Leitor comenta a rastreabilidade e mudanças no Sisbov

O leitor do BeefPoint, Julio Tatsch, de Caçapava do Sul/RS, nos enviou comentário sobre a notícia, "Mapa não prorrogará prazo para adesão ao novo Sisbov" publicada na seção Rastreabilidade e Certificação, em 16/10/07. No comentário o agropecuarista gaúcho nos mostra sua visão sobre o sistema de rastreabilidade vigente hoje no país. E convida para um debate todos os elos da cadeia da carne bovina, tentando esclarecer quais a necessidades reais e quais devem ser os próximos passos nesse sentido.

O leitor do BeefPoint, Julio Tatsch, de Caçapava do Sul/RS, nos enviou comentário sobre a notícia, “Mapa não prorrogará prazo para adesão ao novo Sisbov” publicada na seção Rastreabilidade e Certificação, em 16/10/07. No comentário o agropecuarista gaúcho nos mostra sua visão sobre o sistema de rastreabilidade vigente hoje no país. E convida para um debate todos os elos da cadeia da carne bovina, tentando esclarecer quais a necessidades reais e quais devem ser os próximos passos nesse sentido.

O pecuarista vende os bovinos aos frigoríficos com nota fiscal, onde consta seu nome e CPF, junto com uma guia de transito animal (GTA), emitida pelas inspetorias veterinárias onde estiver localizado a sua propriedade rural. Sendo que neste órgão o pecuarista é obrigado a apresentar periodicamente suas notas de vacina anti-aftosa e documentação apropriada de suas movimentações bovinas, as quais são conferidas por funcionário do governo e ratificadas mediante assinatura do pecuarista.

Este procedimento é aceito e considerado válido pela imensa maioria dos importadores de carne bovina, portanto não exigindo a rastreabilidade bovina individual via brincos, ou de forma prática com um “aval externo ao sistema”, das chamadas certificadoras.

Quantificando o alegado, até setembro de 2007, segundo dados da Secex, o Brasil exportou um total de 1.703.078 toneladas de carne bovina em equivalente carcaça in natura e industrializada. Sendo que para a União Européia e Chile, destinos com volumes relevantes que exigem rastreabilidade, foram exportados um total de 214.637 toneladas de carne bovina em equivalente carcaça in natura, 12,6% do total. (Obs.: Para transformar em equivalente carcaça a carne in natura sem osso, tem seu volume acrescido de +30% e a industrializada de +150%.

Alguns dirão, mas em valores são os destinos que melhor remuneram por kg. Correto. Um valor médio de US$7,20/ kg carne in natura resfriada exportado para UE. Será que os frigoríficos exportadores não poderiam nos repassar parte destes ganhos, para os animais que se enquadrassem em tais parâmetros?

Não sei a nível de Brasil, mas no RS, frigoríficos de mercado interno, remuneram estes bovinos sem exigir rastreabilidade a preços iguais ou superiores, aos exportadores. Isto sem falar nos beneficios fiscais e ganhos de escala, no couro e miúdos (com aumento de 50% em volume e 30% em valores na exportação) auferidos pelos frigoríficos exportadores.

Quando presidente do sindicato rural de Caçapava do Sul-RS, enviei vários ofícios a federação, a anos atrás, solicitando que os produtores fossem ouvidos antes da implementação do sistema e na seqüência de sua série de “remendos”. Em vão, nem resposta aos ofícios recebi.

Citando o RS, basicamente as decisões foram tomadas pelos maiores interessados “no sistema” e pelo lado dos produtores, a direção escolheu alguns auto denominados detentores de todo o saber e operacional do sistema. Deu no que deu.

Atualmente frigoríficos e certificadoras estão desesperados com a baixa migração ao novo sistema. Esqueceram que o produtor necessita ser remunerado de forma adequada, sendo o brinco o menor dos custos do novo sistema, temos as auditorias, os custos de feitio e manutenção dos registros (cada boi vira um similar a um funcionário registrado), etc.

Ainda no RS, neste mês a comissão de bovinocultura de corte da federação (a pedido de seus membros) começou a promover reuniões nas sedes dos sindicatos rurais das regiões com pecuária de corte representativa em termos de volume, para ouvir o que os produtores tem a dizer, dentre outros temas, sobre rastreabilidade. Atitude que parabenizo.

