É preciso deixar claro alguns absurdos impostos pela UE nesta história dos controles das propriedades autorizadas a exportar. As exigências da UE não são parte das regras oficiais do SISBOV, tendo sido implantadas pelo governo brasileiro exclusivamente por pressão da UE. Mas agora não há mais qualquer justificativa para mante-las.
O leitor do BeefPoint José Ricardo Skowronek Rezende (Produção de gado de corte), de São Paulo/SP, enviou um comentário ao artigo “UE deve avaliar flexibilização das regras para exportação de carne bovina“. Abaixo leia a carta na íntegra.
“É preciso deixar claro alguns absurdos impostos pela UE nesta história dos controles das propriedades autorizadas a exportar:
a) O governo ter que enviar regularmente as propriedades certificadas e auditadas oficialmente com sucesso para que sejam incluidas em um lista de propriedades habilitadas pelo órgão competente europeu. Esta medida é simplesmente um entrave burocrático sem qualquer sentido a não ser protelatório e não acrescenta uma única grama de segurança ao processo. Temos um sistema de rastreabilidade implantado e a UE o audita regularmente. Não há porque não termos autonomia na gestão do nosso sistema e a UE não faz este tipo de exigência para outros países exportadores de carne.
b) O governo ter que auditar previamente 100% das propriedades certificadas participantes do SISBOV antes das mesmas serem habilitadas a ter a carne de seus animais exportada para a UE. Mundialmente as auditorias de um sistema de certificação seguem critérios técnicos de amostragem. A exigência numa situação de crise grave de confiança até pode ser compreendida, mas sua manutenção apenas onera os produtores, certificadoras, frigoríficos e governo.
E ambas as exigências não são parte das regras oficiais do SISBOV, tendo sido implantadas pelo governo brasileiro exclusivamente por pressão da UE. Mas agora não há mais qualquer justificativa para mante-las.”
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O que realmente é penoso é ter que enviar o processo de certificação para uma comissão da ue concluir a inclusão da mesma na lista.
depois do trabalho árduo da propriedade, certificadora, fiscalizações estaduais (uvl) e federais (mapa), ainda temos que nos submetermos à aprovação final de todo o processo por algo que não conhecemos ao certo se é um grupo de pessoas ou de interesses.
ao meu ver, aí está a necessidade de ajustes no processo de certificação. o aval final deve ser do mapa.
Prezado Roberto Ferreira da Silva,
Seu argumento esta 100% certo. Sem dúvida não faz sentido o Brasil ter que enviar os processos de certificação para serem analisados previamente pela UE. Esta história vem desde o fechamento do mercado europeu e da polêmica da primeira lista de 3.000 mil propriedades habilitadas que depois foi reduzida para 300 e por último menos de 100 propriedades. Mas isto esta perdido no tempo. Já vieram ao Brasil três missões da UE depois disto para auditar o nosso sistema. Se a UE quiser que continue enviando suas missões para auditar regularmente o nosso programa de rastreabilidade in-loco, mas sempre a posteriori. O MAPA tem que ter autonomia na gestão do SISBOV.
Mas também não faz sentido o governo brasileiro ter que auditar 100% das vistorias realizadas pelas certificadoras. É um processo extremamente caro e só aceitável numa situação extrema, completamente atípica. As auditorias oficiais em 100% das propriedades foram importantes para quebrar vícios do setor e resgatar a credibilidade perdida, mas podem agora perfeitamente seguir a lógica de um bom plano amostral. O que temos que demonstrar é um gerenciando de riscos adequado.
Att,
O problema em nosso país é falta de credibilidade, causada pelos compromissos passados assumidos e não cumpridos, de forma sistemática.
Os importadores, pressionados pelos produtores de seus respectivos países, se sentem confortáveis em exigir que o estado garanta os compromissos assumidos, verificando 100% das propriedades candidatas a exportar a carne de seus animais.
