John Carter, fundador da Aliança da Terra, concedeu esta entrevista ao BeefPoint explicando quais as principais ações da entidade que busca estreitar o contato entre produtores, pesquisadores e ambientalistas, visando melhorar a produção pecuária de forma ambientalmente correta. Para a Aliança de Terra é possível produzir alimentos preservando o meio ambiente, desde que, sejam realizados e divulgados estudos sobre preservação ambiental e o consumidor valorize este tipo de produto.
Nascido na cidade de San Antonio, Texas, sua família trabalha com petróleo e terras. Cursou geologia na Univiersidade do Texas para seguir a carreira do irmão, pai, e avô. Foi voluntário do exército americano, servindo por 4 anos em uma equipe de operações especiais do 101st Airborne Division, incluindo serviço na Arábia Saudita e Iraque. Cursou administração rural no Texas, Christian University´s Ranch Management Program. Onde conheceu uma brasileira de Londrina/PR (hoje sua atual esposa) que o trouxe para o Brasil.
Nos EUA atuou na administração de uma empresa de cimento na capital do Texas, Austin. Atualmente, administra duas fazendas de gado comercial no Xingu/MT, é proprietário de uma empresa de turismo com uma pousada no Rio das Mortes e é sócio fundador e diretor geral da Aliança da Terra.
Trabalhou em fazendas de gado no Texas e Colorado, e também com poços de petróleo. Segundo John seu interesse profissional e pessoal é ajudar o Brasil enquanto está aqui, retribuindo um pouco do que o país lhe proporcionou.
BeefPoint: Você poderia descrever a Aliança da Terra?
John Carter:A Aliança da Terra é uma entidade brasileira, que foi construída para os produtores. Sua história de fundação envolve três pessoas de ramos diferentes que decidiram se juntar para tentar achar soluções para o meio ambiente, entendendo que para se ter êxito com a conservação ambiental em áreas privadas é preciso respeitar o bolso do produtor.
Essas três pessoas que decidiram criar a Aliança da Terra são o Dr.Daniel Nepstad, do Woods Hole Research Center (WHRC), Ocimar Villela do Grupo Maggi, e eu, que nos juntamos na tentativa de unir ciência ambiental, agribusiness, e produção. Acreditando que essa receita pode encher um vácuo enorme.
Como nossa logomarca mostra bem, o ato de ser dono de terra é igual a um casamento, é uma aliança que traz responsabilidades mais do que qualquer outro relacionamento. Tratando com amor o relacionamento, acontecem coisas boas, o mau tratamento corresponde a prejuízo e divórcio.
A força que é representada nesta união de produtores que estão “produzindo certo” é enorme. Com um aval do mercado, a árvore poderia ficar forte, porque tem retorno econômico para sua preservação. Simplesmente, unidos somos fortes, separados fracos, e isso pode ser um metáfora para o meio ambiente também.
Essa reunião tem um objetivo, facilitar a escolha do consumidor na hora da compra, separando os produtores “produzindo certo” daqueles que estão produzindo para o curto prazo, sem se preocupar com o futuro. Para ganhar esta confiança dos mercados, é necessário um trabalho extremamente árduo, que envolve profissionais dos dois lados da cerca, produtivo e científico.
A gente gosta de pensar que Aliança da Terra age com a cabeça de empresário, o coração de cientista, e mão de produtor.
BeefPoint: Como tornar viável o trabalho conjunto entre produtores e ambientalistas?
John Carter: Exige muita confiança, humildade e respeito. Todos estão propondo suas experiências e expectativas, num ambiente não agressivo. O fato é que AT está dando a chance para todo mundo falar. O produtor explicando o que ele pode fazer para o meio ambiente e tudo que ele não pode por causa de custo, ao mesmo tempo que os ecologistas colocam as coisas que eles acham importantes para manter o ecossistema, inclusive coisas a mais do que a legislação exige.
Isso é bonito, porque podemos lavar nossa roupa suja atrás das portas e na hora de enfrentar o mercado nós temos uma única voz, que passou por uma avaliação rígida e que tem base científica. A coisa mais importante neste relacionamento é a confiança que nós temos um pelo outro.
Podemos dizer que este processo é igual a um exame médico, é preciso tirar sua roupa e expor tudo que sente antes de diagnosticar o problema e escolher a receita para a cura. Eu não faria isso com qualquer médico nunca. A mesma coisa é aplicável com o parceiro ambiental. Tem que confiar 100%.
Em nosso caso, temos um relacionamento forte com WHRC e IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e também um compromisso com o produtor, o de manter os dados em sigilo. O que está acontecendo com AT e IPAM é uma parceria entre dois grupos historicamente em lados opostos, que está quebrando paradigmas para melhorar o meio ambiente, e ponto final. AT nasceu para encher este buraco negro.
BeefPoint: Quais as premissas da AT que irão permitir esse trabalho em conjunto?
John Carter: Olhando para o futuro, é claro que a pressão contra as commodities do Brasil no mercado internacional vão dobrar, para nada menos do que protecionismo pelos mercados dominantes.
As armas mais usadas contra o Brasil vão ser o meio ambiente e a questão sanitária. Por causa disso, AT acha que chegou a hora de ser proativo, de fazer a coisa certa (que muito poucos no mundo atualmente estão fazendo) e exigir um reconhecimento por isso. Isso seria uma vitória para o produtor e também para o ambientalista.
Mas, para conseguir isso temos que ter uma estratégia bem definida com o apoio de todos (ambientalistas, produtores e consumidor). Sozinho a gente não vai para lugar nenhum. O produtor está frustrado com as pressões em cima dele e o ambientalista está irritado porque o desmatamento não para. Sabendo que estamos em guerra, e que existem emboscadas à nossa frente, seria bobagem não fazermos esse trabalho em conjunto.
Para mim, AT representa uma equipe de forças especiais que atrai pessoas com várias habilidades (qualidades) dos dois lados, mas com uma única missão, fazer a coisa acontecer, esperando um incentivo econômico por esse esforço.
BeefPoint: Qual o objetivo da parceria com entidades como o Woods Hole Research Center (WHRC), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM)? Que frutos esse trabalho em conjunto tem rendido?
