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Manejo de bovinos de corte com base em seu comportamento

Introdução

Para melhor manejarmos bovinos de corte, precisamos compreender vários fatores comportamentais do indivíduo para então aplicarmos esses princípios ao grupo. Esse entendimento é crítico para podermos prever e avaliar a resposta do animal ao manejo.

Diversos trabalhos conduzidos pela pesquisadora Dra. Temple Grandin da Colorado State University mostram que todos os bovinos têm medo de humanos em algum grau de forma geral. Dependendo de experiências prévias, aprendizado e genética, o animal pode tornar-se extremamente temeroso (como é o caso do gado de corte) ou extremamente manso (como no caso do gado leiteiro). Ambos, no entanto, são temerosos em alguma extensão, reagindo perigosamente quando colocados em situações de medo.

O entendimento do medo e das noções básicas sobre o funcionamento da visão e da audição dos bovinos faz com que seja possível trabalharmos com mais segurança, diminuindo o estresse do manejo e aumentando a produtividade.

A zona de fuga

A resposta ao medo é característica de todos os animais vivos, permitindo a sobrevivência do animal. Essa resposta é conseqüência da invasão da chamada “zona de fuga”. Os animais irão fugir quando entramos em sua zona de fuga. Pesquisas têm mostrado que com o entendimento da zona de fuga nós podemos manejar animais com mais eficiência e segurança.


Figura 1 – A zona de fuga e o ponto de equilíbrio do animal (disponível em http://www.grandin.com/behaviour/principles/flight.zone.html).

A figura 1 mostra a zona de fuga do animal. Se uma pessoa se movimenta dentro dessa área, o animal foge. Se essa pessoa se movimenta para fora da área, o animal vai parar. A direção que o animal vai se mover vai depender da posição da pessoa em relação ao ponto de equilíbrio. Se a pessoa está na frente do ponto de equilíbrio, o animal vai se mover pra trás, se o manejador está atrás do ponto de equilíbrio o animal vai para frente.

Visão

O ponto cego, ou seja, a área que o animal não pode ver, está também ilustrada na figura 1. Qualquer movimento nesta área pode ser perigoso, pois o animal pode se assustar e dar coices. Essa área é pequena (cerca de 30o). Logo, um bovino tem quase 360o de campo visual, o que o possibilita detectar movimentos ao seu lado e atrás.

Entretanto, bovinos têm uma visão binocular muito pobre. Os mesmos são capazes de ver com ambos os olhos em uma área de apenas 30o na frente de suas cabeças. Isto é muito importante pois significa que essa é a única área na qual eles têm acurada definição de profundidade. Então, quando uma pessoa se aproxima pelo lado, o animal irá virar a cabeça para determinar a distância da ameaça. Esta característica da visão é a principal razão pela qual modernas instalações de manejo têm sido construídas com os “lados sólidos”.

É recomendado também que currais sejam curvos, o que previne o animal do que parece ser o “final do corredor” (figura 2). As curvas dão a percepção de que o corredor continua, logo o animal se movimenta para a frente.


Figura 2 – Modelo de curral curvo (disponível em http://www.grandin.com/behaviour/principles/animal_movement.html).

Audição

A audição dos bovinos é semelhante à dos humanos. A maior preocupação com barulho durante o manejo é o fato de que sons estranhos ou excessivamente altos podem assustá-los, o que impedirá a movimentação desejada.

Conclusões

O treinamento de pessoal para o manejo do gado deverá ser focado especificamente no entendimento do ponto de equilíbrio do animal e sua zona de fuga. É importante ainda evitar-se movimentos bruscos, barulho em excesso (gritaria, agitação dos animais) e qualquer tipo de ação que possa assustar o gado.

Deve haver um cuidado maior com animais mais agitados que a média, para assegurar o bem estar do mesmo e das pessoas envolvidas no trabalho. De forma geral, o pessoal envolvido deve estar bem treinado e capacitado.

Mais informações sobre manejo de animais, tipo de instalações (inclusive com dimensões) podem ser obtidas na webpage da Dra. Temple Grandin (www.templegrandin.com).

Bibliografia consultada

Grandin, T. Recommended Basic Livestock Handling. Disponível em: www.templegrandin.com. Acessado em 05/11/2005

0 Comments

  1. José Rodolfo Panim Ciocca disse:

    Ola Judson,

    Gostaria de parabenizá-lo pelo artigo, tendo em vista que hoje é fundamental a preocupação com o bem-estar dos animais e conhecimento de seu comportamento para que facilite o manejo.

    Faço Zootecnia na Unesp- Jaboticabal e faço parte do Grupo ETCO (Grupo de estudos em etologia e ecologia animal).

    Alguns de nossos trabalhos têm esse enfoque, inclusive estou em um deles. Os resultados obtidos são fantásticos! Parabéns.

  2. Gilson Horbylon Castro disse:

    Nos meus conhecimentos, está correto o conteúdo do artigo.

    É básico o fato de observar detalhes de manejo como: menos barulho na movimentação do rebanho e calma dos funcionários.

    Isso tudo transmite tranquilidade aos animais. Também o momento exato de tomar atitudes em relação a movimentação do animal é fundamental,não somente nos ângulos de aproximação.

    As instalações como foram ditas, é outro fator que limita qualquer manejo, segurança e bem estar dos animais.

    Alguém publicando e preocupado com estes aspectos é uma satisfação.

    Alguns problemas na pecuária sempre foram a falta de informação, pesquisa e divulgação ao alcance do produtor.

    Aprendemos mais com a prática.