Porém na rastreabilidade bovina, o prato está servido, ou engole ou recusa. Nesta altura não conseguiremos mudar nada, IN está em vigor. Como agravante, lançaram vários balões de ensaio citando tornar a rastreabilidade obrigatória no RS. Aí assim seria o paraíso dos frigoríficos exportadores e das certificadoras. A primeira coisa que fariam seria tirar a enganação do “bônus” rastreabilidade, pois se fosse obrigatória a todos pecuaristas gaúchos para que pagar um extra pelo seu uso.

Opinião pessoal sobre rastreabilidade, alguns espertos inventaram uma maneira de ganhar dinheiro (no escritório, com ar condicionado) dos pecuarista, criando o CPF para boi, e dizendo que este só terá sanidade, credibilidade, aprovação no mercado externo (depois virá o interno), se “eles” colocarem o brinco ou carimbo (avalizarem). Como se a palavra do pecuarista e do governo (através das inspetorias) não tivessem valor legal e responsabilidade para tal. O pecuarista fica com todo risco, trabalho, suor, sangue, lágrimas e até dívidas, e os espertos com parte do nosso ganho.

Alguns podem perguntar, porque estes questionamentos vem de indivíduos e não das nossas representações maiores. Informo que a nível de RS, existem interesses relacionados, por vezes conflitantes com os interesses do universo de pecuaristas. Para tanto seria oportuno que informassem de forma clara os proprietários e beneficiários economicamente do S.I.R.B (Sistema Integrado de Rastreabilidade Bovina).

Quanto as exigências da UE, primeiro existe uma boa dose de blefe, pois eles já divulgam abertamente na mídia que seu consumidor terá que pagar 30% mais pela carne. Quanto a controles que realmente exijam, basta montar o seu custo total e comparar ao diferencial de preço que os frigoríficos estarão dispostos a nos repassar por esta mercadoria “top”. O pecuarista que achar interessante adota o sistema.

Pergunto ao Sr. Luciano, foi imposta alguma penalidade as certificadoras que “vazarem” a informação de quantos bois rastreados existem aos frigoríficos. Ou continua como me foi dito pelo representante de uma certificadora no início deste ano, apenas uma linha de conduta da empresa, já que não existia penalidade legal na IN?

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  1. José Américo G. Dornelles disse:

    Boa tarde Sr Julio,

    A minha cidade é Planalto-RS. Tenho relações com o Sindicato Rural de Caçapava, desde os tempos do Dr Jair Seidel, na Emater de seu município; uma vez que administrei mais de um curso de IA, no parque de exposições.

    Conheço bem a luta do pecuarista para a vaca dar cria, o boi engordar e sobrar algum trocado no fim do mês. Conheço também o Sisbov, desde seu início através da IN 1 e por fim o Novo Sisbov.

    O conceito de rastreabilidade antiga se prestava ao mau trabalho por que o rastreabilidade visava unicamente o animal. Agora o alvo são as propriedades ERAS – Estabelecimento Rural Aprovado pelo Sisbov. O âmbito do ERAS e sua auditoria periódica visa controlar especialmente os resíduos de antibióticos, hormônios e substâncias proibidas pela legislação. Com isso além da proteção oferecida pelas vacinas, previne-se a EEB – a temível doença da vaca louca. Causa da queda de consumo de carne bovina, especialmente na Europa.

    O novo Sisbov é uma ferramenta de segurança para o produtor garantir sua produção a pasto. Assim é uma questão de segurança alimentar que deve ser – não apenas parecer –
    auditada a qualquer momento.

    Concordo quando o Sr fala sobre o controle das inspetorias. Gaúchos que nem nós, minha família é de São Borja e S. Chico de Assis, honram o fio de bigode. No entanto estamos globalizados e ao mesmo tempo cercados de barreiras sanitárias e comerciais. O criador é o elo fraco da corrente e poucos manifestam sua inconformidade, por isso os compradores colocam preço naquilo que o produtor produz.

    O Mapa nada mais está fazendo do que apagar incêndio. Normatizando procedimentos e rotinas dentro e fora da porteira, para que possamos acessar, além da UE e Chile, outros mercados, que pagam melhor, como EUA e Japão.

    O Sr é um dirigente sindical e sabe que a desorganização da classe e desunião é muito grande. A cadeia da carne não está organizada. Sequer tem uma oferta regular, o que seria possível através de uma Camara Setorial liderada – aqui fica o lançamento – por um empresário de visão e trânsito em todas instâncias, como o Sr Pratini de Morais. O ex-ministro hoje é consultor dos governos do Centro-Oeste e deverá abrir as portas da UE para este mercado logo, logo, merecidamente.