John Carter:IPAM e WHRC vão quantificar nosso trabalho e dar credibilidade para o nosso cadastro. É fácil criar um selo dizendo que você está fazendo alguma coisa especial. No entanto, todos nós sabemos que o que está dito no rótulo da embalagem, necessariamente, precisa estar sendo feito na propriedade e não é “greenwashing” (fingindo que tem alguma coisa a ver com conservação para usar no marketing). Nossa parceria com o IPAM é fundamental para quantificar não só os danos ambientais, mas também para mostrar os investimentos que o produtor está fazendo e o quanto esses “serviços de ecossistema” estão custando ao proprietário.
Preferimos abrir o jogo e chamar os melhores pesquisadores para o nosso lado, expondo tudo de bom e ruim, sabíamos que seus dados falariam a verdade, porém ao mesmo tempo essa transparência ajudaria a ganhar a confiança do mercado.
BeefPoint: Como vocês escolhem organizações de ambientalistas para desenvolverem parcerias?
John Carter: É difícil, desde 1997 fomos atrás de várias, uma luta que sempre nos deixou desiludidos. Para falar verdade, quase nos rendemos na luta para achar um bom parceiro. Há cinco anos atrás, quase desistindo, cansado de ser traído, mandei um email para Daniel Nepstad do WHCR, desafiando-o a conhecer Mato Grosso e as realidades da região. Principalmente, ver que a MP de 80% de reserva legal causou um grande aumento na taxa de desmatamento e que sem a ajuda do produtor, não teríamos mais mata no Xingu, nos próximos 15 anos.
Ele aceitou o desafio e veio com mais dois pesquisadores do IPAM e passaram 4 dias comigo. Eu sempre digo que o fato dele ter vindo foi um passo monumental para causar uma grande mudança no pensamento das ONGS no que se refere à questão de trabalhar ou não com o setor produtivo.
No IPAM, achamos cientistas que gostam de produzir dados sem preconceitos, tentando solucionar problemas sem serem agressivos. Nós da AT estamos impressionados em ver o quanto eles são atenciosos, sempre questionando o quanto que a conservação custa para o proprietário, sabendo que este custo tem que ser divulgado para o mundo, dando chance de incentivar produtores a manterem suas reservas legais e matas ciliares.
Não sou contra ONGs, acho que elas têm um papel super importante. Também, muitas delas mudaram bastante nos últimos anos, hoje sendo mais abertos para discussão. Mas poucos aceitam o risco de apoiar o proprietário rural, o dono da floresta em terras privadas, com medo de perder o apoio da base deles.
Conheço alguns que vestem esta camisa, mas na realidade eles estão usando o produtor, enquanto as vantagens financeiras pelo “serviço de ecossistemas” vão para o setor de distribuição e varejo. Eu tenho certeza de uma coisa, é preciso ter muito cuidado.
BeefPoint: Qual a sua opinião sobre a legislação ambiental brasileira atual, em especial em relação a obrigatoriedade de reserva legal de 80% da área em algumas regiões brasileiras?
John Carter: Leis no Brasil são iguais árvores frutíferas, aparecem todo ano, a maioria apodrece, poucas sementes conseguem pegar, e algumas delas mudam com o vento. O fato é que o Brasil tem a legislação mais rígida do mundo, o que porém não adianta nada, porque ela não é cumprida, por falta de infra-estrutura e também interesse.
Será que não podem usar essa legislação como uma bala na agulha na batalha com os países do primeiro mundo que estão tentando barrar o Brasil no acesso a vários mercados? Será que tem outros proprietários de terra no mundo, que tem que obedecer a tantas regras e carregar um peso de conservação tão grande nas costas?
A AT acredita que algum dia isso vai ajudar Brasil a ganhar mercados e também segurá-lo nas brigas comerciais. Estamos querendo dar o primeiro tiro nesta batalha.
Como um bom Texano que considera o direito da propriedade sagrado, acho absolutamente ridículo a situação na Amazônia. Primeiro foi “integrar para não entregar”, depois veio o Projeto Sudam incentivando desmatamento, o tempo todo o governo chorando para o povo desbravar a região.
Tem muita gente que investiu honestamente em terra, comprando numa época, em que a lei exigia 50% de reserva legal, não mexeu, e de repente por causa de uma medida provisória, perdeu o direito que eles acreditavam que tinham. Agora, como você pode mudar as regras depois que o jogo começou?
É uma palhaçada, porque a coisa mais fundamental de uma democracia é o direito da propriedade. Isso só cria um ambiente que sufoca, empurrando o produtor a escolher a desobediência civil. Pior ainda é o fato que a MP não tem base cientifica. É tão inviável que não deixa nenhum espaço para o proprietário ganhar dinheiro. Se ele precisa derrubar mais 30% para ficar economicamente viável, porque não derrubar tudo? De qualquer jeito ele está quebrando a lei, então é melhor cometer o crime de uma vez só.
Como piloto que já voou 700.000 km sobre Mato Grosso desde 1993, posso dizer que eu vi a medida provisória de 80% em ação, instigando o aumento do desmatamento.
BeefPoint: O que a AT tem feito em relação a legislação ambiental? Há trabalhos visando alterar itens específicos da legislação?
John Carter: Exatamente isso, estamos falando a verdade para as ONGs e o público, tenho certeza que este trabalho já ajudou muito. Também, dados econômicos feitos pelo IPAM mostram o custo da reserva legal para o proprietário, contas nunca feitas antes.
Estes números falam mais alto do que palavras. Agora, a AT não é uma organização de “lobby”, nosso trabalho é no chão. Sinceramente, acredito que essa metodologia produz melhores resultados do que a gritaria.
BeefPoint: Como diferenciar Amazônia Legal da região amazônica? Muitos estudos mostram desmatamento na Amazônia Legal, que engloba áreas de cerrado. Qual o atual impacto negativo dessa dupla nomenclatura? Como a AT busca contornar isso?