Nosso ufanismo exacerbado, nos faz esquecer facilmente os problemas decorrentes da relação de Propriedades consideradas “ERAS”, que nunca haviam sido auditadas pelo órgãos competentes. Basta pesquisar o assunto “ERAS” aqui mesmo no BeefPoint, é uma vergonha.
Estamos colhendo o que plantamos, a política do “finge que faz, que eu finjo que acredito” não cola quando os interessados externos estão defendendo seus próprios interesses, assim como nós faríamos se estivéssemos no lugar deles.
Infelizmente, os poucos que fizeram o trabalho de forma correta, e dentro das regras, sofrerão as conseqüências da preguiça, da má fé, ou simplesmente da pura incompetência dos responsáveis pelo sistema.
É necessário mais que promessas e artigos inflamados, para que acreditem que agora é pra valer…
Esperar pra ver…
Prezado José Manoel de Mesquita,
De fato o fechamento no início de 2008 do mercado europeu a nossa carne foi resultado de perda de credibilidade no processo de rastreabilidade brasileiro. Infelizmente justifcada. E não devemos nos esquecer disto. Pelo contrário. Arcamos todos, aqueles que agiam corretamente inclusos, com pesados prejuízos.
Só após muito esforço dos envolvidos conseguimos sanar graves vícios enraizados e recuperar a credibilidade perdida junto a UE. Esta conquista não foi em cima de promessas ou discursos inflamados e sim de seriedade e trabalho. E foi atestada pelas missões da UE enviadas para auditar nosso sistema.
O que estou dissendo é que podemos sim, diante dos avanços, almejar novamente autonomia plena na habilitação das propriedades exportadoras. Não acredito que, se não tutelados, estamos fadados a incorrer sempre nos mesmos erros. Erramos, aprendemos e evoluimos.
A pecuária brasileira como um todo avançou nos últimos 20 anos mais que em outros paises justamente por sua capacidade única de superação, que tem surpreendido nossos concorrentes. Isto não é ufanismo e sim uma realidade que pode ser atestada de diversas formas.
Att,
Estou fazendo meu TCC sobre esse tema Rastreabilidade, muito competente nas suas argumentaçoes, informaçoes que futuramente serao cumpridas.
Ainda temos o problema de agora termos que nos mobilizar para saber a% de brincos que estão sendo “arrancados” dos lotes de animais ,até uma quantidade aceitável pela UE, já que nossa terminação e recria é toda ()extensiva .
Prezado Mario Paes Leme,
Concordo 100% com sua preocupação.
O elavado nível de perdas de identificadores é, ao meu ver, a maior dificuldade operacional que o produtor enfrenta atualmente para manter a rastreabilidade dos animais.
A CNA, sindicatos rurais, associações de produtores e o próprio Ministério da Agricultura precisam realizar um abrangente levantamento a campo dos indices de perda de identificadores. E este levantamento deve considerar que o ciclo médio de produção de um boi a pasto é de 36 meses.
Pela norma oficial os identificadores padrão deveriam durar dez anos, mas como produtor sei bem que dificilmente passa de dois anos o tempo de permanência dos mesmos na orelha dos animais.
Precisamos lutar simultaneamente pela melhora urgente da qualidade dos “brincos”, pela simplificação do processo de re-identificação dos animais e pela busca de alternativas de identificação seguras e viáveis economicamente.
Att,
Prezado Saulo Temponi,
Muito obrigado pela consideração.
Att,
Realmente,o colega está bem certo,pois uma nova reidentificação demora tanto que é mais fácil o produtor arrumar um modo de descartar aquele número,de que modo não sei,do que tentar o modo correto. Tudo muito longe do produtor e da propriedade,e ate´ mesmo longe da nossa realidade. Algumas inovações rápidas devem serem incorporadas,ié,um remanejo grande neste SISBOV atual.