    Posso estar cometendo um equívoco, mas não tenho visto nada deste mercado, a favor da carne do Rio Grande e creio que não seja por falta de vontade dele. Acho que falta iniciativa e convite. Por favor, me corrija se eu estiver enganado.

    Estou formando equipe de trabalho para suar a camisa e atuar no novo Sisbov em todo RS e SC, que está livre de Aftosa, portanto com status sanitário melhor que o RS.

    Em Caçapava ainda não tenho ninguém. Gostaria de contar com sua colaboração oportunizando que demostremos nosso serviço de rastreabilidade e certificação de acordo com as normas do Novo Sisbov.

    Cordialmente,

    J.Américo G.Dornelles

    Resposta de Julio Tatsch:

    Prezado Sr. José A.G. Dornelles

    Em resposta ao seu comentário. Informo que o Sindicato Rural de Caçapava do Sul-RS, sempre manteve suas portas abertas para empresas ou técnicos que queiram apresentar seu trabalho. Porém colocando como condicionante que as técnicas ou produtos sejam apresentados em seu aspecto global, ou seja não somente a técnica em si, mais todos os custos e implicações envolvidas, viabilizando desta forma a avaliação do resultado econômico potencial, por parte do produtor, em caso de adoção da técnica.

    Obs.: No caso da Certificadora Planejar estar relacionada , será recomendável informar os beneficiários econômicos do sistema SIRB, para evitar que o sindicato seja acusado de estar atuando como parte interessada.

    O Sindicato possui em sua sede um auditório, que pode ser locado mediante reserva e consulta prévia. Quanto aos aspectos relacionados ao operacional e organização da reunião ficam por conta da parte interessada.

    A título de colaboração, e de técnico para técnico, pois sou agrônomo, Caçapava dispõe de vários técnicos qualificados, sendo que alguns inicialmente se cadastraram e trabalharam como técnicos de certificadoras, porém vários pediram “sua exclusão”, por acharem incompatíveis os valores recebidos referentes aos trabalhos, custos e responsabilidade técnicas envolvidas, quando cumpridos a risca. Eu como pecuarista, procedi a exclusão de meus bovinos do sistema Sisbov, por não perceber diferencial econômico que justifica-se a manutenção ou implementação do sistema, em função dos custos, número de bovinos envolvidos e ausência de real diferencial econômico para bovinos rastreados.

    Como fato relevante, informo que numa reunião a um ano atrás na Farsul em Esteio, onde estava presente o Dr. Pratini de Moraes ( que fez uma explanação sobre o cenário futuro maravilhoso para a carne bovina a nível de mundo e enaltecendo a carne gaúcha pela qualidade, e que era utilizada como cartão de visita da carne brasileira, nas feiras internacionais) e o Sr. Molina (Dono do Marfrig), eu disse a ambos, olhando em seus olhos, que se eles não nos repassassem parte dos ganhos auferidos pelos frigoríficos com a exportação iria faltar produto, pois estávamos matando vacas aptas a reprodução e teríamos que continuar matando devido aos baixos preços ofertados pelos frigoríficos ( a dois anos atrás o RS trabalhava com preços iguais ao do Pará!).

    Os frigoríficos tinham e tem a noção exata do estrago causado a produção, pois tem informes diários do volume de vacas abatidas, que em passado recente chegou a absurdos 70% do total de bovinos abatidos, quando não deveria ultrapassar os 40 a 45%, visando a manutenção do rebanho. Logo a atual diminuição da oferta é mérito único e exclusivo dos frigoríficos, desastre sabido e anunciado. Esqueci de mencionar, a resposta que tive do Dr. Pratini e do Sr. Molina foi somente um “sorriso amarelo”.

    Como o sr., conheço a competência do Dr. Pratini, mas ele hoje é acima de tudo presidente da Abiec, logo representante classista dos frigoríficos. Quanto a organização da cadeia produtiva, os processos referentes a formação de cartel por importantes frigoríficos ( já condenados pela justiça e amplamente divulgados pela mídia), demonstram o longo caminho que temos pela frente, porém evidenciado que a linguagem de “entendimento” é a da força.

    Resumindo, sendo que o Sr. também abordou com mais intensidade o aspecto remuneração do pecuarista no seu comentário relacionado ao artigo “Mapa manterá os prazos do Sisbov”, a rastreabilidade é problema de frigorífico, se quiserem estimular sua adoção, que remunerem os pecuaristas de forma adequada. Os pecuaristas que acharem interessante adotam o sistema. Os pecuaristas tiram o seu sustento da terra, pois não são funcionários, sabem que contas são pagas com resultado econômico positivo e não com conversa ou promessas de paraíso futuro.