John Carter: A região amazônica é a bacia do Rio Amazonas, feito de vários ecossistemas. A nomenclatura “Amazônia Legal” foi feita para o Projeto Sudam e os estados na beirada da Amazônia lutaram para entrar nesta classificação. Segundo o IPAM, o bioma amazônico está em 80% da Amazônia Legal.
Para falar a verdade, não sei o quanto que esta briga, na classificação, vai contribuir para desmatamento. Paraná, São Paulo, Santa Catarina, e Mato Grosso do Sul, não derrubaram quase tudo, independente do nome da vegetação? Não vejo nenhuma diferença para a Amazônia. A lei econômica é “cega de cor” e não respeita nomenclatura nenhuma.
A AT está se concentrando em boas práticas agrícolas o que inclui controle de erosão, controle do fogo, a exigência da mata ciliar e outras áreas de preservação permanente, e a politica da boa vizinhança, etc. Também exige o cumprimento da legislação ambiental, dando um prazo até 2009 para regularizar a questão da reserva legal.
Até lá a medida provisória vai tornar-se lei ou será derrubada. De qualquer forma, a AT vai exigir o cumprimento da lei. Acredito que volta para 50% em regiões de transição. Estamos torcendo para que os responsáveis da MP entendam que teria mais mata em pé em 10 anos com uma lei realista, ao invés de seguir um sonho, achando que alguém pode sobreviver de 20% de uma área onde os 80% não possui valor nenhum, principalmente em regiões como a mata de transição que não tem madeira de lei.
BeefPoint: Quais os trabalhos a AT já desenvolve em fazendas de gado de corte? Em que regiões? Já há resultados?
John Carter: O trabalho principal é nosso “Cadastro de Compromisso Sócio Ambiental”, que tem como seu projeto piloto na região do Xingu-MT. Este trabalho é feito por nossas equipes de campo que fazem visitas nas fazendas e fazem um diagnóstico sócio ambiental. Dados do campo são passados para nossa sede em Água Boa-MT, onde eles são processados em um sistema de GIS (Geographic Information System). O produto final mostra um raio-X da propriedade, apontando os pontos positivos e negativos da área, incluindo investimentos que o produtor fez como curvas de nível, aceiros, cercas isolando APPs e reservas legais, bigodes para controlar erosão nas estradas, etc.
Também são mostradas as questões a serem resolvidas. Depois do diagnóstico vem o plano de adequação para executar as ações necessárias para entrar no “verde” (quando o produtor realizou as ações necessárias para corrigir o passivo ambiental), junto com um cronograma anual de recuperação. É um sistema objetivo que tenta ser economicamente viável.
Junto com este trabalho, há um paralelo feito pelo IPAM, que está criando um banco de dados dos mamíferos, aves, etc. O IPAM treina funcionários de algumas fazendas a fazer “transects” (linha de amostra) nas reservas. Periodicamente, os funcionários fazem censos dos bichos na fazenda onde eles trabalham. Às vezes isso inclui testes de qualidade de água, chuva, umidade relativa do ar, etc. Isso vira uma ferramenta poderosa para nosso cadastro porque mostra o tanto que as áreas privadas são importantes para a manutenção do clima e biodiversidade.
Posso usar nossa fazenda como um exemplo, os pesquisadores do IPAM fizeram um levantamento de espécies em nossa reserva legal quatro anos atrás. Os resultados foram excelentes, tanto é que eles constataram que nós tínhamos uma quantidade de mamíferos bem maior do que a maioria das matas que eles conheciam no meio da Amazônia, inclusive animais na lista de espécies ameaçadas de extinção.
Agora me diga quem tem isso no mundo? Será que o meu tio ou irmão nos Estados Unidos sabem exatamente os bichos que existem em suas fazendas? O mundo está de olho na Amazônia, mas ninguém lá fora entende o papel que as reservas legais levam no esquema total. Imagine se pudéssemos montar um cadastro de 1.000 fazendas, quantificando quantos quilômetros de mata ciliar foram recuperados e quantas toneladas de carbono foram sequestradas nesta área. Imagine o poder desta massa crítica, em convencer os mercados externos e o Brasil está liderando este processo.
BeefPoint: Qual tem sido a reação dos pecuaristas ao conhecer a proposta da AT?
John Carter: Graças ao trabalho de nosso diretor administrativo, Marcos Reis, e a nossa equipe que cuida do banco de dados, Charton Locks e Cátia Casagrande, a aceitação do setor está sendo excelente. Acredito que nossa missão está sendo bem recebida, porque mostramos seriedade e profissionalismo e uma atitude realista.
Mais uma vez, nosso trabalho revolve em volta da confiança e nosso pessoal transmite tranqüilidade para o fazendeiro. Graças a Deus conseguimos quebrar barreiras devido a pessoas fantásticas que trabalham em nossa equipe e também porque existem muitos produtores que estão prontos para a chegada desta hora, cansados de ser chamados de “diabos” e querendo provar o contrário.
BeefPoint: Os preços baixos da arroba nos últimos anos não torna a maioria cética em relação a viabilidade desse projeto?
John Carter: Sem dúvida quem está com fome procura comida fácil para comer. Mais eu quero deixar bem claro que a AT não está prometendo nada fora da realidade, nós vamos ajudar o produtor. Criaremos um cadastro sócioambiental e ao mesmo tempo concentraremos nossas forças no mercado e na mídia. Unidos conseguiremos transformar este pesadelo, chamado conservação, em um bem de marketing que gera um incentivo a mais para nosso bolso e assim seremos vitoriosos.
Para atingir esse objetivo, temos que ter ações concretas, em recuperação. A Aliança da Terra entende muito bem que este compromisso que nós temos com IPAM e WHRC junto com o consumidor, é crucial, e por isso que não queremos ser uma válvula de escape para o curto prazo onde pessoas enfraquecidas correm para um “quick fix.” Isso poderia estragar nossa credibilidade. Queremos pessoas que realmente tem o espírito de desbravadores, que podem enfrentar as incertezas de um novo modelo de produção.
BeefPoint: Você poderia detalhar mais a luta contra o quick fix, que é uma solução paliativa e rápida?