Prezado Mario Pires Leme,
Uma solução simples para o processo de reidentificação, para aqueles que optaram pela dupla identificação, seria, sempre que detectada a perda de um dos identificadores, substitui-lo por um novo par de identificadores amarelos com um novo código SISBOV e informar a BND para que baixe o primeiro código e inclua o segundo código.
Porém a BND ainda não permite a operação como descrita, só aceitando o envio da “baixa” e da “inclusão” em operações separadas. Esta restrição impede que a BND vincule um código ao outro e por isto o animal identificado com o novo código reiniciará contagem de noventena do animal em questão como se fosse um animal novo, o que não é verdade.
Mas independente desta “penalidade” injusta ainda acho que na maioria das vezes este caminho é melhor que a solicitação de re-impressão de identificador laranja. Como há um prazo entre a solicitação da reimpressão e o recebimento do identificador há o risco de perda do identificadora remanescente, inviabilizando a correta reidentificação, além dos riscos de reidentificação trocada quando solicitamos a reimpressão de mais de um identificador.
Mas tão importante quanto esta simplificação do processo é a melhoria urgente da qualidade dos identificadores utilizados.
Att,
Prezado José Ricardo,
é muito interessante ver sua argumentação, mostra sua preocupação com a rastreabilidade, o funcionamento do SISBOV e as absurdas exigências dos importadores, bom para pessoas que, como eu, desejam se aprofundar sobre o tema/sistema.
Mas também concordo com o José Mesquita: foram anos e anos de promessas de alguns e descaso de outros, todos igualmente resposáveis.
No que tange à melhoria no sistema de identificação eu gostaria de perguntar para você e para os outros: já pensaram em utilizar sistemas complementares de identificação animal e entre eles o sistema e identificação pelo DNA (identificação genética)?
Att,
Prezado Sr Geórgio Freesz Valadares,
Obrigado pela consideração.
Sem dúvida cometeram-se muitos erros no processo de implantação do SISBOV. E ainda há erros ocorrendo. Mas entendo que isto seja inevitável em uma atividade nova e que o mais importante é enfrentar os erros e seguir adiante. As conquistas não são fáceis e dependem de persistência. A mudança das normas pode contribuir para melhoria do sistema, mas jamais solucionará magicamente todas as dificuldades.
Já o uso de sistemas de identificação complementares é uma realidade no SISBOV. Pessoalmente uso brincos eletrônicos associados aos brincos padrão SISBOV com sucesso a algum tempo. Mas não tenho notícia no Brasil de uso de identificação por DNA para rastreabilidade em larga escala. Seria preciso avaliar sua operacionalização e custos.
Att,
Prezado José Ricardo,
Exato, é como aquela frase: “Mais difícil do que chegar ao topo é nos mantermos lá”. Sempre tem um “vento” querendo nos derrubar…
Comecei a participar do fórum para conhecer mais sobre a cadeia produtiva de bovinos, minha empresa, a Biomicrogen, vem se dedicado a desenvolver sistemas de rastreabilidade para bovinos e suínos que usam informações genéticas para complementar a rastreabilidade por chips, brincos, GTAs e etc, que chamamos de “convencional”.
As informações genéticas (a identidade) de cada animal podem ser facilmente inseridas no banco de dados do animal e em caso de problemas, tem-se a possibilidade de coletar o DNA na carne e se chegar com total exatidão ao animal original, evitando problemas com eventuais fraudes e falsificações.
Parece absurdo pensar em usar o DNA para rastreabilidade, mas há algum tempo observamos que no exterior essa já é uma prática em andamento e agora parece chegar também ao Brasil.
As iniciativas do Carrefour e Pão de Açúcar em criar marcas especiais para produtos com garantia de origem e “sustentabilidade”, vêm de encontro ao que acontece no exterior: Uma forma de fortalecer a marca e agregar valor ao produto.
Em larga escala, só um sistema que garanta a identidade do animal após o processamento da carne é que vai permitir a chamada rastreabilidade total.