    Algo para pensar, o crescimento astronômico dos frigoríficos exportadores, será que se deve exclusivamente ao mercado demandante e competência de gestão destes, ou temos como fator principal a transferência de patrimônio do pecuarista para os frigoríficos, através das compras abaixo do preço de custo? Lembro que o Brasil é o maior exportador, logo somos nos quem determinamos o preço mundial da carne bovina. Ainda mais tendo o menor custo de produção.

    Atenciosamente,

    Julio Tatsch, agropecuarista e agr° em Caçapava do Sul – RS

  2. Edgard Andrade de Toledo Piza disse:

    A análise é perfeita. Parabéns ao autor. Na minha opinião deveríamos aguardar o ano que vem para ver como vai ficar esta questão. Continuar fazendo tudo que inventam, sem remuneração, acredito ser o pior caminho que o pecuarista pode adotar.

  3. Jose Dilney da Silva Soares disse:

    Parabéns ao Sr. Tatsch, que como líder representante da nossa classe, teve coragem de dizer algumas de muitas verdades que deveriam ser expostas.

    A rastreabilidade, até agora, não passa de um remendão de normas teóricas de tão difícil aplicação que até os seus próprios autores, a todo o momento fazem alterações. Pergunto-lhes, quais foram os realmente beneficiados com a rastreabilidade? Quem está ganhando dinheiro com o novo sistema? Será que são efetivamente os produtores? Só falta essa, através de mais um “canetaço” autoritário, vir a tornar-se obrigatória no nosso Rio Grande amado. Não podemos admitir isso, basta de sugadores do produtor.

  4. José Jacintho Neto disse:

    Parabéns, é a melhor, mais compreensiva, e imparcial análise que tenho visto sobre o famigerado Sisbov. Sou de MS, e lá nos foi imposto pelos grandes interessados, os frigoríficos, com todo o onus por nossa conta, e sem qualquer bonificação. Pelo contrário, descontavam R$ 2 ou até R$ 3 por @, se não tivesse certificação, embora, como muito bem demonstrou o Sr. Julio , somente 12 ou 13% da carne era exportada para o Mercado Comum Europeu, que exige certificação (e paga por ela!), 87% da carne é exportada para países que não pedem certificação.

    Agora chegou a hora da verdade: nem 10% das propriedades estão cadastradas no ERAS, e faltam 60 dias para expirar-se o prazo.

    O que acontecerá? Eu respondo: os frigoríficos vão “melar” o ERAS, porque na realidade nunca precisaram do tanto que falavam, era somente para desvalorizar o produto, comprar mais barato do pecuarista. Aguardem e verão que minhas palavras se realizarão.

    Infelizmente para mim, que tenho uma equipe full-time, desde Abril, cadastrando e descobrindo os problemas, até que conseguimos o registro ERAS no Sisbov se “melarem”, posso perder todo este trabalho.

    Um grande abraço e parabéns ao Sr. Julio Tatsch por colocar todos o pingos nos “iii”.

  5. Antonio Carlos Miranda disse:

    Eu me pergunto até quando o pecuarista do RS vai achar que a rastreabilidade é uma ferramenta criada apenas para prejudicá-lo, aumentando seus serviços e custos, e não uma forma de assegurar a qualidade do seu produto e garantir que o consumidor vai consumir um produto confiável do ponto de vista sanitário.

    Se o sistema é complicado e de difícil aplicação (e é), os pecuaristas não podem alegar que as normas foram “empurradas goela abaixo”. Aliás, o Sisbov tem 5 anos no Brasil. No início, sofreu as maiores restrições de todas as entidades ligadas ao setor pecuário. A maioria não acreditava que a rastreabilidade era uma coisa indispensável.

    Quando se viu que a coisa era para valer, a partir das freqüentes visitas de comissões técnicas da União Européia, passou-se a admitir que alguma coisa tinha que ser feita no sentido de identificar os animais encaminhados ao abate. No primeiro momento, o objetivo era “atender a norma que obrigava a identificação do animal”, mesmo que a colocação do brinco não cumprisse os prazos determinados pela IN.

