As revisões feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) nos dados da economia em 2020, com a elevação de 2% para 3,8% no cálculos do avanço da agropecuária, forçaram uma mudança drástica nas previsões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) para o campo neste ano. As estimativas saíram de aumento de 1,2% em 2021 no PIB agropecuário para uma redução de 1,2%.
A queda da produção de bovinos no terceiro trimestre e as reduções nas estimativas das colheitas de milho, cana-de-açúcar e laranja também puxaram o número para baixo. Segundo o Ipea, a revisão feita pelo IBGE elevou a base de comparação para a estimativa atual, o que ajuda a explicar a reversão do quadro econômico para o setor.
Para 2022, a previsão do Ipea é que o PIB agropecuário crescerá 2,8%. A estimativa, ainda que positiva, é mais tímida que a divulgada anteriormente pelo instituto, de avanço de 3,4% no ano que vem. Os principais motivos para o crescimento da economia do setor são o aumento da produção de bovino, após dois anos consecutivos de quedas, nova alta estimada para a suinocultura e a expectativa de forte recuperação na produtividade e colheita do milho, depois das quebras em 2021 decorrentes dos efeitos climáticos.
De acordo com o Ipea, o desempenho do setor no terceiro trimestre de 2021 apresentou forte queda e levou o resultado acumulado do ano para redução de 0,1%. A produção vegetal teve a maior queda nas previsões para 2021. Saiu de um crescimento de 1,2% para recuo de 2,6%. Para a produção animal, a nova estimativa é de redução de 0,7%, ante avanço de 1,2% projetado anteriormente.
Culturas sazonalmente importantes para o período apresentaram baixas elevadas, acima de 10%, como milho, café e algodão. As novidades negativas foram a piora no cenário para as culturas de cana-de-açúcar e laranja, impactadas pela crise hídrica.
O setor de proteína animal também sofreu retração. As produções de bovinos e leite recuaram 8,9% e 4,9%, respectivamente, nos três meses analisados. “O embargo da China às exportações de carne bovina impactou fortemente a produção de bovinos no terceiro trimestre, servindo como um desincentivo ao abate. O quarto trimestre também deve sofrer com esse impacto, mas de maneira mais atenuada”, diz a Carta de Conjuntura do Ipea, divulgada hoje.
Segundo o instituto, o redirecionamento de remessas de carne bovina, impedidas de serem exportadas à China, para o mercado interno deve ser menor à medida que boa parte desse estoque já deve ter sido absorvido internamente. Mas por conta do peso do país asiático, que só reabriu ontem o mercado para as exportações do produto brasileiro, “o efeito sobre o abate ainda deve ser significativo”.
O fechamento do ano ainda pode trazer recuos na produção de algumas culturas, como cana, laranja e milho, e impactar o resultado final do PIB agropecuário de 2021. Nas carnes, a expectativa é com a retomada das vendas para a China e a possibilidade de reversão de parte da queda esperada, caso haja tempo hábil para aumentar o abate com esse destino na última quinzena do ano.
Para 2022, algumas preocupações persistem, diz o Ipea. Mesmo com a bienalidade positiva, as lavouras de café devem sofrer os efeitos da geada deste ano. O clima também ligou o alerta dos produtores gaúchos de soja e milho, que já enfrentam estiagem em algumas regiões. O instituto diz, no entanto, que é cedo para prever o impacto final na produção e que, no geral, a semeadura da safra ocorreu de maneira positiva no país e os plantios de grãos apresentam boas condições.
O Ipea ainda prevê um ano de recuperação do abate e manutenção da demanda aquecida doméstica e externa para a produção animal, com a normalização das exportações para a China. O ponto de alerta neste caso é a elevação dos custos de logística e produtivos, com a mudança de patamar do preço da ração animal e outros insumos de manejo.
Fonte: Valor Econômico.