No dia 28 de abril de 2004 a Câmara Setorial da Carne Bovina aprovou o novo sistema brasileiro de classificação de carcaças. Uma medida que há muito tempo era esperada e que permitirá uma maior transparência e objetividade na comercialização de animais de qualidade superior.
A classificação de carcaças não melhora qualidade da carne, mas serve como indicador para o produtor, para que direcione a produção em sua fazenda. Assim será mais fácil a indicação do que é desejável e do que não, pelo mercado comprador. A partir de janeiro de 2005, todo pecuarista receberá, além dos pesos de seus animais, uma planilha com a classificação de seus animais e poderá utilizar essas informações para afinar sua produção. Poderá também receber mais ou menos por arroba, de acordo com a classificação das carcaças dos bovinos vendidos. O pagamento diferenciado não é uma imposição do sistema, mas se acredita que haverá uma diferenciação de preços, de acordo com as características.
Todos os países com importância no mercado mundial da carne bovina realizam algum tipo de classificação de carcaças. A classificação serve como indicador para a qualidade, mas não é uma obrigação o pagamento diferenciado. Os EUA demoraram muitos anos depois da implantação de um sistema similar ao brasileiro, para que o produtor recebesse de forma diferenciada, de acordo com a classificação de seu gado. No entanto, esse sistema funciona hoje muito bem em inúmeros países, mostrando ao produtor qual o animal mais desejado, da forma mais eficiente, pelo bolso.
O sistema de classificação é bastante simples e não objetiva determinar o que é melhor ou pior, mas separar em classes uniformes, diferentes produtos. Abaixo apresentamos um resumo do sistema brasileiro de classificação de carcaças, que serão avaliadas quanto à:
Hoje a grande maioria dos produtores mais tecnificados, que produz animais jovens, bem acabados e pesados, reclama que têm dificuldade em comercializar seus animais de forma diferenciada junto a frigoríficos. Esse novo sistema permitirá que se identifiquem os tipos de animais fornecidos e se compare com as demandas do consumidor final.
Permitirá também que os produtores barganhem premiums por animais com determinadas características, por exemplo: peso de carcaça mínimo de 240 quilos, cobertura de gordura mínima de 3 mm e máxima de 6, máximo de 2 dentes permanentes. Por outro lado, vai permitir que o frigorífico pressione a produção, aplicando desconto para carcaças muito leves (já se faz isso hoje), acabamento de carcaça inadequado, elevada idade, ou combinação dessas características. Qual será a diferença de preço desses animais, a mais para o primeiro caso e a menos para o segundo? Isso irá variar com a disposição do mercado em pagar mais ou menos por cada tipo de carne.
A grande mudança desse sistema é a forma da remuneração, não mais pela média, mas pela diferença. Quais as implicações? O bom produtor, ou o produtor que fornece animais cuja carcaça tem liquidez e/ou maior preço no mercado será melhor remunerado e o pior produtor será descontado. O preço médio de compra poderá se manter, mas o preço de quem trabalha de olho no mercado final tenderá a ser melhor.
Aquele produtor que prefere vender seus animais com mais de 22 arrobas, ou o produtor que não faz uma boa terminação de seu gado poderá receber um preço por arroba mais baixo (ou mais alto, dependendo do que deseja seu cliente).
Atualmente é possível planejar seu sistema de produção para produção de diferentes animais e se calcular os custos por arroba de cada opção. Já é possível determinar qual tipo de animal se deseja abater e baseado nisso escolher genética, nutrição, programa sanitário, etc. Com a evolução desse sistema de classificação, com a aposta de que haverá pagamento diferenciado para diferentes tipos de gado será possível calcular qual animal é mais lucrativo, de acordo com seus custos e preços de venda.
É possível também que o sistema de classificação acelere a adoção de novas tecnologias e aumento da eficiência produtiva de nossos rebanhos, uma vez que a produção de um animal mais jovem, mais pesado e bem acabado, com utilização de técnicas de forma adequada, tem custo menor que comparado a uma propriedade com baixos índices zootécnicos e animais prontos para o abate com idade mais elevada. Como a diferença de preço no produto vendido é percebida muito mais facilmente do que a diminuição de custos, a utilização de tecnologias como suplementação mineral/protéica, manejo adequado de pastos e manejo sanitário tendem a serem mais procurados.
