A aprovação da Securities and Exchange Commission (SEC), o órgão que regula o mercado de capitais americano, para a listagem das ações da JBS nos Estados Unidos já era amplamente esperada pelo mercado. Ainda assim, o aval animou os investidores, a julgar pelo desempenho das ações da empresa na B3, que fecharam a sessão de hoje em alta de 6,38%. O desempenho adicionou R$ 6,3 bilhões ao valor de mercado da companhia.
No acumulado de 2025, a valorização das ações da JBS na bolsa alcança 30,41%. Com isso, o valor de mercado da companhia já subiu R$ 24,5 bilhões neste ano, alcançando R$ 105 bilhões.
A empresa anunciou ontem (22/4) que recebeu o aval da SEC para ter suas ações listadas na bolsa de Nova York. Com o sinal verde, o conselho de administração da JBS reuniu-se e convocou uma assembleia geral extraordinária para 23 de maio para que os acionistas minoritários votem sobre a dupla listagem, que permitirá a negociação de ações nos EUA e no Brasil.
A decisão, agora, está nas mãos dos minoritários, uma vez que os acionistas J&F e BNDESPar vão se abster na votação da assembleia. A expectativa da JBS é iniciar as negociações na bolsa americana a partir de junho deste ano.
Para a efetivação da dupla listagem, será criado um novo veículo de investimentos, a JBS Participações, que hoje é detido pelos irmãos Batista e que terá como subsidiária uma empresa registrada em Luxemburgo, a LuxCo.
A LuxCo receberá duas classes de ações (class A e class B) de uma empresa criada na Holanda, a JBS N.V., que por sua vez se tornará a nova controladora da JBS e será a empresa que terá as ações listadas na bolsa dos EUA.
A escolha por sediar essas empresas na Holanda e em Luxemburgo não foi por acaso. Caio Quintella, professor e advogado titular da Nader Quintella Advogados explica que, em geral, os dois países têm um regime de tributação muito benéfico, especialmente sobre dividendos e outros resultados recebidos por holdings estabelecidas nesses países, e quando são controladoras de empresas operacionais em jurisdições estrangeiras.
“Mas, muito além disso, a legislação societária, comercial e outros aspectos fiscais, modernos, pouco burocráticos e favoráveis ao empreendedor fazem desses países uma opção global quase unânime para sediar grupos empresariais transnacionais”, afirmou Quintella, que foi vice-presidente do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), ao Valor.
Na visão do Citi, a dupla listagem ajudará a empresa a destravar valor e diminuir a diferença de avaliação que existe em relação a concorrentes como a Tyson Foods.
Na mesma linha, a Genial Investimentos acredita que a JBS poderá acessar outros níveis de investidores após a listagem. “Entendemos que a listagem nos EUA viabiliza o acesso a fundos passivos e institucionais hoje restritos a ações listadas em mercados desenvolvidos, e pode conduzir a uma reprecificação estrutural, dado o múltiplo atual de 4,5 vezes EV/Ebitda (valor da empresa sobre geração de caixa) versus pares como Tyson (8,5 vezes)”, afirmou a Genial.
Além disso, Renata Cabral e Tiago Harduim, analistas do Citi, disseram em relatório que, após a listagem das ações nos Estados Unidos, a JBS será incluída no índice Russell 1000, com potencial elegibilidade para o S&P 500 após 12 meses, “abrindo caminho para um aumento significativo na liquidez das ações”.
De acordo com o Citi, para que uma empresa seja adicionada ao S&P 500 é necessário atender a diversos critérios, como ter sua listagem principal em uma grande bolsa dos EUA (como a Nyse ou a Nasdaq) com pelo menos 12 meses de histórico de negociação. A companhia também precisa de uma capitalização de mercado não ajustada de pelo menos US$ 20,5 bilhões, equivalentes a cerca de R$ 117 bilhões — atualmente a JBS já está nos R$ 105 bilhões em valor de mercado.
O Goldman Sachs destacou em relatório que tem recomendação de compra para as ações da JBS e que já previa uma reação positiva do mercado com o andamento do processo de listagem nos EUA. No entanto, a avaliação positiva vai além disso.
“Nossa tese de ações também considera a consistência da demanda global por proteínas, a singularidade do mix diversificado da JBS, sua forte geração de fluxo de caixa livre e alocação de capital, bem como um pagamento de dividendos convincente”, acrescentaram Thiago Bortoluci e Nicolas Sussmann, analistas do Goldman Sachs.
Fonte: Globo Rural.