John Carter: Todo mundo quer pegar os benefícios de ser “verde”, mas poucos na realidade investem mesmo em melhorias ambientais. Normalmente, as empresas que tentam mostrar seu lado verde não são escrutinizadas pelo consumidor por que o caminho para fazer isso é muito difícil.
Enfim, as repercussões de abusar deste tipo de marketing são poucas. Também, é difícil quantificar entre várias indústrias o “plus” que eles contribuem para o meio ambiente. Com o cadastro, nós estamos sendo bem francos com o mercado, sem esconder nada atrás de folders bonitos de cachoeiras e mata virgem, falando que a conservação só funciona quando alguém paga por isso.
O investimento feito pelo produtor está sendo quantificado por estudos econômicos para defender nossa postura. O melhor exemplo de abuso, em minha opinião, é da estrela dos “verdes,” Al Gore. Minha mãe mora a dois quilômetros de Al Gore em Nashville, Tennesse e ela passa na frente da casa dele diariamente. Conhecemos o dia-a-dia dele, inclusive as contas de luz que são 5 vezes mais do que as nossas, fora as viagens de jato para o mundo inteiro que ele faz para fazer discursos sobre a mudança climática.
Eu acho super importante o trabalho dele, mas ele está sendo remunerado pelo investimento que ele fez para o meio ambiente, ganhando centenas de milhares de dólares por isso. Teria que fazer a mesma coisa para o fazendeiro que anda de burro para o trabalho e somente ganha prejuízos pelos serviços ambientais que ele presta para o mundo.
BeefPoint: Na sua visão, qual seria o ideal entre percentual de desmatamento e área de gado de corte?
John Carter: Em MT em área de mata, 35 até 50% de Reserva Legal, dependendo na forma em que a lei calcule as APPs. Se pensar na região toda, contando reservas indígenas, unidades de conservação, etc., acho suficiente.
Agora, se acontecer isso seria uma vitória, mas eu não acredito que a lei vai ser obedecida. Em minha opinião, se pedir 50%, vai sobrar 30%; se pedir 35% vai sobrar 15%; se pedir 20% vai sobrar 10%, e daí vai indo. Seria uma maravilha se existisse um ambiente aonde todo mundo teria que obedecer a mesma lei, sem exclusões, vista grossa, etc.
BeefPoint: Você poderia citar o que acontece em outras regiões do Brasil e do mundo?
John Carter: Paraná tem 3% de mata em pé. O resto da mata atlântica foi torrada. No leste dos EUA, 85% da floresta foi derrubada entre 1500 a 1900. Hoje, voltou para 35%. Por que?
Porque muitas áreas não apropriadas para agricultura foram voltadas para vegetação nativa. Também, forças econômicas ajudaram muito, sendo mais rentável ter madeira do que plantar fumo, soja, milho, etc.
Em meu estado, Texas, existem sucessos enormes, com respeito a recuperação de áreas degradadas, de corredores ecológicos, etc. Por que?
Porque tinha dinheiro lá aguardando aqueles que fizeram. Um viado “whitetail” vale US$ 5000 na estação de caça. A maioria da fazendas no sul do estado ganha mais com arrendamentos para caça (viados, catetos, onça, bobcat, cordona bobwhite, pomba, ganso e pato) do que com gado ou lavoura.
O princípio da Aliança da Terra é isso, é preciso incentivos econômicos, se não a coisa não anda. Em um país onde tudo é proibido, o proprietário não tem disponível essa opção de vender bichos. Então, tem que vender a madeira e põe no chão o resto. A única forma de fazer a lei da reserva legal funcionar numa escala grande é com a força dos mercados, comprando de quem está regular.
Ninguém no mundo deu conta de controlar essa força é por isso que tudo foi destruído. Agora o mundo está pedindo o impossível do Brasil. A Aliança quer divulgar essa falácia e no mesmo tempo oferece uma solução.
BeefPoint: Qual a impressão que você tem das ONGs? Parece que muitas pensam que a “única” solução é 100% floresta e 0% pastagem.
John Carter: Essa atitude é radical e não vai levar ninguém para lugar nenhum. A grande questão para mim não é 100% ou 0%, é o direito da propriedade que é a coisa mais fundamental de uma democracia. Essas ONGs não podem continuar a tratar do setor produtivo como criança, achando que nossos bens são iguais a brinquedos, que podem manipular em qualquer direção. Se a lei falou que podia abrir 80% ou 50% 20 anos atrás quando um investidor comprou terra na Amazônia Legal, não pode mudar de repente, trocando de lado igual o vento. Em vez de só dar surras, acho que chegou a hora de dar parabéns, ou pelo menos opções.
As ONGs normalmente são representadas por pessoas da cidade que perderam contato com o meio rural. Idealismo não vai conseguir nada e infelizmente esse pessoal tem a tendência de olhar o mundo com óculos acadêmicos e não com óculos realistas, que enxergam o fato que tudo no mundo revolve em volta de dinheiro e incentivos econômicos. Tanto é que as grandes ONGs são máquinas de arrecadação de fundos e, por isso, são bem agressivas, sempre tentando achar um novo “produto” para “vender” no mercado. Em vez de falar mal deles, quero falar que existe uma mudança com várias ONGs para o lado mais realista. Mais eles tem uma distância grande para andar ainda.
BeefPoint: Na sua opinião a Amazônia deve ter ou não um tratamento diferenciado em relação a porcentagem não desmatada?
John Carter: Acho que sim. Estamos brincando com fogo. Ninguém sabe exatamente qual é a percentagem de mata que precisa permanecer para manter o clima.
Mas, o bom senso fala que tem que ter mais do que em outras regiões por que o tempo na região amazônica vem de convecção, sendo que a precipitação da região vem da transpiração da mata. As pessoas mais velhas da região sabem que, com desmatamento, as chuvas diminuem. As pesquisas mostram isso. O problema é que ninguém sabe se tem um ponto de equilíbrio que não pode passar.
BeefPoint: Redes de supermercados e restaurantes podem ter receio em fornecer carne oriunda de regiões amazônicas. Como lidar com essa situação?
