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José Luiz M. Costa Kessler: mais incentivo para a cria

A etapa que maior impacto produz em todos os segmentos da cadeia de produção é o elo mais frágil do processo e, normalmente, não dispõe nem da alternativa da retenção do produto para tentar melhorar a remuneração do produto. Penso que medidas de proteção à cria devam ser implementadas sob pena de travar-se qualquer perspectiva de crescimento do rebanho.

O leitor do BeefPoint José Luiz Martins Costa Kessler (Produção de gado de corte), de Pelotas/RS, enviou um comentário ao Editorial “Preços do bezerro e o futuro da atividade de cria“. Abaixo leia a carta na íntegra.

“A escolha do tema e a didática exposição ilustram com muita clareza o desafio de manter-se atrativa a atividade da cria bovina no Brasil.

No Rio Grande do Sul, por suas particularidades ambientais e culturais, a produção de terneiros de corte se realiza sobre campos naturais (Campanha, Planície Costeira, Campos de Cima da Serra).

Nestas pastagens naturais os produtores buscam através do aumento da produção ampliar a receita e reduzir os custos, mas sabem que estão expostos a duas grandes variáveis que não controlam, o clima e o preço de venda.

Sabem também que para reduzir seus custos, devem fazer coincidir a época de nascimentos com o início do crescimento dos pastos na primavera determinando assim, forte sazonalinade da oferta para os meses do outono, época do desmame da nova safra.

Aqui no RS, o terneiro só se valorizou quando a oferta enxugou e o preço do boi estava em alta. Na maioria das oportunidades a relação sempre ficou muito favorável ao invernista. Em anotações que mantenho, verifiquei que a relação de troca boi/terneiro nos últimos anos foi 1:3,2 em 2005, 1:2,7 em 2006, 1:2,3 em 2007, 1:2,4 em 2008 e 1:2,9 em 2009, indicando que após breve declínio já ocorreu forte recuperação neste ano.

Esta situação revela que a etapa que maior impacto produz em todos os segmentos da cadeia de produção é o elo mais frágil do processo e, normalmente, não dispõe nem da alternativa da retenção do produto para tentar melhorar a remuneração do produto. Penso que medidas de proteção à cria devam ser implementadas sob pena de travar-se qualquer perspectiva de crescimento do rebanho gaúcho.

Aqui no RS, certamente teremos uma redução na produção em 2010, conseqüência da forte seca deste último verão, mas este fator isoladamente não garantirá uma melhora na relação de troca e em estímulo para a fase da cria.

Acredito que o crédito rural para compra ou retenção de terneiros, oferecido amplamente aos produtores com prazos compatíveis ao retorno dos investimentos, poderia ser uma medida de grande e positiva repercussão para a atividade da cria bovina.”

Clique aqui para ler mais opiniões sobre este assunto.

0 Comments

  1. Julio M. Tatsch disse:

    Caro amigo e colega José Luiz
    Entendo que como técnicos da produção temos o vício de origem de acreditar que aumentando a produção total, aumentaremos a nossa rentabilidade. Frequentemente nos esquecendo que os preços ofertados a nossa mercadoria, tem relação direta com o volume produzido versus a demanda.
    Frigoríficos e varejo, tem apostado e acertado na maioria dos anos, de que sempre existirão produtores “dispostos” a vender abaixo do seu custo TOTAL de produção, seja por desconhecimento deste custo ou por necessidade.
    Neste sentido, acho desaconselhável na maioria dos casos, nos utilizarmos de financiamentos, que resultarão em aumento do nosso custo unitário total de produção e acrescentarão outro efeito negativo, via aumento da oferta final, que se não for acompanhada do aumento da demanda, resultará na redução dos preços ofertados aos produtores.
    Destaco que muitos setores da economia, fazem um acompanhamento atualizado dos volumes ofertados e da demanda, procurando defender suas margens de lucro. A pecuária de corte está a anos luz disto!
    Outra triste constatação, é que a ação primeira dos invernadores ou terminadores, seja pressionar os preços pagos aos criadores, quando o correto seria agir PRIMEIRO sobre frigoríficos e varejo, estes últimos com margens de lucro absurdas. A maioria dos produtores demonstram não ter noção da necessidade de que todas as fases da produção sejam lucrativas, para termos uma pecuária sustentável a longo prazo.
    Quanto ao RS, entendo que deveríamos buscar uma equalização ou equilíbrio nos tributos e benefícios fiscais das carnes que entram no estado, com as aqui produzidas, reduzindo a competição desleal e predatória. Onde certamente os maiores perdedores são os produtores.
    Este passeio das carnes pelos vários estados do Brasil, onde tributos, crédito fiscais, destinos, conformidade dos cortes e valores constantes nas notas fiscais com a carga “real” somado a dificuldade e falta de estrutura fiscal para aferição, facilitam as fraudes. Explicando em parte os verdadeiros milagres de preços praticados nas gôndolas, quando comparados a distância do local de produção das carnes.
    Por último, se este problema é antigo e de conhecimento de muitos, qual o motivo de não ter sido enfrentado por nossos representantes de classe?
    Lembro, os que vivem da produção necessitam de resultados, pois o efeito prático das “ações” que não ultrapassam as páginas dos jornais, é apenas dar mídia aos interessados nos votos dos pouco esclarecidos.
    Obs.: Saúdo o trabalho realizado por grupos de trabalho e associações da zona sul do RS, das quais o amigo José Luiz faz parte, buscando conscientizar os produtores e pela justa rentabilidade.
    Grande abraço

  2. José Luiz Martins Costa Kessler disse:

    Prezado amigo Julio,
    Com muita alegria li suas ponderações sobre os comentários que acresci ao Editorial “Preços do bezerro e o futuro da atividade de cria”. Certo estás em alertar para nossa tendência de aumentar a produção sem uma correta análise das tendências do preço. É necessário que tenhamos boas informações antes de tomarmos a decisão, mas de forma geral, nosso vício se baseia na clara percepção de que o desafio de continuar a oferecer alimentos ao mundo apontará para a necessidade de sermos mais produtivos ocupando o mesmo ou menor espaço. E, na bovinocultura, o segmento da cria é, sem dúvida aquele, que merecerá maior preocupação com a rentabilidade. Sua idéia de desaconselhar financiamentos parte da premissa que haverá aumento do custo unitário, aumento da oferta e possibilidade de restrição da demanda mas, minha sugestão foi de oferecer crédito rural amplo para investimento na aquisição de terneiros (garantia de demanda) ou para dar capacidade do criador terminar seu produto (aumento do lucro) em prazo compatível com esta atividade (24 meses). Assim imagino que possamos estimular esta fase primordial e imprescindível a toda cadeia da carne bovina. Com relação a tributação e a as nossas representações, penso que é problema nosso e de responsabilidade intransferível. Insistimos em ser individualistas e, respeitadas as exceções, não conseguimos ser solidários, cooperativos e proativos quando o objetivo é nossa organização como classe. Forte e fraterno abraço, José Luiz