Durante a Feicorte 2010, Miguel da Rocha Cavalcanti conversou com Ivens Domingos, técnico da WWF-Brasil, sobre as ações da entidade e sobre a relação entre pecuária e sustentabilidade.
Durante a Feicorte 2010, Miguel da Rocha Cavalcanti conversou com Ivens Domingos, técnico da WWF-Brasil, sobre as ações da entidade e sobre a relação entre pecuária e sustentabilidade.
“Em 2004 o WWF-Brasil iniciou um trabalho com o tema pecuária no Pantanal para incentivar e apoiar uma ação de pecuaristas pantaneiros que acharam na pecuária orgânica certificada uma forma de agregar valor ao seu produto e valorizar o homem pantaneiro, que já vinha trabalhando com uma pecuária tradicional há mais 250 anos”.
“A partir de 2007, quando começaram a surgir os primeiros relatórios de algumas organizações, onde o assunto pecuária passou a estar mais vinculado à questão ambiental, também tomou-se uma decisão dentro do WWF-Brasil para iniciar um acompanhamento da pecuária nacional e decidir como nós estaríamos ligados a esses temas. Tudo isso baseado na experiência que nós tínhamos no Pantanal. A questão era como nós teríamos uma discussão, onde a gente conseguiria apoiar e influenciar critérios sócio-ambientais na produção de carne, mas nunca esquecendo ou perdendo a questão comercial ou de ganho do produtor”.
“A questão é como trabalhar com o setor produtivo, que é super importante para a economia brasileira, valorizando aquelas pessoas que trabalham com critérios, que tem planejamento e preocupação com as questões sócio-ambientais e desmitificando que uma ONG ambientalista é contra a produção”.
“Nós não somos contra produção. O ponto não é não produzir, mas como produzir”.
“Nós estamos finalizando um posicionamento da WWF-Brasil, de como nós enxergamos a cadeia da pecuária como um todo, como a gente atua e quais as linhas que a gente recomenda. Mas estamos trabalhando muito forte em cima do que é essa pecuária sustentável”.
“Essa é uma discussão de multi atores, por isso estamos participando e apoiando o Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável”.
“De maneira geral podemos dizer que somos contra a pecuária dentro de unidades de conservação, dentro de terras indígenas, baseada em trabalho escravo e em trabalho infantil, desmatamento ilegal. A gente enxerga que muitas vezes alguns acabam desvalorizando e comprometendo todo setor por esse tipo de ação. As pessoas acabam pegando essas situações como se fosse a realidade de toda a cadeia. O WWF-Brasil é contra essas ações ilegais e a favor de uma pecuária baseada em boas práticas produtivas”.
“Muitos produtores brasileiros fazem isso, e muitas vezes essas boas práticas ajudam a aumentar a produtividade e reduzir custos”.
“A gente tem tentado realizar um discussão qualificada, com instituições de pesquisa, consultores e produtores, discutindo essas boas práticas e buscando novas ações que podem ser implantadas para desenvolver uma atividade melhor, que vá além da legislação, que vá além dos protocolos já existentes”.
“No final do ano passado discutimos as boas práticas para a pecuária bovina no cerrado e pantanal junto com a Acrimat, Famato, Famasul, Associação de Pecuária Orgância e Embrapa. Dessa discussão saíram 16 práticas, inclusive com graus de priorização, de consenso desse setor, que antes eram ditos como antagônicos e o WWF agiu como catalizador desse processo e ajudando nessa discussão técnica”.
“Dessas ações vamos criar uma cartilha. Esse é o nosso papel, trabalhar como catalizador e facilitador, para uma pecuária que caminhe para esse diferencial da pecuária brasileira, que é o boi a pasto. Mas agir com critérios e sempre com uma discussão técnica”.
“Isso ajuda também na competitividade da pecuária brasileira, pois cada vez mais a sustentabilidade e a emissão de gases de efeito estufa está sendo usada pelos concorrentes brasileiros”.
“O setor não pode tampar o sol com a peneira, os problemas existem. A Amazônia, por exemplo, é um ponto muito crítico e muito visado pelo mundo para criticar o setor”.
“Para o setor está faltando divulgar as coisas boas e buscar parcerias com ONGs e outros setores”.
“É preciso punir aqueles que fazem errado, mas também é necessário achar caminhos e valorizar aqueles que querem agir de uma maneira melhor”.
“Eu gostaria de elogiar o BeefPoint pela realização do Workshop de Pecuária Sustentável no ano passado e também pelo Workshop de Associações de Pecuaristas, pois a partir desse movimento já está sendo criado um grupo para troca de experiências, inclusive no tema da sustentabilidade. Conversando com alguns membros de associações já vemos a intenção deles participarem também do Grupo de Trabalho de Pecuária Sustentável. O papel do BeefPoint nesse sentido é super importante”.
O desenvolvimento deste projeto só foi possível graças ao apoio da Allflex, In Vitro Brasil e Pioneer Sementes, que confiaram no trabalho da Equipe BeefPoint e viabilizaram a produção das entrevistas gravadas na Feicorte 2010.