O editorial, "Procurando entender as perspectivas da pecuária de corte brasileira", autoria de Miguel da Rocha Cavalcanti, foi bastante comentado pelos leitores do BeefPoint. E as cartas trazem opiniões bastante interessantes sobre a pecuária de corte brasileira e as perspectivas para o futuro. Dentre essas cartas duas esboçam o sentimento da maioria dos pecuaristas brasileiros e no mínimo nos fazem pensar nos rumos que a pecuária brasileira tomará daqui para frente. Acompanhe abaixo as opiniões de Deniz Ferreira Ribeiro, de São Paulo e de Julio Tatsch do Rio Grande do Sul.
O editorial, Procurando entender as perspectivas da pecuária de corte brasileira, escrito por Miguel da Rocha Cavalcanti, foi bastante comentado pelos leitores do BeefPoint. E as cartas trazem opiniões bastante interessantes sobre a pecuária de corte brasileira e as perspectivas para o futuro. Dentre essas cartas duas esboçam o sentimento da maioria dos pecuaristas brasileiros e no mínimo nos fazem pensar nos rumos que a pecuária brasileira tomará daqui para frente. Acompanhe abaixo as opiniões de Deniz Ferreira Ribeiro, de São Paulo e de Julio Tatsch do Rio Grande do Sul.
Deniz Ferreira Ribeiro
Barueri – São Paulo – Produção de gado de corte
“Cumprimento o articulista pela objetividade com a qual tratou o tema. Acredito que a maioria dos leitores concorda com a maior parte dos conceitos expostos. Não obstante, em minha modesta opinião, é contraditório considerar “en passant” a barreira de R$ 65/@, como normal, porque “os contratos da BM&F o têm mostrado no passado recente” e “porque a atual cotação do dólar não deve permitir que os preços a ultrapassem”.
Em primeiro lugar, em que pese o desejo de todos em verem nosso mercado futuro forte, amadurecido e capaz de cumprir seu papel na economia pecuária bovina, nas condições em que vem operando – nº de contratos em aberto representando quantidades insignificantes se comparadas ao mercado físico e n° exíguo de participantes -, está ainda muito longe de se constituir num referencial de preços válido numa análise de perspectivas de médio prazo. Além disto, a questão cambial, que sem dúvida é preocupante, também não autoriza sua utilização para justificar esse preço. Basta olhar para o Rio Grande do Sul, onde o câmbio é o mesmo, o preço é bem superior e a industria frigorifica local vai bem obrigado.
De 2002 a 2006 o número de fêmeas abatidas cresceu bastante, revelando um nível inédito de abate de matrizes. Qual a lição a tirar? Além da redução futura da produção, isso revela a incapacidade dos mecanismos de formação de preços em garantir continuidade ao movimento histórico de crescimento da oferta. O abate de matrizes continuou em 2005 e 2006, e talvez tenha arrefecido seu ímpeto em 2007, não obstante o patamar dos R$ 60/@ ter sido alcançado e ultrapassado diversas vezes no período.
Considerando um aumento de custos que apenas tenha acompanhado a inflação, o preço de R$ 65, no final de 2007, equivale, quando muito, a R$ 56 ou R$ 57 no final de 2004, o qual foi incapaz de deter o movimento de abate de matrizes. Porque o mesmo patamar de preços reais iria reverter essa tendência hoje?
É bem verdade que a eficiência média do conjunto de produtores deve ter melhorado, mais pela saída dos menos eficientes, que abateram suas matrizes, e menos pela incorporação de mais tecnologia dos que ficaram; note-se que em 2006 as vendas de sêmen de gado de corte (estatísticas da ASBIA) caíram mais de 20% e a recuperação dessa queda ainda está por ser confirmada em 2007.
Assim, ainda é incerto o futuro da produção para 2008. Os abatedores tem enfrentado dificuldades para trabalhar sem ociosidade neste segundo semestre, e esta corre risco de se arrastar por 2008 afora e talvez por mais tempo. Para propiciar reações mais positivas da oferta em 2009, seria necessário que a indústria deixasse o mercado flutuar, estabelecendo livremente os preços indicativos dessa escassez de oferta. Se assim agisse sinalizaria mudança radical em seu comportamento histórico, aumentos futuros de produção seriam mais viáveis e nosso possível futuro brilhante não se distanciaria no tempo.
Adicionalmente não se pode esquecer da recente combinação de novos preços de cereais com novos preços de bezerros, que transforma os R$ 65/@ numa verdadeira pá de cal sobre a pecuária de corte brasileira”.
Julio Tatsch
Caçapava do Sul – Rio Grande do Sul – Produção de gado de corte
“Amigo Miguel, meus cumprimentos pelo artigo e pela iniciativa de percorrer parte do Brasil, captando uma “sensação física do mercado”.
Porém discordo na percepção de limite de preço da arroba do boi gordo de aproximados R$ 65 à vista. Acho que este limite está mais na vontade do pecuarista. Pela falta de produto que começa a se mostrar a nível de Brasil (vide tabela de abates-SIF de bovinos no site do Mapa. Obs.: Pasmem, na segunda coluna da referida tabela, onde o título diz avestruz, na realidade refere-se a n° de bovinos abatidos), creio que o preço será limitado principalmente no preço que o pecuarista se sentir “satisfeito” e passar a ofertar volume.
Sendo o Brasil o maior exportador mundial, somos nós quem determinamos o preço base. Não existe pecuarista neste mundo que possa produzir abaixo de nossos custos ou que consiga produzir o nosso volume exportado, pelo menos no horizonte visível.
Torço para que os pecuaristas passem a inserir em seus cálculos os custos fixos (depreciação, custo do capital, etc.). Pois uma parcela considerável dos colegas, ainda avalia seu resultado econômico baseado apenas nos custos de desembolso ou custos operacionais.
Muitos colegas pensarão que a arrogância subiu a minha cabeça, mas afirmo em 22 anos de atividade, não me lembro de outra ocasião com um somatório tal de condições favoráveis a exigirmos preços que cubram nossos custos totais mais uma margem de lucro compensatória aos riscos assumidos por nós.
A nível de RS, não estamos com preços maiores e atualmente até com pequenas baixas impostas, pela razão que o RS está importando aproximadamente metade do seu consumo mensal, baseado em informações do Sicadergs, quando comparado volume importado com o abate médio mensal no RS. Pergunto, a nível de Brasil, com a redução de oferta, os frigoríficos vão buscar bovinos para abate onde?”
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Tudo o que foi dito e pura realidade! O que está salvando os frigoríficos é o Pará.
Enquanto não diminuir a quantidade de gado e o número de fazendeiros de fins de semana vamos ficar anos e anos esperando uma melhora do mercado.