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Janeiro foi o pior mês dos últimos anos para os exportadores brasileiros

Em janeiro as exportações brasileiras de carne bovina in natura atingiram o volume de 56.600 toneladas e receita de US$ 168,5 milhões. Este volume o mais baixos desde fevereiro de 2004 - quando o Brasil enviou 54.201 toneladas ao exterior.

Em janeiro as exportações brasileiras de carne bovina in natura atingiram o volume de 56.600 toneladas. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), nos 21 dias úteis do mês, a receita com as vendas deste produto no mercado internacional foi de US$ 168,5 milhões.

Tabela 1. Exportações Brasileiras de carne bovina in natura

Este volume foi um dos mais baixos dos últimos anos, desde fevereiro de 2004 – quando o Brasil enviou 54.201 toneladas ao exterior – não exportávamos tão pouco. Em relação ao período anterior (dezembro), o volume de carne bovina in natura embarcado recuou 8%. Quando comparamos os resultados do mês passado com o mesmo período de 2008 temos uma retração de 38,41% no volume exportado.

A receita apresentou variações ainda maiores em janeiro, já que além do recuo no volume embarcado também sofreu influencia de reduções nos preços negociados. O valor registrado no mês passado é 21,38% inferior ao de dezembro de 2008 e 53,80% menor do que o realizado no mesmo período do ano passado (janeiro de 2008).

Vale lembrar que em janeiro de 2008 as exportações foram recordes com grande volume sendo enviado para a Europa, pois sentindo que o bloco iria aumentar as exigências para a importação do produto brasileiro, os compradores europeus aumentaram o número de negócios na tentativa de aumentar seus estoques.

Gráfico 1. Exportações brasileiras de carne bovina in natura, receita e volume

Desde novembro de 2008 estamos notando uma forte retração nos números da exportação de carne bovina in natura, que pode ser atribuído a reflexos da crise mundial nos países importadores. Esses problemas foram sentidos fortemente na Rússia – principal comprador da carne bovina brasileira. No editorial, “Crise, Rússia e as exportações brasileiras em 2009“, publicado no BeefPoint em janeiro, Miguel da Rocha Cavalcanti enumera alguns pontos que devemos levar em consideração:

“Crédito fácil, exportações para os EUA e aumento do preço e demanda das commodities são as principais explicações para o boom dos emergentes nos últimos anos. Todos esses três pontos estão hoje mais fracos.

No entanto, o impacto da crise vai depender de outros fatores, relacionados aos três itens acima como: capacidade poupança, já que não há mais crédito abundante, e capacidade de estimular consumo e crescimento interno, uma vez que as exportações devem cair. O impacto será diferente de acordo com cada país.”

Esses pontos afetam diretamente o maior comprador do nosso produto. Sendo o maior produtor de petróleo do mundo e o segundo maior exportador, a queda dos preços dessa commodity afeta fortemente a Rússia. Além disso, há outros problemas que pioram a situação da economia, apesar do crescimento ter sido vigoroso nos últimos anos.

“A distribuição de renda, ao contrário do Brasil, está piorando. A corrupção se tornou endêmica, quase o padrão. O país depende de investimentos externos. O governo é totalitário e influencia nos negócios e empresas, de forma que desestimula o empreendedorismo e meritocracia. A população está em queda, o número de nascimentos por 1000 habitantes cai e a expectativa de vida hoje é menor do que em 1962, apesar de ter melhorado em relação ao ano 2000” ressalta Cavalcanti.

Além da queda no consumo, e diretamente ligado às exportações, existe a escassez de crédito, que como acontece no mundo todo também afetou os russos. Aqui no Brasil, o que preocupa são as liberações de ACCs (Adiantamento sobre Contrato de Câmbio) linha de crédito utilizada pelos exportadores para financiar suas operações. O diretor-executivo da Abiec, Otávio Cançado, explica “com a crise, o financiamento via ACC continua muito mais caro e seletivo”.

Em dezembro do ano passado, os importadores russos compraram apenas 10.703 toneladas de carne bovina in natura – 66,82% menos que o volume embarcado no mesmo período de 2007 (32.260 toneladas) -, que rendaram US$ 27,93 milhões – receita 68,97% inferior à registrada em dezembro de 2007.

