Por Luciano Medici Antunes1
Quem viu o excelente filme “Uma Mente Brilhante” que retrata a vida do cientista esquizofrênico John Nash, além de superar a forte carga emocional que o filme trás, deve procurar entender o fantástico trabalho desenvolvido por ele e como o mesmo afeta diretamente o nosso dia a dia.
A “Teoria dos Jogos”, aplicado as regras da economia, apresenta de forma clara como nossas ações tomadas no dia a dia podem trazer reflexos positivos ou negativos para nós mesmos e para o coletivo no qual estamos inseridos.
O que John Nash conseguiu provar através de modelos matemáticos foi que, às vezes, tomamos decisões pensando em nosso benefício pessoal e, por prejudicar o coletivo, acabamos tendo prejuízos maiores do que, se ao tomarmos esta decisão, tivéssemos pensado no coletivo e não visado apenas o benefício próprio e o curto prazo.
Para entendermos isso um pouco melhor, vamos pegar um exemplo comum entre os produtores de carne bovina: “Um determinado produtor vai vender seus animais para o abate. O frigorífico para qual ele sempre vende lhe oferece o preço do mercado. Um abatedouro clandestino, descobre que existem esses animais à venda e lhe oferece uns poucos centavos a mais por quilo. O produtor pensa: estou precisando de dinheiro, este abate clandestino vai acontecer com ou sem meus animais e o governo vai mesmo usar mal o dinheiro dos impostos que minha venda legal iria gerar. Então, ele faz a venda para este abatedouro. Mas qual é prejuízo pessoal que ele terá ? Em primeiro lugar, o abatedouro clandestino somente existe porque ele e outros produtores repetem o raciocínio acima apresentado. Com isso, a indústria frigorífica, que é fundamental para o produtor, pois é quem compra seu produto, fica enfraquecida. Enfraquecida, esta terá de pagar menos pelo produto. Muitas vezes esta indústria até quebra, gerando calotes para este mesmo produtor. As estradas, linhas de crédito e pesquisa agropecuária ficam prejudicadas pois a arrecadação de impostos cai.
Conclusão: a atitude que o produtor considerou benéfica para si, volta-se contra ele em prejuízos muito maiores do que o benefício conseguido. “Teoria dos Jogos” é isso. Quando tomamos uma atitude podemos pensar em nós ou no coletivo. E, muitas vezes, o melhor para o coletivo, embora não pareça, é o melhor para nós.
Com a rastreabilidade, podemos utilizar a “Teoria dos Jogos” de forma muito clara, e o melhor, podemos direcionar o resultado que queremos pois o jogo está apenas começando. Se cada um pensar apenas em si, e não no coletivo, existe a forte tendência que a rastreabilidade não aconteça no Brasil. Neste caso, este produtor terá feito uma economia em um primeiro momento, achando que para ele, para o individual, tomou a decisão certa. No entanto, a conseqüência desta ação individual (se repetida por muitos), será a perda pelo Brasil de seus mercados de exportação. Com isso, teremos excesso de produto sendo oferecido ao mercado interno. A queda vertiginosa dos preços será apenas uma conseqüência natural. A economia feita pelo produtor não rastreando seu rebanho, volta-se contra ele, em prejuízos muito maiores.
Por isso, acreditando ou não nas novas tecnologias oferecidas, devemos estar atentos ao comportamento do mercado, e como nossas ações individuais se refletem no mesmo. O mercado é a soma de nossas ações individuais. É resultado direto da escolha de cada um. É fruto direto de sermos altruístas ou egoístas. Qual é a sua escolha ?
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1Luciano Medici Antunes é Engenheiro Agrônomo e Diretor Corporativo do Grupo Planejar