John Carter: É simples, eles já fornecem carne dessas regiões, mas escondem este fato. Certos de que eles fornecem vaca como se fosse boi também. Isso não é mistério. Para mim, a situação de mentira hoje é muito pior do que pode ser futuramente, pois o consumidor saberá de onde vem sua carne e também o seu custo ambiental, que estará embutido na produção daquela carne.
Se somarmos toda a área privada na Amazônia e multiplicarmos esse número pela porcentagem da reserva legal, que todo mundo deveria ter (vamos pensar em 50% de RL), não teríamos problemas com a saúde da floresta amazônica, se ela de fato estiver em pé. O problema hoje, é que não existe nada de incentivo para manter essas reservas. Ao contrário, tudo leva o produtor a derrubá-la.
No outro lado da moeda, se o mundo agir de forma inteligente, os produtores que mantivessem as reservas desta floresta tropical em pé, seriam compensados com a abertura do mercado para quem age legalmente e fechando as portas para quem não está no cumprimento da lei. Junto com áreas indígenas, parques nacionais, e outras unidades de conservação, teríamos uma mata enorme, que poderia manter sua função ambiental.
BeefPoint: E iniciar uma oferta de carne que em sua divulgação/comercialização se orgulhe em afirmar que vem de regiões amazônicas?
John Carter: Orgulho ou não, já tem muita produção na Amazônia e vai ter mais. É nojento este assunto, é como se fossemos um bando de bobos discutindo filosofia. Se São Paulo, Paraná, Minas Gerais, e outros, exigiam apenas 20%, e hoje possuem somente de 3% a 15% de reservas em pé, como conseguiríamos 50% na Amazônia, muito menos 80%, sem ter um incentivo forte.
Não ignorando o problema, a Aliança da Terra acha que o produtor amazônico, que possui boas práticas agrícolas deveria ter uma premiação anual, divulgada em revistas de conceito. Isso em si seria um estímulo que engrandeceria o coração da pessoa que cuida da terra. Eu aposto que não existe uma “carga tributária” no mundo tão grande como a que o brasileiro carrega nas costas.
BeefPoint: A AT planeja criar um selo que identifique a certificação de produção sustentável? Quais serão os requisitos para obter esse selo? Como será o plano de comercialização da carne com esse selo?
John Carter: Já temos um selo e queremos criar regiões certificadas. A primeira seria o Xingu, mais temos outros pilotos projetados para Rondônia, Pará, Tocantins, e Goiás. Depois que o diagnóstico é feito, e o plano de adequação é entregue, começa há correr o tempo. Subseqüentemente, ocorrerão auditorias anuais para fiscalizar o processo, feitas por um conselho de terceiros que não inclui AT nem o IPAM.
A coisa mais importante é não perder o poder da barganha e também nunca tirar o produtor do processo de decisões. O selo é que vai criar valor com o consumidor, graças ao trabalho e investimento no campo feito pelos fazendeiros. O importante é redistribuir as margens, ao longo da cadeia que reflete a realidade da criação da marca. Quem merece é quem fez o investimento.
BeefPoint: É possível conseguir um sobre-preço para o produtor rural que se adeque a essas exigências?
John Carter: Ninguém pode responder isso com 100% de certeza, mas acreditamos que sim. O importante para nós a curto prazo é a garantia do mercado e se conseguirmos uma massa crítica, poderemos negociar melhor com os frigoríficos. É obvio que eles querem proteger sua lucratividade num ambiente de negócio difícil, por causa dos impostos que eles pagam, e é por isso que nós os tratamos como aliados potenciais, embora não confiáveis.
O fato é que qualquer selo de qualidade sócio ambiental representa o esforço do setor produtivo, um esforço que eles usarão para o bem do frigorífico. Isso não me anima muito. O fato é que o alimento é muito barato aqui e nos EUA.
O descobrimento do preço das commodities nunca incluiu a conservação/serviços do ecossistema na equação. A AT está tentando fazer isso no lugar onde o mundo está de olho, tendo um enorme ganho na preservação do meio ambiente, conseguindo assim o reconhecimento deste investimento.
BeefPoint: Como assegurar que esse ganho não seja retido integral ou desproporcionalmente pelo frigorífico?
John Carter: Essa questão é sem dúvida, a mais sensível, como se diz em inglês, “o pão e a manteiga do negócio”. Pessoalmente eu não vejo vantagem nenhuma em investir “pra caramba” nestas coisas, se meu trabalho vai beneficiar a um terceiro e não a mim. Não faço e também não pediria para outros fazerem. Acreditamos que o valor de nossa parceria com IPAM e WHRC vai brilhar neste momento. Não seria prudente responder em detalhes esta pergunta agora. Seria melhor responder na companhia de amigos que jurariam sigilo.
BeefPoint: Quais as principais dificuldades encontradas pela AT ao buscar essa diferenciação da carne bovina, pela produção certificada e sustentável?
John Carter: Para falar verdade, tem uma procura grande por vários supermercados e bancos, chegamos na hora certa no lugar certo. O mais importante de tudo é a paciência do produtor associado com a AT, porque nossa arma mais poderosa é a ação no chão, e para alcançar a massa crítica que precisamos vai levar certo tempo. Com o cadastro em mãos, podemos convencer os mercados. Se fosse ao contrário, seria “greenwashing” e nós não teríamos nada em mãos, a não ser mais um selo oco.
Quando eu falo de selos ocos, estou falando daqueles que fazem exatamente que eu acabei de falar, nada. Existem selos que levam a gente a acreditar que algo ou alguém está fazendo um grande trabalho para o meio ambiente. Mas, normalmente, esses trabalhos são minúsculos em comparação com que eles levam a gente a acreditar na propaganda.
A Aliança da Terra quer criar um selo com um fundo forte, baseado em ações apoiadas em dados científicos. Enfim, nós queremos fazer o que o selo representa, virando um selo cheio.
BeefPoint: Qual a sua visão de futuro para a pecuária brasileira nas regiões tropicais? Quais as principais ações, além das já citadas para transformar essa visão em realidade?
