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1 de junho de 2009

JBS: apresentação dos resultados desagrada investidores

O balanço do frigorífico JBS Friboi do primeiro trimestre está gerando repercussões no mercado. Porém, os comentários são sobre o que falta no demonstrativo de resultado. A companhia, a maior de carne bovina do mundo, fez um empréstimo de US$ 200 milhões a uma empresa do controlador, de confinamento de bovinos, mas não forneceu explicações sobre o tema.

O balanço do frigorífico JBS Friboi do primeiro trimestre está gerando repercussões no mercado. Porém, os comentários são sobre o que falta no demonstrativo de resultado. A companhia, a maior de carne bovina do mundo, fez um empréstimo de US$ 200 milhões a uma empresa do controlador, de confinamento de bovinos, mas não forneceu explicações sobre o tema.

A questão só foi notada porque a conta de créditos com partes relacionadas (pessoas ou empresas ligadas ao grupo) do balanço patrimonial subiu de R$ 54,6 milhões para R$ 455,9 milhões, entre dezembro de 2008 e março deste ano.

A despeito de expressivo aumento de 735%, a JBS não faz nenhuma menção ao tema nos comentários de resultados e nem mesmo nas notas explicativas. Tanto as regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) como as do Novo Mercado exigem o detalhamento desse tipo de operação, conhecido como contrato com partes relacionadas.

Consultada ontem à tarde, a empresa forneceu comunicado a respeito do mútuo e suas condições. No entanto, não esclareceu os questionamentos a respeito da decisão de não detalhar as informações em seu balanço no Brasil, relativo ao primeiro trimestre.

O assunto só surgiu no mercado porque investidores e analistas interessados questionaram a empresa sobre a alta expressiva na conta em questão. O tema vem gerando desconforto entre acionistas minoritários. Empréstimos entre companhias do mesmo grupo, conhecidos como mútuos, são tradicionalmente mal recebidos pelo mercado.

O caso em questão tem mais uma peculiaridade que acirra o debate: as condições do empréstimo. A concessão de recursos foi feita a Libor mais 2,5%, (pouco mais de 4%), condição melhor do que a própria JBS conseguiu recentemente numa emissão de bônus com vencimento em 2014 – obteve US$ 700 milhões pagando um rendimento de 13% aos emprestadores.

O empréstimo da JBS foi feito pela subsidiária americana por um prazo de três anos à companhia J&F Oklahoma, uma sociedade de propósitos específicos ligada ao controlador e que é dona dos animais engordados nos Estados Unidos. Essa companhia ficou com o gado que era da empresa americana Five Rivers, adquirida no ano passado pela JBS. No entanto, a Five Rivers continuou responsável pela engorda do boi.

Essa estratégia de separação de ativos teve como objetivo preservar o balanço da JBS Friboi já que a atividade de engorda é de capital intensivo e poderia contaminar a situação financeira da empresa aberta.

Os investidores compreenderam a opção da empresa. No entanto, ficaram descontentes com o mútuo e, especialmente, com a falta de transparência. Isso porque a companhia não optou por comunicar a questão voluntariamente, embora tenha esclarecido o assunto em riqueza de detalhes quando procurada por analistas e investidores.

Na tentativa de esclarecer a situação a JBS emitiu o seguinte comunicado:

Visão geral da JBS Five Rivers e da J&F Oklahoma

Aquisição do Confinamento Five Rivers

Quando a JBS adquiriu o Grupo Smithfield Beef em Outubro de 2008 a Companhia também adquiriu 100% de participação no Five Rivers CattleFeeding, uma operação de 10 confinamentos de gado na região centro-oeste dos Estados Unidos. Antes da aquisição, o Five Rivers era um negócio integrado que operava tanto como proprietário do gado como um “boitel”. A JBS analisou os benefícios e os desafios de manter esse modelo de negócio integrado sob posse da JBS USA.

Os principais benefícios identificados incluem:

1) O controle da JBS de um confinamento com capacidade de produzir/engordar 1,5 milhão de cabeças de gado por ano.
2) A JBS possuir um fornecimento contínuo de gado para suas plantas de processamento de carne a preços de mercado.
3) Proporcionar à Companhia a oportunidade de desenvolver programas customizados de alimentação de gado para certos clientes.

