Síntese Agropecuária BM&F – 29/12/03
29 de dezembro de 2003
Austrália disputa mercado de carne bovina no Japão
31 de dezembro de 2003

Japão mantém veto à carne bovina dos EUA; Rússia pode optar por produto brasileiro

O Japão endureceu as negociações com o governo norte-americano com relação ao fim do embargo às importações de carne bovina, após o primeiro registro da “vaca louca” nos Estados Unidos. Os japoneses exigem que sejam adotadas medidas mais rigorosas que garantam que a carne está livre da Encefalopatia Espongiforne Bovina (EEB), entre elas uma inspeção mais cuidadosa de cada rebanho.

Funcionários americanos reuniram-se em Tóquio com colegas japoneses para pressionar o Japão a abrandar a proibição imposta às importações de carne bovina no valor de US$ 1,8 bilhão por ano. Em janeiro, o Japão enviará inspetores aos EUA a fim de avaliar se as medidas adotadas são suficientes, disse um funcionário do Ministério da Agricultura do Japão.

O Japão, maior importador de carne bovina dos EUA, tem um dos programas mais rigorosos de testes contra a doença da “vaca louca” em todo o mundo, depois que o primeiro de nove animais infectados foi descoberto em seus rebanhos, há dois anos. O país também proibiu as importações de carne bovina do Canadá durante mais de sete meses, desde o único caso da doença registrado na província de Alberta. Agora, o Japão realiza inspeções em todo o seu gado, segundo o Ministério.

“É muito cedo para o governo japonês aceitar a proposta de revogar a proibição”, disse Ken Yamaguchi, funcionário da divisão de carne bovina da Mitsubishi em Tóquio. “O governo do Japão precisa de investigações mais profundas, o que exigirá mais tempo. Esta é uma questão muito difícil e sensível para o país”.

Outros países

Mais de outros 20 países suspenderam as importações da carne na semana passada, quando os Estados Unidos informaram que os testes feitos em uma vaca da raça Holandesa, abatida a 9 de dezembro, confirmaram que o animal tinha a doença relacionada à variante humana fatal. Em 2002, o Japão adquiriu quase um terço das exportações de carne bovina produzida nos EUA.

David Hegwood, assessor especial da secretária da Agricultura, Ann Veneman, chefiou a equipe de funcionários americanos que tentaram exercer pressões a fim de conseguir um abrandamento da proibição japonesa.

“Será muito difícil obter alguma coisa”, disse Dean Cliver, professor de segurança dos alimentos na Universidade da Califórnia em Davis, que fez parte de uma comissão que assessorou o governo americano na questão da doença da “vaca louca”.

O presidente dos EUA, George W. Bush, endossará novas garantias para os consumidores de carne, incluindo, possivelmente, vetar mais partes de vaca para a produção de carne moída.

Rússia

A decisão da Rússia de suspender as importações de carne bovina dos Estados Unidos pode obrigar o governo russo a rever o sistema de cotas para importação em 2004. A avaliação é do presidente do Fórum Nacional de Pecuária de Corte da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Antenor Nogueira.

Depois de confirmado o caso de EEB nos EUA, o governo russo suspendeu as compras de carne americana.

Para 2004, a Rússia fixou cota máxima de 447,2 mil toneladas para importação de carne bovina. Desse total, os americanos têm direito a exportar 17,2 mil toneladas. O Brasil foi incluído na categoria de “outros países”, o que significa que terá de disputar com outros fornecedores uma cota de 68 mil toneladas. “Sem poder comprar dos Estados Unidos, a Rússia terá de distribuir a cota americana para outro país e o Brasil é o único que pode suprir essa demanda”, afirmou Nogueira.

Ele lembrou que problemas climáticos dificultam as exportações da Austrália, país que perdeu para o Brasil em 2003 o posto de maior exportador mundial de carne bovina. Nogueira lembrou que, para abastecer seu mercado interno, a Rússia precisa importar 700 mil toneladas de carne bovina por ano.

O dirigente da CNA ressaltou, ainda, que o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, convocou uma reunião com o setor para avaliar os impactos comerciais do registro da “vaca louca” nos Estados Unidos. A reunião acontecerá na segunda-feira (05), às 16 horas, no Ministério.

Outras carnes

O primeiro caso da doença da “vaca louca” nos Estados Unidos estimulará o consumo de carne de frango e suíno. Os exportadores brasileiros de frango prevêem aumentar os embarques em 2004. As ações da Bunge, que controla a Seara, subiram 25%; as da Perdigão, 23%; e as da Sadia, 11% em dezembro.

Na avaliação do diretor-executivo da Abef (Associação Brasileira dos Exportadores de Frango), Cláudio Martins, em um momento como este, o consumidor tende a rejeitar a carne bovina. “A primeira opção passa a ser o frango”, afirmou.

Para Martins, o ideal é que o País mantenha firme sua posição na questão sanitária, para evitar problemas como os que ocorrem com demais países. “Levamos o assunto para o presidente Lula”, disse, ao ressaltar ser de suma importância que o orçamento do Ministério da Agricultura nestes quesitos de sanidade não sejam diminuídos.

Segundo José Olavo Borges Mendes, presidente da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu), “há mais pontos positivos que negativos na notícia”. Pelo lado negativo, está a possível queda do consumo da carne bovina, que poderá ocorrer em várias partes do mundo, mas o Brasil poderá atrair para si a atenção de importantes compradores, como Japão e Estados Unidos”, afirmou.

Veto brasileiro

O Ministério da Agricultura suspendeu por tempo indeterminado a importação de ruminantes, seus produtos e subprodutos procedentes dos EUA em razão do diagnóstico da “vaca louca”, naquele país.

Segundo fontes do governo federal, as eventuais licenças de importação já concedidas estão canceladas. As partidas desses produtos que chegarem aos portos e aeroportos brasileiros serão devolvidas à origem ou queimadas.

Fonte: Gazeta Mercantil (com Bloomberg News, Dow Jones Newswires e Paulo Soares) e O Estado de S. Paulo (por Fabíola Salvador), adaptado por equipe BeefPoint

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