Por Léo Brito1
Mato Grosso do Sul vem conquistando nas últimas décadas, pelo menos nos últimos trinta e cinco anos, passo-a-passo, palmo-a-palmo, importantes posições dentro dos mercados, não só nacional como também internacional. O compromisso que os produtores adquirem com estas conquistas é o que nos preocupa, porque a responsabilidade pela qualidade também aumenta e é preciso um padrão para este fornecimento. Acrescentado a isso, a adoção de novas tecnologias aliada à gestão da propriedade rural e ao desenvolvimento econômico são imprescindíveis nos negócios internacionais.
Hoje, nosso Estado é referência mundial como produtor de carne. Eu sou testemunha das visitas que temos recebidos na Famasul desde agosto de 2000 ou até antes, não só dos EUA mas do Uruguai, Argentina, Austrália, Nova Zelândia, etc.
Em janeiro de 2001 aconteceu o Congresso Mundial de Pastagens em Piracicaba/SP e eu tive a oportunidade de conversar com vários técnicos da Embrapa que diziam que o mundo inteiro tem o seu foco nas pastagens brasileiras, especialmente no rebanho de Mato Grosso do Sul.
A abertura do mercado americano para a carne in natura, que parece se concretizar agora, foi inclusive motivo da visita da Famasul aos EUA no ano passado, sendo representado por nossa diretora Tereza Cristina Correa da Costa, quando a CNA propiciou a várias Federações, uma viagem para conhecer as oportunidades de negócios, principalmente com o sindicato dos importadores de carne americano e a vontade que eles tem de comprar a carne brasileira. Eu já fui aos EUA algumas vezes e verifiquei no Texas, no Estado de Nevada, em Nova York e outros, muitas churrascarias que só servem a carne brasileira e todas elas têm fila na porta, isto quer dizer que se nos tivermos esta oportunidade de conquistar esse mercado, eu tenho certeza que nós vamos ter a remuneração bem próximo do preço justo na nossa arroba, por que hoje nós estamos defasados no preço da arroba que esta bem inferior aos vinte e cinco dólares que nos já havíamos conquistado.
Nós chegamos a vender na década passada, especificamente no ano de noventa, até por trinta e cinco, trinta e seis dólares a arroba que foi um preço atípico. A arroba sempre flutuou entre vinte, vinte e cinco dólares e nós, produtores, não entendemos como uma carne, com tanta qualidade, uma indústria tão bem equipada, principalmente com uma pesquisa muito bem estruturada, que tem dado ótimas condições de avanços na pecuária sul-mato-grossense, não possa conquistar um preço melhor!
Como tudo na vida chega no tempo certo, eu acredito que em 2004/2005 junto com o Centro Tecnológico do Couro; nós teremos o Centro Tecnológico da Carne e junto com isso um preço diferenciado dos nossos produtos, não vou dizer que vai explodir o preço, mas eu tenho certeza – é uma convicção muito forte, pela experiência que eu tenho em todos esse anos, pelo que eu aprendi não só na escola mas principalmente com os nossos empregados, peões e com meu pai e meu avô – que tudo tem que ser feito com muito critério e com muita paciência, por isso o preço deverá ser melhor.
A pecuária tem um relógio lento. Ela demora sete anos para fazer um boi; ninguém entende muito essa conta, mas se você somar a idade da bezerra, somar o período de gestação dessa vaca e o período de criação dessa vaca até a desmama, depois até a velocidade de engorda, mesmo se for precoce, vamos estar bem próximos de sete anos para que possamos ter qualquer tipo de avanço tecnológico, genético, ambiental, sanitário.
O que temos dito muitas vezes, até discutido com os companheiros do Brasil inteiro do agronegócio, é que hoje não se fala em pecuária que não seja integrada a agricultura e que nos temos que tomar cuidado com quatro coisas dentro da pecuária brasileira e principalmente da sul-mato-grossense: alimentação, sanidade, genética e manejo. Ninguém vai vender carne que não seja de um animal bem alimentado, super sadio, com manejo adequado, inclusive que esse animal não seja criado de forma estressada não agredindo o meio ambiente. Outro cuidado importante é a comprovação de origem genética, com a rastreabilidade. Esses quatro pontos: alimentação, sanidade, genética e manejo, Mato Grosso do Sul tem.
Nós temos uma ótima fonte de energia e proteína nas pastagens. Temos aqui uma genética controlada pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu, que tem dado uma sustentação muito grande para o rebanho nelore e para os outros rebanhos. Temos comprovada eficiência do serviço sanitário pelas parcerias que o Ministério da Agricultura, nosso Iagro e todas as entidades. Temos também uma base de pesquisas muito grande do nosso rebanho que é a Embrapa e os produtores, que, principalmente durante essa últimas décadas, vem investindo em tecnologia e melhoramento genético.
Eu tenho uma preocupação muito grande e sinto a obrigação de raciocinar, todo dia, como presidente da Famasul e do Conselho Deliberativo do Sebrae e do Senar, sobre o destino de todos nós. Onde estaremos daqui a dez anos ou quinze anos como pessoas com responsabilidade social e como produtores rurais no compromisso de produzir alimentos? Como estará Mato Grosso do Sul? Como estarão nossos filhos e nosso netos? Como serão as relações de respeito entre os vários segmentos da sociedade? Eu mesmo ouso responder: Se Deus quiser, a democracia vai estar mais evoluída ainda; as oportunidades vão ser mais evidentes para todos; nós vamos ter uma melhor distribuição de renda; vamos ter mais tranqüilidade no campo para trabalhar, nos não vamos aceitar a ingerência externa em nossos assuntos, da área ambiental, fundiária, não só no aspecto da reforma agrária, mas também no indígena, que hoje está se exacerbando.
Eu me preocupo muito e gostaria que todos também se questionassem onde estaremos e como estaremos. Eu só tenho certeza de uma coisa, tanto a Famasul, como o Sebrae e o Senar e também nossos Sindicatos Rurais e todos os nossos aguerridos produtores rurais não estão sendo omissos a esse respeito. Nós queremos ter um engajamento cada vez maior de todos os sul-mato-grossenses, para conquistar os mercados do mundo.
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1Leôncio de Souza Brito Filho é presidente da Famasul e presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae/MS e Senar/MS