Posso citar como um bom exemplo disso o caso da febre aftosa: o Brasil briga pelo reconhecimento de zonas livres de aftosa para exportar carne para os mercados mais exigentes, os quais ainda usam esse argumento como barreira aos nossos produtos.
Com um sistema de rastreabilidade total, qualquer corte de carne permite que se chegue ao animal original, permitindo reconstruir toda a história de vida do mesmo.
Espero poder contribuir e aprender muito mais com as discussões do fórum Beefpoint e fico à disposição para maiores informações e esclarecimentos.
Att,
Prezado Geórgio Freesz Valadares,
Realmente muitas vezes manter-se no topo da montanha exige tanto ou mais esforço que para alcança-lo.
Não acho absurdo associar teste de DNA com processos de rastreabilidade e sei que isto já esta sendo implantando em algumas partes do mundo.
Acredito que o uso de informações genéticas associadas a bancos de dados responsáveis pela rastreabilidade dos animais agregue mais segurança e principalmente “auditabilidade” ao processo.
Mas precisamos analisar também os custos da adoção deste procedimento. Para trasnformar um dado genético em informação de um banco de dados teremos que realizar testes de DNA em todos os animais. Em grandes escalas quanto custaria cada teste?
Um caminho alternativo é o frigorífico simplesmente recolher e armazenar o material genético de cada animal (exemplo: amostra de pelo da cauda do animal em pequeno envelope plástico) e só realizar o teste de DNA no material armazenado quanto houver necessidade (em caso de detecção de problemas).
Como atualmente todos os frigoríficos com SIF já “vinculam” ao menos os cortes de carne com os abates de animais ocorridos em determinada planta frigorífica e data os testes, quando necessários, serviriam para identificar especificamente a origem do(s) animal(is) “problema” dentre os animais abatidos.
Att,
Prezado José Ricardo,
É justamente pensando nessa “auditabilidade” e na segurança que um sistema de rastreabilidade total propociona é que demos início ao desenvolvimento do uso de marcadores genéticos para a rastreabilidade.
Inicialmente desenvolvemos o sistema voltado para a suinocultura e agora estamos disponibilizando o mesmo para os bovinos.
Ainda em fase de desenvolvimento, também estamos avaliando o uso de marcadores genéticos para identificar características desejáveis nos animais (tanto nos reprodutores quanto na progênie).
Quanto aos custos da identificação animal pelo seu DNA, por envolver um número menor de marcadores do que um exame de paternidade (DNA) convencional, estimamos os custos em metade ou até mesmo um terço dos custos de um exame de paternidade (custo por animal), podendo esses valores serem ainda um pouco mais reduzidos no caso de muitas análises.
A informação que o exame gera é facilmente associável às informações com os dados do anmal que já estão no banco de dados da fazenda.
A questão que vc levantou sobre haver um “banco de material genético” armazenado no frigorífico pode acabar ficando cara, na medida em que pode ser necessário fazer muitas análises (um lote inteiro, por exemplo) e em curtíssimo espaço de tempo para sanar um eventual problema.
O problema recente com a carne processada brasileira encontrada nos EUA com níveis elevados de ivermectina: Se um sistema de identificação por DNA estivesse em uso, poderíamos chegar à origem do(s) animal(is) com problema, reconstruir o caso, responsabilizar os envolvidos e evitar penalidades para os “inocentes”. Pode ser um caso isolado, de apenas uma propriedade com problemas (já que foram detectados em alguns lotes). Mas para sanar a dúvida (que ainda persiste e pelas notícias ainda vão levar mais uns 15 a 20 dias para resolver – segundo o Ministro Rossi) foi necessário aumentar as análises de resíduos e colocar em dúvida uma série de procedimentos.
Nós pensamos no uso da identificação por DNA em um passo além de solucionar problemas de identiicação: fortalecer a “marca” de produtos de qualidade, oferecendo a segurança que o consumidor exige cada vez mais e se dispõe a pagar por ela.
Att,