    O fato é que hoje estamos numa encruzilhada. Dezembro está aí e não temos 200 ERAs no RS. Em janeiro teremos enorme dificuldade em exportar para a União Européia. No entanto, 5 anos após a criação do Sisbov, continuamos discutindo a “necessidade” da rastreabilidade.

    Parece que precisamos sofrer “na carne” (literalmente) para nos darmos conta que, se quisermos ter importância no mercado internacional da carne, vamos precisar nos submeter às suas exigências, especialmente as sanitárias, que cada vez mais vão criar barreiras em um mercado extremamente competitivo (veja-se as alegações da Irlanda para importação de carne brasileira pela União Européia).

    Atenciosamente
    Eng. Agr. Antonio Carlos Miranda

  6. Joao Gustavo Pereira Loureiro disse:

    Hoje não se desvincula a qualidade do alimento a técnicas como Procedimentos Operacionais Padrão (POPs), Controle de Qualidade ou Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC). E é impossível implantar com efetividade e eficiência qualquer uma destas técnicas sem rastreabilidade.

    Os serviços de Inspeção Federal, Estadual e Municipal com base no RISPOA prestam um serviço de controle de qualidade que é constantemente revisto e atualizado e que trabalha em consonância com o Sisbov, que nada mais é que uma ferramenta empregada na constante busca pela qualidade.

    Rastreabilidade significa segurança. Em um país tão inseguro como o nosso realmente fica difícil de entender o significado de segurança. Mas uma vez conseguido segurança, não se quer mais saber de outra coisa. É essa a posição da Europa e outros países. É claro que existe uma grande pitada de protecionismo também, mas a rastreabilidade exigida por estes países não pode ser tratada com um capricho. O mercado é quem deve reger a procura. Basta lembrarmos que na Europa ou USA o air bag em carros é um item de série.

    Rastreabilidade é segurança para a pecuária brasileira. Em se detectando anormalidades em um lote de carne, por exemplo, este poderá ser localizado, em rápido espaço de tempo e a cadeia produtiva envolvida (de onde veio, para onde foi, técnicos, ração, transporte, etc) investigada. A rastreabilidade valoriza o produto porque o torna mais seguro para quem consome.

    Frigoríficos estão sim se aproveitando da oportunidade para, ao invés de premiarem a carne rastreada, punir a não rastreada. A carne não rastreada tem o seu mercado e a sua qualidade, e os serviços de Inspeção Federal, Estadual e Municipal estão ou deveriam estar prontos para garantir esta qualidade. Outro contra-ponto da rastreabilidade seria a projeção de sua obrigatoriedade.

    O pecuarista tem que registrar tudo o que se passa com o seu produto, bem como o faz qualquer outra fábrica ou estabelecimento que trabalha com alimentos destinados ao consumo humano. Que o faz inclusive por uma questão não de competitividade, mas sim de existência.

    O Pecuarista precisa parar de refutar logo de cara tudo o que lhe é proposto pelas entidades técnico-acadêmicas e governamentais e passar, a pelo menos, fazer uma análise do que está sendo proposto, para então, refutar, acatar ou propor mudanças.

    Talvez a exemplificação não seja a mais apropriada, mas não custa tentar: quando o Fiscal Agropecuário envia uma carcaça para sequestro devido presença de cisticerco, ele não ” está de brincadeira” e tão pouco “tirando uma com a sua cara”, está apenas constatando que existem cisticercos na carcaça e que a mesma tem de ser tratada para estar apta ao consumo e que, durante este tratamento a mesma sofrerá depreciação. Resta ao pecuarista analisar sua cadeia de produção de carne e reavaliar situações, como talvez: a posição da fossa sanitária em sua propriedade.

  7. FRANCISCO J F JACINTHO disse:

    Gostaria de parabendizar o Sr Julio Tatsch, de Caçapava RS, pelo seu bem colocado comentário sobre esse absurdo que é a rastriabilidade bovina que está nos sendo enfiada guela abaixo.

    Em todos os aspectos concordo com o ilustre colega gaucho.

    Infelizmente, nossa desunião faz com que coisas como essa sejam implantadas no nosso país, pela força de quem é unido: os frigoríficos. Sim, eles tem muito a ganhar com isso, pois realmente o boi rastreado vale preço normal e não rastreado é que tem o valor rebaixado de R$ 2,00 a R$3,00 a menos.

    É ou não é o cúmulo.

    Abraços,

Mercados Futuros – 18/10/07
18 de outubro de 2007
Físico segue firme e indicador é cotado a R$ 64,62
22 de outubro de 2007