O sistema de classificação não irá fazer milagres, mas é um passo em direção de formas mais eficientes de comercialização de bovinos. Com certeza é mais uma ferramenta para aquele pecuarista que produz o que o consumidor quer ser melhor remunerado. É uma ferramenta também para o frigorífico que deseja indicar ao seu fornecedor qual o produto deseja comprar.
Para terminar, fica a pergunta: O que é um animal de qualidade? Qual é o boi de corte ideal? Acesse a seção Enquete e dê sua opinião.
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Caro Miguel,
O artigo coloca de forma objetiva as vantagens que a classificação de carcaças trará ao mercado de carne bovina. Acho importante destacar que o sistema também deve trazer benefícios ao diferenciar a carne voltada ao mercado exportador, desde que acha um preço diferenciado (premium) pago pelos frigoríficos. A classificação deve reduzir as atuais disfunções em que carne de alta qualidade é comercializada em feiras livres pelo falta de pagamento por qualidade.
Fica a expectativa de ver como e quando os agentes do mercado vão reagir as mudanças.
O Brasil deu um pequeno passo ao implementar o sistema de classificação de carcaças. Estamos ainda um pouco longe da certificação de cortes das carcaças, por exemplo, que seria de extrema importância, já que é importante levar em conta o preparo de cada corte da carcaça.
Segundo o prof. Pedro Felício, classificar é “juntar o igual e separar o diferente”, sem a idéia de hierarquia. Porém, o problema, segundo ele é o excesso de classes. Portanto, são necessárias ferramentas cada vez maiores para organizar e coordenar todo o sistema. É preciso conhecer mais sobre o mercado consumidor! Ainda, de acordo com o Prof. Pedro Felício, é preciso um sistema complementar pós resfriamento (que seria a critério da indústria).
Além disso, iniciativas como a implementação da rastreabilidade, certificação, criação de um marketing adequado e a adoção de ciência e tecnologia são indispensáveis para a qualidade do produto final.
O importante é que algum passo foi dado!
Um abraço,
Recentemente tivemos a imposição da rastreabilidade do gado para exportação, num futuro bem próximo também será exigido para os animais de consumo doméstico. Com isso o governo terá 100% de controle sobre a situação fiscal do produtor, e o frigorífico também poderá transferir ao produtor toda responsabilidade, que aliás também é sua, se qualquer problema ocorrer com a carne lá fora. E nós obedecemos calados.
Muito bem. O boi rastreado já está sendo mal remunerado (55,00 avista no PR = U$ 17,85), e ainda deu motivo para promoverem verdadeiro massacre ao boi não rastreado (U$ 16,88 a vista). É o setor organizado triturando o setor produtivo. E nós calados.
Agora surge mais esta novidade chamada Classificação de Carcaça, que em tese é muito importante, porém vai servir apenas para penalizar ainda mais o produtor. A quem ficará o encargo de classificar as carcaças? A adoção do sistema não será (por enquanto) obrigatória, mas é lógico que os frigoríficos vão querer se beneficiar de suas prerrogativas de classificador. É a raposa cuidando do galinheiro. E vai acontecer o mesmo que aconteceu com o boi rastreado. O preço da carcaça Top vai ser o preço normal, e ainda poderão derrubar o preço de acordo com suas conveniências. Quem vai poder contestar o padrão de classificação adotado pelo frigorífico?
Já não chega o abuso que cometem na balança?
Por quê todas as medidas só servem para atingir e dimiuir a rentabilidade do produtor? Por quê não existe câmara setorial para impedir que frigoríficos que “quebram” deliberadamente deêm calote no produtor? Por quê não existe câmara setorial para obrigar a realização de uma pesagem honesta nas balanças dos abatedouros?
Tenho saudade da época em que um boi de 500 kg, rendia até 56%, hoje têm a desfaçatez de apresentarem rendimentos de 50 a 51 % em animais de 500Kg.
Peço aos companheiros produtores que ao lerem este desabafo, dentro de suas possibilidades, pressionem, reinvidiquem, gritem e não deixem que nos coloquem mais este sapo goela abaixo.
Já que nossos orgãos representativos são fracos, vamos exigir que a venda se faça somente pelo peso vivo. No Rio Grande do Sul há muito tempo é assim. E se a classificação de carcaça é inevitável, vamos faze-la, mas com o boi em pé, lá no pasto.
Um grande abraço a todos.
Saudações,