O primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi, chega ao Brasil nesta semana e pode dar partida às negociações de um acordo de livre comércio entre os dois países. O Brasil está no topo da lista de países prioritários para acordos comerciais, segundo informou reportagem de primeira página do jornal japonês Nikkei Shinbum, citando documentos governamentais. Depois de sua visita ao Brasil, Koizumi segue para o México, onde reúne-se com o presidente Vicente Fox no dia 17 para assinar um acordo de livre comércio.
“No momento, estamos assinando o acordo com o México e finalizando discussões com Tailândia, Filipinas, Malásia e Coréia. Nossa meta é fechar um acordo comercial com o Brasil já no ano que vem”, disse Hiromitsu Sugawara, vice-diretor do escritório de Comércio com a América Latina do Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão. “Não queremos perder competitividade no Brasil, já que o País pode assinar acordos com a União Européia e Alca”.
Segundo o Nikkei Shinbum, o documento do governo aponta um acordo com o Brasil como estratégico, por causa do tamanho do mercado brasileiro e do potencial para se transformar em um grande fornecedor de commodities. Além do Brasil, Índia e China devem ser abordados posteriormente.
Koizumi vem ao Brasil acompanhado de uma delegação de empresários da Nippon Keidanren, a Federação das Empresas do Japão. De acordo com o Nikkei, é um fato muito incomum empresários acompanharem Koizumi em missões ao exterior e isso seria mais uma prova do grande interesse do governo em fechar o acordo com o Brasil. “As nossas prioridades são redução das tarifas sobre automóveis, máquinas e eletroeletrônicos, além da abertura das compras governamentais”, informou Satoshi Tsuzukibashi, vice-diretor da área internacional da Nippon Keidanren.
Em troca, o Japão estaria disposto a fazer concessões na área agrícola, semelhantes às que fez para o México. O Japão abriu seu mercado ou diminuiu tarifas para a importação de frango, carne bovina, carne suína, laranja e suco de laranja do México. Já o México reduziu tarifas de importação para aço e automóveis japoneses, além de concordar em abrir as concorrências de compras governamentais para empresas japonesas.
“Os dois acordos podem ser bem parecidos porque as demandas são semelhantes”, disse Tsuzukibashi. De acordo com ele, o México, como o Brasil, não podia exportar carne bovina para o Japão por razões sanitárias, por causa da febre aftosa. Mas essa questão foi resolvida.
China
Os japoneses se ressentem da pouca atenção que vêm recebendo do Brasil. Em julho, oficiais do ministério japonês estiveram em Brasília, mas não conseguiram se reunir com os brasileiros para discutir os temas de um eventual acordo. “Ainda não conseguimos falar sobre esse assunto com membros do governo Lula. Se o governo brasileiro tivesse feito uma missão ao Japão, em vez da China”.
Em seu relatório, a Keidanren aponta que “a China está se aproximando ativamente do Brasil para assegurar o suprimento de recursos naturais e houve uma evolução significativa nas relações entre os dois países nos últimos anos”.
O documento destaca que as exportações brasileiras para a China ultrapassaram as vendas para o Japão em 2002. “Com os olhos no futuro, a China está se engajando ativamente em comércio e investimentos no Brasil, para assegurar o suprimento de recursos naturais, e é essencial que o Japão recorra às medidas necessárias para fortalecer a relação com o Brasil”. O documento também destaca a importância do Brasil por causa do tamanho do mercado, além de ser a maior comunidade japonesa fora do Japão.
Membros da Keidanren vêm se reunindo com a Confederação Nacional da Indústria para debater a importância de um acordo e já elaboraram dois relatórios. O relatório japonês foi encaminhado ao ministério.
O comércio entre o Brasil e o Japão chegou ao auge nos anos 70 e desde então vem caindo. O intercâmbio comercial com o Brasil ficou em US$ 4,7 bilhões em 2003. Nos anos 90, 8% das exportações brasileiras eram destinadas ao Japão. Em 2003, foram apenas 3,2%.
Enquanto isso, o comércio brasileiro com outros países da região, principalmente a China, vem crescendo. Nos anos 80, o Japão respondia por 60% do comércio brasileiro com a Ásia. Hoje, o país representa menos de 30%.
Fonte: O Estado de S.Paulo (por Patrícia Campos Mello), adaptado por Equipe BeefPoint