.
“Além disso, espera-se que os Estados Unidos iniciem em breve um aguardado processo de reconstrução do rebanho, com o número de animais em janeiro no menor patamar desde 1961.”
“Embora os números do rebanho divulgados em julho normalmente apresentem um aumento sazonal, a demanda da indústria de processamento doméstica continua exercendo pressão baixista sobre o tamanho total do rebanho, com os volumes de abate cerca de 5% abaixo dos níveis recordes observados em 2021–22. À medida que a produção interna diminui para permitir a recomposição do rebanho, os Estados Unidos deverão recorrer às importações para atender ao consumo doméstico.”
Ao mesmo tempo, a evolução dos fluxos de exportação está redefinindo os destinos da carne bovina australiana no exterior.
Novos dados do Departamento de Agricultura, Pesca e Silvicultura da Austrália mostram que o volume total exportado de carne bovina australiana cresceu para quase 1,3 milhão de toneladas até outubro, um aumento superior a 15% em relação ao mesmo período do ano anterior. Entre os destinos, o Japão superou a China como o segundo maior mercado da Austrália, importando cerca de 25 mil toneladas apenas em novembro de 2025, o que representa um acréscimo de 5 mil toneladas no acumulado do ano em comparação ao mesmo período do ano anterior.
“O retorno do Japão à segunda posição reflete uma demanda diversificada em toda a Ásia, o que oferece um importante amortecedor contra a volatilidade e reduz a dependência excessiva de um único mercado de exportação”, disse McMaster.
As projeções indicam que o consumo global elevado continuará exercendo pressão positiva sobre os preços.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) preveem que o consumo mundial de carne bovina aumentará 13% até 2034, impulsionado pelo crescimento populacional e da renda. Os mercados da Ásia e do Oriente Médio devem ser os principais responsáveis por esse avanço, com o consumo projetado crescendo mais de 0,6 kg per capita por ano.
Indicadores de crédito na Austrália também apontam para confiança no setor. Dados do relatório Banking in Agribusiness, recentemente divulgado pela Australian Banking Association, mostram que a indústria da carne bovina é o segundo maior segmento de crédito agrícola do país e apresenta o menor índice de inadimplência.
“Os produtores estão alocando capital de forma eficiente e mantendo forte disciplina financeira. O baixo nível de inadimplência reflete tanto a solidez operacional quanto a confiança do mercado”, afirmou McMaster.
Os valores das terras de pastagem seguem se destacando, com o índice de preços de terras agrícolas do ABARES indicando que o preço médio nacional da terra agrícola subiu para AU$ 9.401 por hectare em 2024 (cerca de US$ 6.200/ha).
“Propriedades de pastagem produtivas seguem entregando resultados sólidos, apoiadas pelos fundamentos das commodities e por uma demanda estrutural de longo prazo pela carne bovina australiana”, concluiu Holgar.
Fonte: Beef Central, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.