John Carter: O Brasil tem a chance de virar um líder mundial em produção sustentável, o novo “bread basket” do mundo (celeiro do mundo), mas tem que:
• Fazer um trabalho imenso em marketing para mostrar para o mundo o que é exatamente produção agrícola em áreas tropicais, inclusive uma divulgação sobre as leis ambientais, trabalhos feitos, etc.
• Tem que mostrar com números as vantagens de incentivar a conservação com a abertura do mercado. Isso pode incluir toneladas de carbono seqüestradas em reservas legais, a manutenção do clima e as águas, a preservação de um importante banco genético, etc.
• O setor produtivo tem que levar seu nível de profissionalismo até Brasília. Sem uma mudança radical nas instituições brasileiras, principalmente corrupção, os ganhos feitos pela agropecuária vão ser desperdiçados. Sem fiscalização, ninguém vai acreditar que as exigências sanitárias e sócio ambientais estão sendo obedecidas.
20 Comments
Prezado John,
Parabéns pela entrevista sincera e realista principalmente com relação a selos de qualidade, gostaria de fazer algumas perguntas:
1- No meu ponto de vista para se ter uma produção socialmente justa, ecologicamente correta e economicamente viável, precisa-se investir pesado na assessoria técnica de campo, qual a estrutura técnica AT hoje e qual diretrizes bases implementadas para o campo?
2- Qual atuação da AT na agricultura familiar, pois estamos na região (baixo araguaia)com o maior número de assentados do Brasil?
Sem mais.
Breno
Resposta do autor:
1- AT tem equipes de campo de duas pessoas cada, feito de um engenheiro ambiental ou agrônomo da Aliança da Terra e um técnio do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. É feito deste jeito para garantir a representação de cada setor no hora de fazer o levantamento de dados no campo.
O jeito com que cada pessoa olha o chão é diferente, principalmente quando essas pessoas tem formações diferentes. A combinação da sabedoria de uma pessoa formada em agronomia com outra treinada em pesquisas ambientais resulta em um produto forte.
O processamento de dados é feito em um escritório só, com engenheiros ambientais super bem preparados (a gente acha os “melhores!”).
2- Aliança da Terra é para todo mundo. Temos o maior interesse em trabalhar com assentamentos. Tanto é que já temos pilotos que começaram em assentamentos na beira do Rio das Mortes e Querênica. Também, um trabalho com uma reserva Xavante.
Nosso interesse são boas práticas agrícolas e conservação. Cada cidadão que tem terra (tanto faz branco, preto, índio, pequeno, grande) tem o dever de tratar bem dela e todo mundo merece um incentivo por seus sacrifícios em termos de conservação. Fora isso, de qualquer jeito somos vizinhos e Aliança da Terra exige boa vizinhança.
Concordo com todos os pontos, e vejo como esse processo de preservação e desenvolvimento sustentável, é ponto irreversível dentro da nossa sociedade, e principalmente no setor agropecuário.
Precisamos divulgar os dados sobre o estudo feito, quantificando economicamente a participação dos verdadeiros produtores rurais, na preservação da natureza, aliada a produção de alimentos, além de estimular quem ainda não se ligou na necessidade natural e econômica de se adaptar aos novos tempos e a preservação da vida com qualidade na Terra.
Parabéns a Aliança da Terra, especialmente para Ocimar Vilela, meu amigo particular.
John,
Você está de parabéns pelas suas colocações sobre as áreas pertencentes à Amazônia legal. Realmente é necessário que haja uma união entre os produtores para combaterem as ONG´s “radicalistas”.O segredo está no bom senso, e como foi dito, nem 100% nem 0%, desde que seja viável economicamente e ambientalmente sustentável.
Todos nós produtores do Mato Grosso, principalmente ao norte, sofremos pressões desnecessárias que infelizmente tendem a aumentar o desrespeito ao meio ambiente. Para se aproveitar apenas 20% da área e sem incentivos para se manter a reserva legal, é melhor não possuir terra! E será assim até que o governo decida incentivar realmente a manutenção das RLs, e não só com a isenção do ITR que não pesa no bolso de ninguém.
Guilherme Pinezzi Honório
Agropecuária Agro-oeste
Bom Jesus do Araguaia – MT
Excelente matéria, precisamos muito deste tipo de iniciativa e só com pessoas sérias e unidas que conseguiremos provar o quanto é complexo esta questão da Amazônia, e que tem muita gente produzindo de maneira correta e sustentável.
Eu tenho uma propriedade com 50% averbado de reserva legal e derrubado 50% desde 1985, não coloco fogo em meus pastos, venho melhorando a capacidade de suporte com pastoreio voasin e tenho módulos com capacidade de 10 UA/ha nas águas e 6 U/ha na seca. Tenho todo um desenvolvimento ainda para fazer com adubação para melhorar ainda mais e tenho certeza que ainda vou ter lucros com minha mata nativa talvez maior ainda com que tenho no gado, mas sem derrubar um ha de mata.
Quero parabenizar este grupo de pessoas que estão desenvolvendo este trabalho e gostaria de ter um contato para colocar a minha propriedade neste projeto também.
Boa Tarde, sou estudante de mestrado da UFRRJ, formada em Zootecnia, gostaria de colocar a importância que hoje esbarramos sobre conservação e ao trabalho dos ambientalistas versus produtores no Brasil.
Sempre tive muito interesse e preocupação sobre esta realidade que passamos hoje, lendo este artigo fiquei emocionada com tamanha dedicação, e concordo com John Carter, venho parabenizar seu trabalho e de sua equipe.
Gostaria muito de fazer parte desta luta e me coloco a disposição para tal.
Grata
John,
Meus parabéns pela entrevista. Apesar de não conhece-lo pessoalmente, estou a par de seu trabalho através de alguns amigos de Goiânia. Acho que este é o caminho para chegarmos a um equilíbrio que viabilize a nossa atividade e garanta sua continuidade para as gerações futuras.
Foi bom tocar no assunto de fazendas de caça. Nos Estados Unidos as pessoas pagam milhares de dólares para caçar um animal, enquanto aqui se paga para um qualquer ir a uma fazenda matar uma onça por estar comendo gado.
