Irrigar é diferente de molhar o pasto. O manejo adequado da irrigação exige conhecimentos sobre o consumo e a necessidade de água das plantas.
Irrigar é diferente de molhar o pasto. O manejo adequado da irrigação exige conhecimentos sobre o consumo e a necessidade de água das plantas. A água é um dos principais fatores que limitam o desenvolvimento das plantas. No Brasil, grandes áreas de pastagem estão localizadas em regiões sujeitas a períodos de estresse por deficiência hídrica.
Conhecer o comportamento das plantas forrageiras em condições de estresse por déficit hídrico possibilita a adoção de práticas de manejo que melhorem a utilização do pasto, sem desperdiçar recursos naturais importantes para a humanidade.
Voltam et al. (2006) avaliaram a resposta do capim-tanzânia ao estresse hídrico na fase de estabelecimento. O experimento foi conduzido em casa-de-vegetação na Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos-SP. Foram avaliados três níveis de disponibilidade de água (100, 60 e 30% do total de água disponível do solo) e três períodos de estresse (5, 10 e 15 dias) em uma delineamento em blocos completos ao acaso com arranjo fatorial e três repetições.
Durante o período de estabelecimento, todos os vasos foram irrigados de modo a atingir a capacidade de campo. A disponibilidade de água no solo foi monitorada diariamente por meio da pesagem dos vasos e da reposição de água, quando necessária. Os níveis de 60 e 30% de disponibilidade de água só foram atingidos aos 5 e 10 dias após o início dos tratamentos, respectivamente. No momento das coletas, feitas no quinto, décimo e décimo quinto dias após o início do período de estresse, foi determinada a massa seca de folhas, hastes e raízes.
Uma vez que os níveis de estresse propostos só foram atingidos após a primeira coleta, os autores não observaram efeito dos tratamentos sobre as variáveis analisadas na coleta realizada aos cinco dias de estresse (Voltam et al., 2006; Tabela 1).
Na segunda coleta (10 dias de estresse), a massa seca da planta inteira foi menor no tratamento com 30% de disponibilidade de água em relação aos demais tratamentos. Houve, principalmente, redução do desenvolvimento da parte aérea (Voltam et al., 2006; Tabela 1). Aos 10 dias de estresse, a redução relativa de massa seca do tratamento com 30% de reposição hídrica foi de 61,6% para folhas, 36,5% para hastes, 44,0% para raízes e 48,0% para a planta inteira. Esse resultado indica uma possível tolerância do capim-tanzânia a períodos curtos de estresse moderado (60% de água disponível no solo). A redução da massa seca de folhas no tratamento com 30% de reposição hídrica mostra um mecanismo de preservação da planta por meio da diminuição do consumo de água.
Na última coleta (15 dias de estresse) evidenciou-se a diferença de produção de massa seca da planta inteira, de folhas, de hastes e de raízes, que foi maior para a testemunha em relação aos tratamentos com estresse hídrico (Voltam et al., 2006; Tabela 1). A redução relativa de massa seca do tratamento com 30% de reposição hídrica foi de 92,5% para folhas, 90,7% para hastes, 79% para raízes e 85,8% para a planta inteira. Comparando-se esses resultados aos obtidos na segunda coleta (10 dias de estresse) observa-se que a planta diminui, primeiramente, a produção de folhas, e, depois, de hastes e raízes.
Tabela 1: Produção de matéria seca.
Comentário dos autores
A simples aplicação de água no pasto não pode ser considerada como irrigação. Irrigar pastagens requer técnica e conhecimento. A definição da freqüência e da lâmina de irrigação dependem da necessidade e do consumo de água das plantas. O trabalho de Voltam et al. (2006) mostra que a reposição de água em áreas de implantação de capim-tanzânia irrigado deve ser feita quando a umidade do solo atingir 60% do armazenamento total.
É importante observar, no entanto, que para garantir a germinação e o desenvolvimento inicial das plantas, deve-se manter úmida a camada superficial do solo (até 3 a 5 cm), uma vez que as sementes estão localizadas nesta faixa e que o sistema radicular inicial não é capaz de explorar o solo em profundidade.
Autor: Fernando Campos Mendonça
Referência bibliográfica
VOLTAM, F.S.; LIMA, M.C.Q.de; GALLO, M.P.C.; MENDONÇA, F.C.; SANTOS, P.M. Comportamento de Panicum maximum cv. Tanzânia sob diferentes graus de estresse hídrico (compact disc). Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 43. 2006. João Pessoa-PB. 2006.