Por Olavo Alves1
Muitos pecuaristas têm enfrentado nos últimos meses um grande dilema: continuar numa atividade que ano a ano oferece uma margem de lucro pequena ou arrendar suas pastagens para o plantio da soja e sucumbir aos ganhos do novo ouro verde? Sei que a resposta é difícil, mas longe de ser um mago ou um grande conhecedor do assunto, penso que a solução esteja em praticar as duas fontes de renda na propriedade, ou melhor, integrar lavoura e pecuária, investindo na produção de carne bovina e de grãos e, aproveitando em ambas, a tecnificação que a empresa agropecuária dispõe.
Recentemente, estive na Fazenda 3 Corações – empresa do Grupo Ipê, com sede em Mandaguaçú/PR, onde a atividade principal é a produção de grãos e sementes – e constatei que o sistema é possível e pode trazer muitos benefícios para o produtor rural. Além de associar a estrutura de maquinários e insumos da área agrícola com o setor pecuário, aproveitar melhor os resíduos e eliminar os riscos de perdas com as culturas de inverno – principalmente, o trigo – a Agropecuária Ipê conseguiu, em quatro anos, que a lotação de animais por hectare passasse de 3,3 UA/ha para 6,78 UA/ha. Para obter este resultado, todo o complemento na alimentação do rebanho bovino é feito com as palhadas do milho, do trigo e, nos meses de temperaturas mais baixas, com o pastoreio da aveia. No ano passado, com o uso da técnica, a propriedade atingiu um ganho médio diário de 540 g por cabeça na palhada do milho e do trigo, e de 700 g com a aveia.
Outro detalhe importante é que a produtividade da 3 Corações fechou em 2003, com média de 414 kg de carne por hectare/ano. Resultados que mostram que a técnica é viável, simples e ajudam a empresa a fugir do convencional.
Entretanto, notei também que para o sistema ser expandido em grande escala no país algumas barreiras precisam ser vencidas. Primeiramente, a de âmbito “cultural”, ou seja, por falta de conhecimento técnico, alguns produtores e pesquisadores enfatizam os avanços de culturas como a soja, e esquecem de se atentar para a produtividade de outros sistemas. Pecuária tecnificada e realizada em condições semelhantes à da agricultura obtém rentabilidade igual e com uma grande vantagem para o produtor rural que utiliza o sistema de integração: grãos e carne de alta qualidade.
Outra barreira é a falta de uma política de financiamentos mais comprometida com o setor pecuário. O tratamento deveria ser idêntico ao que é dado para a área agrícola, isto é, as linhas de financiamento deveriam englobar técnicas como a integração lavoura e pecuária, facilitando assim a captação de recursos pelo produtor rural.
Neste momento, em que o agronegócio brasilieiro responde por cerca de 41% das exportações do país e bate novos recordes históricos, é necessário que os segmentos que o compõe aprendam a se interagir entre si e deixem de debater qual é o elo da cadeia produtiva responsável pelo sucesso do setor. Por isso, creio que, além da união, o sistema integração lavoura e pecuária é uma grande ferramenta para ajudar o produtor rural a definir o caminho certo na busca de melhores índices de produtividade e, consequentemente, aprimorar a sua renda.
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1Olavo Alves é jornalista especializado em agropecuária e assessor de imprensa da Associação Brasileira de Limousin.