Às vezes, o Brasil está atrasado mais de 500 anos. O açougue, o matadouro, a carne do animal retalhada, já foi parar em várias telas, com muita insistência, entre os séculos 16 e 17, o que faz sentido. Era um tempo de contraste entre a carne e o espírito. O animal aos pedaços nos lembrava, ao menos em parte, do que éramos feitos.
Na segunda-feira (25), o colunista da Veja, Reinaldo Azevedo, publicou uma notícia em seu blog sobre a comercialização de carne bovina, comparando o mercado de hoje com o século XVI e XVII. Leia na íntegra:
“Às vezes, o Brasil está atrasado mais de 500 anos.
O açougue, o matadouro, a carne do animal retalhada, já foi parar em várias telas. Com muita insistência, como vocês verão abaixo, entre os séculos 16 e 17, o que faz sentido. Era um tempo de contraste entre a carne e o espírito. O animal aos pedaços nos lembrava, ao menos em parte, do que éramos feitos.
Vejam esta foto de Sérgio Dutti do Brasil do século 21. É um matadouro da cidade de Vazante, em Minas. Prestem atenção agora às imagens que seguem. Todos esses quadros se chamam “Açougue”. Atribuo as respectivas autorias e o período em que viveu o artista”.
Fernando Sampaio, diretor-executivo da ABIEC, comentou sobre o post:
“Sou Diretor-Executivo da ABIEC, a Associação das Indústrias Exportadoras de Carnes. No ano passado, as exportações de carne bovina renderam ao país US$ 5,7 bilhões em divisas ao país.
Nossos frigoríficos estão entre os melhores do mundo. É o único tipo de empresa no Brasil que tem durante todo seu período de funcionamento um fiscal federal dentro de sua estrutura. São permanentemente fiscalizados não só pelo Ministério da Agricultura mas por missões estrangeiras de vários dos 138 países para onde exportamos.
Apesar de termos contribuído para o desenvolvimento econômico do país e pelo equilíbrio da balança comercial na última década, sofremos, como toda a agroindústria brasileira, pela infraestrutura precária, pela legislação obsoleta, pelo custo Brasil, tributação e etc.
Obviamente é uma vergonha que o maior exportador de carne do mundo tenha que conviver com cenas dessa natureza. O que pedimos hoje não é nada além de um ambiente de negócios, onde as regras sejam válidas para todos. Regras de inspeção, segurança alimentar, ambientais, trabalhistas e fiscais.
Cerca de metade do abate nacional de 40 milhões de cabeças é feito em frigoríficos estaduais, municipais, ou em frigorífico nenhum. Não existem estatísticas confiáveis, não existem relatórios de inspeção, dados sobre arrecadação, informações sobre a origem dos animais ou o destino da carne.
Enquanto isso o Ministério Público Federal compara nossas maiores indústrias a traficantes, receptadores de produto ilegal. Partindo da tese equivocada de que o boi é a causa do desmatamento da Amazônia (as causas reais estão ligadas ao caos fundiário, à especulação de terras e a absoluta ausência de governança na região de fronteira), acharam por bem transferir as responsabilidades do poder público ao setor privado. Hoje, através de termos de ajustamento de conduta, cabe aos frigoríficos impor uma regularização fundiária, ambiental e trabalhista no campo. Fornecedores com desmatamento, em conflito fundiário com terras indígenas e unidades de conservação (mesmo os que já estavam lá antes da demarcação) são excluídos de uma cadeia normal de comercialização sem nada que lhes aponte uma saída.
Ou seja, estamos fomentando essa cadeia paralela e medieval de abate e venda de carne, com os riscos inerentes à saúde pública e o prejuízo ao fisco e à imagem do país.
O Ministério Público do Trabalho também iniciou uma força tarefa contra os grandes frigoríficos do país. Partindo de uma tese, também equivocada e sem paralelos no mundo, de que o frio causa adoecimento nos trabalhadores, reinterpretaram um artigo da CLT para poder punir os frigoríficos. Uma nova norma regulamentadora para trabalhadores de frigoríficos foi finalizada no final de 2012 após longa negociação. Para se adaptarem a ela, os frigoríficos deverão investir R$ 7 bilhões.
Já dos matadouros responsáveis por metade do abate do país, ninguém cobra nada. Nem tratamento de água, nem destino de resíduos sólidos, nem a mais básica inspeção sanitária. Nem o MPF, nem o MPT, nem prefeituras e nem estados.
A verdade é que é muito mais fácil ser clandestino neste país”.
Fonte: Veja, resumida a adaptada pela Equipe BeefPoint.
1 Comment
Falou e disse Fernando!
Parabéns.
É mais fácil cobrar de quem tem condições de pagar.
E dá menos trabalho do que arrumar o que precisa ser arrumado.
Um abraço,
Marcelo