Giuliano Fontolan, médico veterinário e gerente de exportação do frigorifico Bon Mart, acredita que além dos problemas de crédito, a queda nas exportações também está ligada a uma redução na demanda ou substituição da carne bovina por proteínas mais baratas, nos países importadores. “Além da falta de crédito ocorreram grandes desvalorizações das moedas internacionais como, por exemplo, na Rússia com o Rublo ou na Argélia com o Dinar, com isso o poder aquisitivo dos consumidores diminuiu bastante resultando em uma diminuição em gastos com restaurantes e também substituição da carne bovina por opções mais econômicas” ressalta Fontolan.

Gráfico 2. Exportações brasileiras de carne bovina in natura para a Rússia

O preço médio da carne bovina in natura exportada também recuou. Em janeiro este valor ficou em US$ 2.977/tonelada. Em relação à média de 2008 (US$ 3.889/tonelada), o valor registrado no mês passado é 23,45% menor. Quando comparado ao valor médio recorde, atingido em outubro do ano passado (US$ 4.417/ton), a retração acumulada é de 32,61%.

Gráfico 3. Preço médio da carne bovina in natura exportada

Apesar da desvalorização do Real frente ao Dólar estar favorecendo os frigoríficos exportadores, aumentando sua competitividade no mercado internacional e sua receita em reais, o recuo nos valores do mercado internacional diminuíram a capacidade de compra de matéria-prima dos frigoríficos.

Mesmo que a venda em Dólares gere um volume maior de Reais, como exemplificou Roberto Russo, presidente do Independência, em entrevista da Gazeta Mercantil, “uma venda de US$ 1 mil, antes rendia R$ 1,6 mil. Agora, são R$ 2,3 mil”, a desvalorização da carne exportada foi maior. Assim a relação de troca arrobas por tonelada de carne exportada piorou em janeiro passado, ficando em 81,66 @/tonelada. Essa relação de troca nos dá uma idéia de quantas arrobas de boi gordo foi possível adquirir com o valor de uma tonelada de carne vendida no mercado internacional. Esta relação já vinha caindo desde outubro de 2008, mas a queda se acentuou no último mês, registrando um variação negativa de 19,37% em relação a dezembro.

O gerente de exportação do Bon Mart comenta que apesar da desvalorização do Real, os frigoríficos exportadores estão enfrentando dificuldades graças a retração nos preços da carne no mercado internacional. “Em 2008 tivemos momentos em que nosso boi se tornou o mais caro do mundo, entre países exportadores, devido à falta de oferta e apreciação do real. Na época, com o Dólar a R$1,60 chegamos a fechar contratos de dianteiro a U$ 4150 por tonelada, posteriormente a isso com a chegada dos efeitos da crise tivemos problemas em diversos países, principalmente na Rússia, ao mesmo tempo o Real se desvalorizou. O mercado ficou extremamente especulado com cancelamentos de contratos, devolução de mercadorias, importadores em serias dificuldades de crédito, o mercado entrou em colapso, e o preço da carne despencou assim como a maioria das commodities. No final de novembro início de dezembro algumas empresas chegaram a fechar contratos de dianteiro até por U$ 2200 por tonelada, em aproximadamente quatro meses o preço do dianteiro caiu U$1950 por tonelada”, explica Giuliano Fontolan.

Gráfico 4. Relação de troca arrobas por tonelada de carne in natura exportada

Apesar dos péssimos resultados, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) vê indícios de uma recuperação dos embarques.

O diretor-executivo da Abiec, Otávio Cançado, comenta que a queda drástica nas exportações em relação aos melhores meses de 2008 pode ser explicada também por porque buscaram queimar estoques. “Estoque também é custo. Ele (importador) precisa de financiamento e começou a queimar estoques.”

Justamente pelo fato dos estoques estarem sendo reduzidos nos países importadores, a Abiec já começou a notar uma ligeira recuperação das exportações brasileiras. Apesar do resultado geral ruim em janeiro, a associação registrou um aumento nas vendas para a Rússia.

Fontolan, do Bom Mart, tem o mesmo sentimento e expectativa do diretor da Abiec. “Neste mês de fevereiro já podemos observar uma recuperação nas exportações de carne, acreditamos que o mercado irá se recuperar lentamente nos próximos meses e esperamos um segundo semestre melhor; mas sabemos que 2009 será um ano de desafios para as exportações devido à crise global, o cenário dependerá de como e quando as economias globais irão se recuperar”.

0 Comments

  1. Phillipe Mafra Batista disse:

    Excelente matéria!