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Jerry O´Callaghan: exportação para alavancar a demanda

Em sua apresentação sobre o mercado mundial de carnes, durante o Simpósio Brasileiro de Carne Bovina, que aconteceu na semana passada na Esalq/USP, o diretor da unidade de carnes da Coimex Trading Company, Jeremiah O´Callaghan apresentou um panorama do posicionamento do Brasil nesse cenário, abordando as transformações recentes e oportunidades para a carne brasileira.

Exercendo um paralelo entre Brasil e Irlanda, um tradicional exportador de carne bovina na Europa, Jeremiah mostra como a realidade da produção brasileira, em comparação àquele país, tornam muito mais factíveis a implantação de sistemas de rastreabilidade, ou até mesmo o cumprimento de exigências de bem-estar animal, entre outras imposições dos importadores de carne.

Sobre a rastreabilidade, por exemplo, um frigorífico na Irlanda que abate 700 cabeças/dia, recebe animais de 120 a 150 produtores (pequenos lotes) em um dia, que deverão ser registrados para fins de certificação. Isso, ao longo do canal de distribuição, onde a carcaça bovina se transforma em vários cortes e que muitas vezes são porcionados em vários pedaços para a venda final, torna improvável a confiabilidade da certificação de origem. No Brasil, por outro lado, os abates em grandes lotes facilitam a certificação confiável dos produtos, desde a origem.

Exportações geram oportunidades

Situando o Brasil como o maior exportador mundial de carne bovina e segundo maior produtor, o palestrante explica porque investir na exportação de carne bovina é uma alternativa rápida para elevar a rentabilidade na cadeia. Segundo ele, para conseguir aumentar o consumo no mercado interno, é necessário um tempo maior, ainda mais sendo o Brasil o sexto país em consumo per capita de carne bovina no mundo. A abertura de novos mercados, devido a uma maior elasticidade na demanda, gera oportunidades imediatas para o setor.

No que seria um desafio para o posicionamento da imagem de produto brasileiro, Jeremiah faz alusão às acusações recentemente publicadas em jornais de respaldo internacional na União Européia, onde se afirma que as exportações de carne brasileira são responsáveis pelo atual desmatamento da floresta amazônica, ou até mesmo trabalho escravo e infantil.

Um gráfico, apresentado por ele sobre o crescimento do rebanho de 1990 a 2004 por região no Brasil, invalidaria qualquer argumentação em favor desta acusação. Dentro da área de floresta amazônica, a única região que registrou crescimento do rebanho foi o sudeste do Pará, de onde não é exportada sequer uma tonelada de carne bovina para a UE. Desta forma, Jeremiah defende que o Brasil deve se posicionar sobre tais acusações, e esclarecer dúvidas sobre questões ambientais e sociais acerca da nossa produção.

Aftosa dificultou a exportação de cortes nobres

Após mostrar um histórico do valor das exportações de carne bovina congelada e resfriada, foi destacado como o valor médio auferido nas exportações sofreu uma queda significativa após a crise da aftosa, principalmente devido à perda de mercados importantes como a UE e à dificuldade em se focar as exportações de carne in natura nos cortes nobres.

Isso porque, como forma de contornar as dificuldades criadas pelas barreiras impostas durante a crise de aftosa, as exportações de cortes de dianteiro teriam crescimento bastante. Estes cortes, segundo ele, deveriam ser exportados sob forma de carne processada, com maior valor agregado.

Ficou claro que, até o momento em que a crise da aftosa deflagrou barreiras contra as importações do produto brasileiro, a carne brasileira estava “invadindo” o mercado europeu. Por esta razão, Jeremiah explicou que a aftosa um “presente” para os europeus.

Um exemplo citado sobre perda de um importante mercado, foi relativo ao rebaixamento da classificação do Brasil de risco “desprezível” para “improvável” para EEB (doença da vaca-louca). Nesta ocasião, o Brasil foi proibido de exportar tripas de bovinos para a UE.

Mudanças nos mercados importadores

Desta mesma forma, a suspensão das exportações anunciadas em março pelo governo argentino foi, segundo ele, um “presente” para os brasileiros. Nesse caso, Jeremiah afirma que esta decisão deve gerar oportunidades, na medida em que a Argentina, que foi o terceiro maior exportador de carne bovina em 2005, deixa de atender importantes mercados, abrindo espaço para o Brasil.

Outro fato que pode favorecer o Brasil na conquista de mercados, deve ser o surgimento da gripe aviária. Foi destacado como as exportações para o Egito devem ser favorecidas após casos de contaminação da doença.

No entanto, ele alertou para o fato de que o baixo poder aquisitivo da população naquele país pode constituir um risco aos exportadores. Um bom investimento no Egito seria no mercado do turismo, que gera forte receita em hotéis e restaurantes.

Entre mercados que tiveram grande participação em 2005 e que vêm influenciando o bom resultado das exportações até agora, a Rússia e a Bulgária devem sofrer queda significativa nas exportações brasileiras.

No caso da Rússia, isso deve ocorrer pelo fato de que apenas dois estados produtores estão autorizados a atender à sua demanda, RO e ES, até que os embargos a 8 estados brasileiros sejam levantados. As exportações para este país foram proibidas pelo governo brasileiro no fim de fevereiro.

Entretanto, segundo O´Callaghan, o atual crescimento econômico confere à Rússia um elevado potencial. Sua demanda, portanto, deve aumentar após a abertura.

A Bulgária, que foi o 5o destino da carne in natura em 2005, deve ter uma forte queda nas exportações, assim que ingressar na UE, o que é previsto para 2007. Isso porque deverá se adequar às regras de comércio internacional do bloco, dificultando as importações do produto brasileiro.

Otavio Negrelli, Equipe BeefPoint

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