No entanto, há desafios potenciais identificados que incluem:

1) Lei do “Packer Ban” (restrição de integração vertical), em uma estância estadual e federal que criam restrições significativas sobre a posse de gado anterior ao abate por frigoríficos. Iowa é o único estado que aplica esse tipo de legislação atualmente. Entretanto, outros estados já aplicaram o “Packer Ban” no passado e uma proibição como essa é proposta durante a revisão da Federal Farm Bill (legislação agrícola americana) todo ano.
2) Uma vez que o ciclo do confinamento é de em média 3 a 5 meses, é necessário tomar linhas de capital de giro para a compra de centenas de milhares de gado.

Divisão de participações

A JBS decidiu explorar uma estrutura alternativa de participação que permitiria à Companhia manter a maioria dos benefícios e ao mesmo tempo evitar os desafios mencionados acima. A JBS tomou uma decisão estratégica com a J&F Oklahoma (“J&F”), para dividir a sua participação no negócio JBS Five Rivers tendo a J&F a posse do gado e a JBS USA a posse da operação de confinamento. A divisão resultou no seguinte:

A JBS Five Rivers, uma subsidiária da JBS USA, prestaria serviços em seus 10 confinamentos e cobraria dos donos do gado uma taxa diária por cabeça para engordar seu gado e cuidar do animal até que estejam prontos para o abate. Esta é uma operação de margem que segue condições normais do mercado.

A J&F Oklahoma Holdings possuiria até 800.000 de cabeças de gado em engorda. A J&F Oklahoma paga a JBS Five Rivers uma taxa diária baseada no mercado para cuidar e engordar seus animais.

Acordos chaves relacionados à divisão de participações

Visto que o confinamento de gado é de 3 a 5 meses, J&F Oklahoma carrega um pesado capital de giro que é financiado como segue:

Linhas de crédito bancário – J&F Oklahoma obteve uma linha de crédito (revolving) de US$ 600 milhões de 3 anos para financiar mais de 800.000 cabeças de gado em confinamento. O gado confinado é a garantia para esta linha de crédito.

Linha de credito – Como uma fonte adicional de financiamento, J&F Oklahoma também obteve uma linha de crédito (revolving) para 3 anos de US$200 milhões com a JBS Five Rivers que espelha os termos da linha de crédito bancário.

Há 2 acordos comerciais chaves através do negócio como conseqüência da divisão de participações:

Fornecimento de gado e acordo de alimentação – De acordo com este contrato, JBS Five Rivers engorda e se responsabiliza pelo gado pertencente à J&F Oklahoma. J&F Oklahoma paga a JBS Five Rivers os custos medicinais e de engorda, mais a taxa de aluguel em linha com os termos do mercado numa base diária por cabeça. Além disso, A J&F Oklahoma concorda em manter gado suficiente no confinamento da JBS Five Rivers, de forma que a utilização da capacidade mantenha-se acima de 85% todo o tempo.

Compra de gado e contrato de venda – De acordo com este contrato, J&F Oklahoma concorda em vender para JBS USA ao menos 500.000 cabeças de gado por ano, a partir de 2009 até 2011. O preço pago pela JBS USA é baseado nos preços do USDA e a escala de classificação de carcaça é idêntica à classificação utilizada por terceiros.

Benefícios adicionais da divisão de participações

Em adição aos benefícios mencionados acima, A JBS USA obtém os seguintes benefícios em seu relacionamento com a J&F Oklahoma:

1) JBS USA mantém um modelo de negócios como puro processador de carne bovina ou operador de margens, evitando o risco de possuir o gado.
2) JBS Five Rivers aproveita o relacionamento com um fornecedor de gado que é capaz de fornecer a maioria dos animais para seus confinamentos, minimizando a complexidade de localizar diversos pequenos fornecedores de gado.
3) JBS USA evita problemas potenciais relacionados a restrições de “Packer Ban”.
4) A Companhia evita tomar linhas de capital de giro significativas para adquirir o gado a ser confinado.

A Companhia incluirá em suas demonstrações financeiras trimestrais notas informativas sobre JBS Five Rivers e J&F Oklahoma.”

As informações são do Valor Econômico e da JBS S.A., resumidas e adaptadas pela Equipe BeefPoint.

0 Comments

  1. Emerson Figueira disse:

    Bem que poderíamos ter uma lei similar a essa do “Packer Ban” aqui no Brasil também.

  2. PAULO CÉSAR FERREIRA disse:

    JBS? Só falta cair, porque quebrada já está.

  3. walterlan rodrigues disse:

    A única coisa que eu digo é que Deus queira que tudo de certo, pois afinal o JBS é o maior do mundo. A resonsabilidade é muito grande e tem muita gente torcendo ao contrário. Como brasileiros vamos torcer pelo JBS.