A Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal de Mato Grosso do Sul (Iagro) enviou mais dois materiais colhidos de animais em Japorã para o Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro), em Belém do Pará. São mais dois possíveis focos da aftosa no estado. O laboratório foi o que confirmou os dois novos focos no município, no Sítio Santo Antonio e na Fazenda Guaíba.
Segundo o coordenador do Lanagro de Belém, Airton Nogueira, os materiais são da mesma região da cidade de Japorã. A Defesa Civil de Mato Grosso do Sul afirma que há suspeitas nos assentamentos.
Enquanto surgem novos focos, os técnicos da Iagro ampliam a área de avaliação. Segundo o coronel e coordenador da Defesa Civil, João Alves Calixto, cada foco determina a investigação em perímetros de três, sete e 15 quilômetros no entorno. Cada novo foco implica observar a região.
A Iagro explica que, apesar dos novos focos, o vírus está confinado no perímetro de 25 quilômetros, o que limita o trabalho de defesa sanitária ao território brasileiro, sem necessidade do envolvimento com o Paraguai.
Segundo Nogueira, do Lanagro, até agora não há surpresas em relação à cepa do vírus da aftosa que deve levar ao sacrifício cinco mil animais. O tipo O é conhecido no Brasil e ocorre em áreas não livres de aftosa, como o Pará. Aliás, esta é a razão para o envio do material para Belém. Não se manipula vírus em regiões consideradas livres de aftosa, como era há poucos dias Mato Grosso do Sul.
Contrabando
O contrabando de animais do Paraguai para o Brasil pode mesmo ter sido o responsável pela reintrodução do vírus O da aftosa na região sul do estado de Mato Grosso do Sul, área considerada zona livre da doença. As investigações poderão indicar que a porta de entrada do vírus no Brasil foi o município de Japorã, onde dois focos estão confirmados e outros aguardam confirmação.
Segundo o delegado do Departamento de Operações de Fronteira (DOF), Antonio Carlos Videira, dois depoimentos que seriam tomados ontem à noite deveriam confirmar o caminho feito pela doença até chegar aos animais da fazenda Vezozzo, onde foi identificado o primeiro foco e a partir da qual foi desencadeada a crise da pecuária regional e brasileira.
“Essa é uma linha de investigação mais forte entre aquelas que consideramos”, declarou o delegado. Ele diz que o contrabando de animais na fronteira entre Brasil e Paraguai é um grande problema da região. Apesar das apreensões realizadas pelos agentes do DOF na área, os crimes de contrabando ainda são muito comuns na região.
Intenção
O relatório final do departamento indicará se a contaminação foi ou não intencional, uma das suspeitas consideradas pelo setor. “Dependendo dos depoimentos, vamos saber se houve ou não dolo”, disse Videira. O destino do inquérito que apura a contaminação também vai depender disso.
Um dos envolvidos no ressurgimento da aftosa na região confirmou o “frete” de animais entre a fronteira e o município de Eldorado, no sul de Mato Grosso do Sul.
O caminhão que transportava animais vivos teria deixado o gado no frigorífico da cidade de Eldorado, o Boifran, e posteriormente seguiu vazio para a Fazenda Vezozzo, onde teria circulado pelo pasto até o curral para trazer gado para abate. Os restos de fezes e palha deixados no caminhão e espalhados no terreno estariam contaminados com o vírus e teriam desencadeado a infecção de parte do rebanho. De qualquer forma, ainda falta saber por que a vacina não impediu a contaminação do gado.
Fonte: O Estado de S.Paulo (por Agnaldo Brito), adaptado por Equipe BeefPoint