Gustavo Vianna
John,
Parabéns pela entrevista. Se todos pensassem assim seria bem melhor. “A gente gosta de pensar que Aliança da Terra age com a cabeça de empresário, o coração de cientista, e mão de produtor”.
Um abraço,
Beth
Fico feliz em saber que existem pessoas como John Carter, preocupadas em produzir respeitando a terra e o meio ambiente; abordando temas tão controvertidos com muita gente levantando bandeira ecológica sem conhecimento da realidade.
Possuo propriedade em Juara-MT; a exemplo de meu colega Gugelmin, também gostaria de participar deste projeto tão interessante.
Parabéns John,
Acredito que os valores da AT vão muito além de boas práticas de produção e torço para que a cada dia mais produtores pensem e tenham atitudes no mesmo sentido.
Nós somos o que fazemos, mas somos principalmente aquilo que fazemos para mudar o que somos. O limite está sempre no homem que está sobre a Terra e nunca nela!
Acredito que todos são capazes de evoluir e ultrapassar seus limites, no bom sentido, basta querer e se esforçar para isso!
Grande Abraço,
Eduardo Catuta – Cuiabá MT.
Excelente artigo, principalmente a colocação em relação a reserva legal de 80 por cento, que inviabiliza o investimento em terras nas regiões consideradas Amazônia Legal.
Já é de conhecimento de todos que aquela área degradada esta perdida para a produção agropecuária, não adianta ficar falando em legislação, pois não adianta não há como obter resultado por um simples decreto, aquele produtor que que ainda não viu isto estará fora em pouco tempo, pois roçar pasto para os outros vai ser mais lucrativo.
Esta insistência com a Amazônia nos faz pensar que os outros biomas não tem valor (para eles é lógico), haveria de ser colocado nas escolas técnicas o conceito de aptidão agrícola dos solos o que reduziria, pricipalmente a limpeza das “capoeiras” em áreas onde a atividade não é adequada, então lugar de lavoura seria feito lavoura e lugar de APP seria preservada e quem sabe até recuperada a fauna e flora nativa (com uma boa ajuda é claro).
É preciso preservar a floresta equatorial, mas e as outras áreas que não digo estarem ameaçadas e sim que já acabaram e então como é que fica. Aqui no RJ não se fala em nada disso, um estadinho quase do tamanho de uma fazenda do norte e os caras continuam fazendo o que querem e não se aplica lei nenhuma e muito doutor pós-graduado despreza a atividade deixando as decisões por conta do “tomador de conta”, eu creio que nos estados agrícolas a postura dos proprietários seja outra.
Em resumo, para não estender mais, este assunto ainda é “balela” só serve para as empresas usarem como propaganda decorativa a fim de convencer aquele cliente lavador de calçada que joga lixo pela janela do carro e é doido para arrancar aquela árvore da calçada, mas vamos preservar a AMAZÔNIA.
Prezado Sr John Carter;
Venho parabenizá-lo por seu trabalho.
Imagino quão grandes foram as barreiras que deve ter encontrado, mas com alegria vejo que não desistiu e certamente terá bons resultados.
Suponho que a grande dificuldade seja reconstruir a verdade sobre terra, trabalho, renda e meio ambiente, conseguir espaço para ensinar o que é real e imaginário, enfim conseguir informar coisas que a midia imediatista e com olhos apenas no Ibope da noite, não tem interesse em abrir espaço.
Faltava eu encontrar a Aliança da Terra, pois ja faço um trabalho diferenciado em pecuaria de corte. Só está faltando eu encontrar um vermífugo homeopático para ser totalmente orgânico. O custo, do desenvolvimento sustentável é bastante oneroso em relação ao convencional, mas com muito esforço estou conseguindo sobreviver.
Muito boa a entrevista e a Aliança da Terra deve ser estendida a outras localidades, como à minha, por exemplo, pois encontrariam em mim um parceiro ja bastante adiantado em preservação ambiental e desenvolvimento sustentável, alem de ja estar encontrando algumas soluções economicas para produzir com eficácia com pouquíssima agressão ao meio ambiente.
Favor informar como posso entrar em contato com John Carter – Aliança da Terra pois achei muito oportuna sua experiencia e seu objetivo em valorizar os fazendeiros que fazer a coisa certa .
Tenho um programa de rádio “Repórter no campo” e diariamente discorro sobre esses assuntos, acredito que o maior problema encontrado para se produzir com responsabilidade ambiental, primeiro é concientizar os envolvidos a falarem a mesma lingua.
Quando se fala nesse assunto cada um tem uma opinião quase sempre radical, ou seja, cada um puxa para o seu lado.
Por ex. um ambientalista – um fazendeiro – um político – um pequeno agricultor.
Queria parabenizá-lo por essa excelente iniciativa sua e da AT, acredito que seja por aí o caminho a percorrer.
Como gostaria de fazer parte desse processo, se é que posso ser útil.
Ja passou da hora de juntar os esforços de todos para que possamos amenizar os problemas de nossas futuras gerações no mundo todo.
Obrigado.
Parabéns Mr. Carter por promover a verdadeira aliança entre produtores e ambientalistas.
Gostaria de saber sua opinião sobre as usinas de cana-de-açúcar do Norte Paulista e a fiscalização ambiental no Estado de São Paulo.
O quê o senhor acha que falta para que essas usinas respeitem e façam mais pelo meio ambiente além das penas aplicadas pela Legislação Paulista?
Obrigada.
Parabens Jonh precisamos de pessoas deste nível intelectual para discutir este assunto, estão enfiando de guela a baixo, criam medidas provisorias de dentro de escritório e ninguém vem conhecer a realidade do campo, dizem que é para fixar o homem ao campo mais estão forçando os produtores a venderem suas terras e virem inchar as cidades, isto só serve para aumentar a bandidagem, e aumentar as bolsas escolas.
Parabéns Jonh!
Disse exatamente o que eu gostaria de ter dito, vi na sua entrevista cada um dos meus problemas e minha luta inglória e cara por soluções que nem sempre são economicamente viáveis.
A seguir um breve relato da luta de mais de 30 anos que eu e minha esposa estamos tentando vencer.
