Há dois anos, o criador Antônio José Prata Carvalho, o Tonico, da Fazenda Brumado, em Barretos (SP), submeteu dez reprodutores nelores a um teste com marcadores moleculares. "Os testes provaram que a carne de nelore pode ser tão boa quanto a de qualquer raça européia." Tonico refere-se a características como maciez e marmoreio (gordura entremeada entre as fibras).
Pecuaristas que usaram marcadores moleculares dizem que nelore pode produzir carne tão macia quanto a de gado europeu
Há dois anos, o criador Antônio José Prata Carvalho, o Tonico, da Fazenda Brumado, em Barretos (SP), submeteu dez reprodutores nelores a um teste com marcadores moleculares. “Os testes provaram que a carne de nelore pode ser tão boa quanto a de qualquer raça européia.” Tonico refere-se a características como maciez e marmoreio (gordura entremeada entre as fibras).
A tecnologia dos marcadores moleculares permite, por meio da análise de DNA, identificar o potencial genético do animal para diversas características produtivas. Maciez e marmoreio são duas das inúmeras aptidões que podem ser identificadas no DNA do rebanho. Os testes, realizados em laboratórios na Austrália, foram, conforme o criador, a primeira experiência por meio de marcadores feita com zebuínos do Brasil. Foi usada a pontuação de 1 a 4 para maciez e de 1 a 3 para marmoreio. Dos 10 animais, 7 tiveram pontuação 3 para maciez e 2 para marmoreio. Isso significa, diz Tonico, que o nelore pode dar carne macia e com marmoreio.
Técnica associada
A pesquisadora da área de Melhoramento Animal e Genética Molecular Fabiane Siqueira, da Embrapa Gado de Corte, diz que a tecnologia de marcadores é eficiente, mas é preciso associá-la a técnicas já em uso, como testes de progênie, “o que dará mais segurança ao produtor”. Segundo ela, a qualidade de carne não é exclusivamente ditada pelo material genético. “Sistema de criação, idade de abate e manejo também interferem no produto final.”
O coordenador de pecuária da Agropecuária CFM, de São José do Rio Preto (SP), que produz 2 mil touros nelores por ano, Luís Adriano Teixeira, concorda: “A tecnologia pode ser vantajosa desde que associada a outras ferramentas.” Ele diz que, até a tecnologia de marcadores genéticos aparecer, o melhoramento era feito com as Diferenças Esperadas de Progênies (DEPs), que têm a desvantagem da demora na hora de coletar os dados, pois não se sabem quais genes são herdados do touro e da vaca.
Tempo de espera
Para saber se um reprodutor transmitirá o gene da maciez, é preciso esperar dois anos até esse animal atingir a maturidade reprodutiva, para só então realizar os acasalamentos. Daí, são mais nove meses para os bezerros nascerem e mais três anos para serem abatidos.
“Os marcadores têm a vantagem da facilidade e da rapidez de resultados, já que a característica produtiva é identificada no gene do animal”, avalia. Teixeira explica que só ter a genética não adianta. “É preciso fazer essa interação, pois o animal pode ter um bom potencial genético, mas se não for bem alimentado não terá como expressar todo esse potencial. A seleção assistida por marcadores deve ser ferramenta adicional às DEPs.”
A CFM participou de um projeto de validação dos marcadores de uma empresa e teve mais de 2 mil animais avaliados. Segundo Teixeira, pelos testes, ficou provado que a raça nelore possui variabilidade genética para a característica maciez. “Se há essa variabilidade, é possível selecionar essa característica na raça”, diz.
Fonte: O Estado de São Paulo/Agrícola