A China é, de longe, o principal comprador de carne bovina argentina. Para lá vão nada menos que 75% das exportações locais desse produto, um movimento que gera US$ 3,6 bilhões (R$ 20 bilhões na cotação atual).
Liu Qiandong quer levar uma fatia desse negócio bilionário. Ele é um dos empresários chineses que mais cresceram nos últimos anos e que, segundo o último ranking da Forbes, acumulava uma fortuna de US$ 6,4 bilhões (R$ 35,6 bilhões) em 2024, o que atualmente o coloca na 554ª posição entre os homens mais ricos do mundo.
Qiandong (que também usa o nome Richard Liu) é proprietário da JD.com, a maior empresa de vendas online da China e uma das mais importantes do mundo, com 600 milhões de usuários ativos. Ele pretende usar essa plataforma para entrar nesse segmento e ampliar suas receitas.
A JD.com acaba de firmar um acordo estratégico com o Instituto de Promoção da Carne Bovina Argentina (IPCVA), um entendimento que permitirá que as carnes argentinas ampliem seu acesso ao gigante asiático.
Embora para os costumes argentinos a venda de carne por plataformas online ainda seja uma raridade, o fato é que, na China, esse é um dos canais que mais crescem — o mesmo ocorre com outros produtos frescos. Qiandong pretende aproveitar essa janela que começa a se abrir e sair na frente de um de seus concorrentes, a Tmall — outra grande empresa do mundo virtual, que também vem se fortalecendo no segmento de produtos frescos.
Filho de trabalhadores de minas de carvão, sociólogo e fanático por informática, Qiandong começou a dar passos mais sólidos no mundo dos negócios em 1998 com a distribuição de produtos magneto-ópticos. O negócio prosperou e, em 2003, ele chegou a abrir 12 lojas físicas sob a marca Jingdong. No entanto, o surto de SARS que atingiu fortemente a China foi o ponto de partida do que hoje é a JD.com.
Essa pandemia o forçou a repensar o negócio. As vendas físicas começaram a cair e, em 2004, ele decidiu tentar a sorte no mundo digital e colocou em marcha a JD.com, por onde queria ao menos tentar reduzir as perdas.
Não demorou muito para que o virtual superasse o real e, em apenas um ano, ele já havia fechado todas as lojas, transformando a empresa em uma operação estritamente online. A princípio, a JD.com manteve suas origens e vendia produtos eletrônicos, mas alguns anos depois passou a incluir categorias como vestuário, móveis, produtos de limpeza, entre muitos outros.
Também não demorou para se tornar a maior plataforma de comércio eletrônico da China. A penetração que a JD.com vem mostrando se reflete nos números. No ano passado, encerrou com receita líquida de US$ 158,8 milhões, um crescimento em relação aos números gerados em 2023.
“A maioria das nossas categorias de produtos, assim como os indicadores-chave, como nossos usuários ativos e a frequência de compras, apresentaram um crescimento sólido, o que reflete nossa presença cada vez maior na mente dos consumidores”, afirmou Sandy Xu, diretora-executiva da JD.com, em seu último relatório apresentado a investidores.
“Estamos caminhando para 2025 com maior otimismo, à medida que o sentimento de consumo se recupera de forma constante”, destacou.
Qiandong decidiu se afastar da gestão diária mais intensa em 2022 e passou o bastão para uma mulher, Sandy Ran Xu, permanecendo como presidente da empresa com foco no longo prazo e na orientação das novas gerações.
O fato de o bilionário chinês decidir agora mirar no negócio da carne tem a ver com o avanço das vendas online em seu país, mas também com seu interesse por segmentos ligados ao mundo alimentício.
A JD.com também atua no setor de entrega de comida, um segmento totalmente dominado pela empresa Meituan — com a qual mantém inclusive uma disputa judicial, com acusações de diversos tipos. A Meituan detém 65% desse mercado e foi fundada por Wang Xing, um magnata chinês com patrimônio estimado em US$ 11,2 bilhões. Outros 30% estão nas mãos da Ele.me, o que mostra que o caminho ainda é longo para Qiandong nesse setor.
Os negócios do empresário asiático não param por aí. Sob o guarda-chuva da JD.com funcionam também:
Até o ano passado, a empresa chinesa tinha como sócia a Walmart, que havia adquirido 5% das ações em 2016. No entanto, em agosto de 2024, vendeu essa participação por US$ 3,6 bilhões (R$ 20 bilhões) , segundo informou, para focar na filial chinesa da varejista norte-americana.
Para a Argentina, o que ocorrer no mercado chinês é fundamental. Segundo o último levantamento do Consórcio de Exportadores de Carnes Argentinas (ABC), a China foi o principal destino das exportações, tanto em abril quanto no acumulado dos primeiros quatro meses deste ano.
No último mês, foram embarcadas para a China 13.600 toneladas de carne com osso e ossos bovinos resultantes do desossa, com valor de US$ 24,3 milhões (R$ 135,2 milhões), além de aproximadamente 22,2 mil toneladas de carne bovina desossada, por US$ 98,1 milhões.
A China representou 68,7% dos volumes exportados em abril de 2025 e 66,0% do acumulado nos quatro primeiros meses do ano. O preço médio das vendas de carne sem osso para a China em abril de 2025 ficou em torno de US$ 4.418 por tonelada, marcando uma trajetória de queda em relação ao pico de US$ 5.900 obtido em maio de 2022.
Fonte: Forbes.