Eu e minha esposa Benedita somos produtores rurais, biólogos, ambientalistas conscientes e preservacionistas.
Possuímos uma área de aproximadamente 600 hectares de cerrado que estamos recuperando e preservando desde 1978.
Quando a compramos era cerrado ralo e degradado pelo fogo colocado todo ano para pastejar a brotação.
Deixamos a vegetação nativa, protegemos as veredas e conservamos o solo fazendo que a água penetrasse nele, elevando o lençol freático e recuperando as nascentes.
O cerrado, antes ralo e praticamente inexistente se recuperou e agora preservado, ocupa a maior parte da área, com vegetação vigorosa e exuberante.
Nas margens das veredas recuperamos e deixamos uma faixa de cerrado de 180 a 200 metros, quando a obrigação legal aqui é de 80 metros.
Nesta área além da flora há uma fauna rica e diversificada, oncinhas pardas, (que comem meus bezerros e carneiros) tatus, capivaras, veados, lobos, raposas, tamanduás, quatis, gambás, macacos, sagüis, lontras, lagartos, teiús, jacarés, sapos, rãs, pererecas, peixes diversos, sucuris, jibóias, cascavéis, corais, jaracuçus, e diversas cobras não venenosas, emas, seriemas, perdizes, codornas, nambus, carcarás, papagaios, araras, tucanos, beija-flores, pica-paus, garças, quero-queros, curicacas, saracuras, e outras diversas aves, abelhas nativas e outros insetos…..
Há um gafanhoto campainha que nunca vi em outro local, canta parecendo um telefone, uma lagartixa (não é lagarto) que passa de 20 centímetros de comprimento.
A vereda do Bimba, coordenadas 17º30´sul, 46º57´ oeste, que só existia na época das chuvas… É perene a mais de 15 anos!
Combatendo as erosões, construindo curvas de nível, bacias de contenção, recuperando a vegetação ciliar até 200 metros das margens e construindo pequenas barragens com sacrifício, dinheiro do próprio bolso e ajuda de vizinhos, (alguns meiaram o diesel) conseguimos torná-la perene, a ponto de vizinhos novos, que já desmataram quase tudo, a usarem para irrigação via pivô central. E continuam desmatando, em breve serão 3 pivôs nesta vereda que antes de 1984 era intermitente. Eu os avisei…
Usávamos aproximadamente 350 hectares na produção de boi verde em cruzamento industrial, nos pastos cultivados com curvas de nível, microbacias e sombreamento. O cerrado esta se recuperando nestes 350 hectares também.
Estamos revertendo o efeito estufa, deixamos de produzir metano e estamos fixando carbono.
No entanto, para continuarmos a recuperar e preservar como todos querem precisamos tornar esta preservação economicamente viável.
No entanto, para continuarmos a recuperar e preservar como todos querem precisamos tornar esta preservação economicamente viável, (vender créditos de carbono, vender cotas de preservação, vender árvores preservadas, vender produção de água pura, patrocínios de preservação, etc…) ou vender a área. Somos teimosos, estamos tentando, mas esta difícil!
Temos recebido propostas de pecuaristas, agricultores, madeireiros e usineiros, mas não gostaríamos de ver isto tudo que recuperamos e preservamos ser depredado, destruído como vem acontecendo nos vizinhos.
Já tentamos créditos de carbono, ONGS preservacionistas, SOS cerrado, ambientalistas e nada!
Até agora não obtivemos sucesso e can$$amos.
Gente que só fala em preservar a área dos outros. Gente que, mobiliza a opinião pública para obter apoio para suas denúncias, mas na hora de agir, de investir, de colocar o discurso em prática, na preservação, no que interessa. Nada.
Quer água limpa para beber mas nunca bloqueou e recuperou uma erosão, nunca fez uma curva de nível, uma bacia de contenção, uma barraginha, nunca recuperou uma nascente.
E nem sabe quanto custa tudo isto.
Quer ar puro para respirar, reverter o efeito estufa, mas não preserva e nem paga para quem preserva, só fala, grita, acusa, quer que os outros preservem.
Na hora de colocar o $eu. Não coloca.
Todos eles querem preservar o meio ambiente com o bol$o dos outros, não dão nem uma mãozinha pra preservar pelo menos a água potável para seus netos.
Veja fotos da fazenda WB Traíras na minha página do banco do planeta acessando:
http://www.bancodoplaneta.com.br/profile/WilsonTarcisoGiembinsky.
Verá áreas de agricultura e pastagens dos vizinhos, onde deveriam ser matas ciliares e em contraste, ao fundo, as áreas de cerrado que recuperamos e preservamos.
Aceitamos sugestões, parcerias, idéias economicamente viáveis, de preferência a curto prazo, ou mesmo vender para quem continue a preservar….
Sabe como? Tem idéias? Tem meios? Faz parceria? Pode ajudar?
Conhece alguém que pode? Tem contatos?
Pode neutralizar sua emissão na minha área?
Pode apagar sua pegada de carbono conosco?
Pode comprar uma árvore preservada?
Estamos pensando em criar um condomínio preservacionista, você compraria cotas?
Venha nos visitar e conhecer de perto nosso trabalho e a nossa luta entre sobreviver e preservar, se desmatássemos seria economicamente mais fácil e há momentos em que pensamos seriamente em fazê-lo, principalmente quando o bolso grita.
Aó na semana passada as onças comeram 13 carneiros, no ano passado foram 28 bezerros, elas ficam por aqui porque temos matas e os vizinhos continuam desmatando tudo.
Abraço,
Wilson
Parabéns.
São atitudes assim, bem como essa grande quantidade de respostas positivas, que deveriam nortear, não só os produtores e consumidores de produtos agropecuarios, mas todos nós, cidadãos brasileiros.
Precisamos de mais genetica de norte americanos como esse senhor Jonh Carter.
É difícil dizer que podemos salvar o nosso planeta. Mas com certeza podemos dizer que é possível melhora-lo, fazendo cada um a sua parte.
Como fazer e o que é necessário para ser um membro da ALIANÇA DA TERRA?
Don Jefferson N’to