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Manejo de cocho em confinamentos

Introdução

Dentre vários fatores que podem limitar a performance animal em um regime de confinamento, o manejo de cocho destaca-se por influenciar no GPD e na eficiência alimentar minimizando a ocorrência de desordens metabólicas. Oscilações diárias no consumo de ruminantes tratados com dietas contendo de média a alta quantidade de concentrado podem afetar negativamente seu desempenho causando problemas digestivos e comprometendo toda a economicidade da operação.

O termo “manejo de cocho” (adaptado do inglês – bunk management) refere-se à técnica de manejo alimentar utilizada em confinamentos comerciais com o intuito de se reduzir variações no consumo através do planejamento e controle do fornecimento de ração.

Uma grande quantidade adicionada hoje, uma grande quantidade reduzida amanhã.

É comum em confinamentos o fornecimento contínuo de ração como uma tentativa de se maximizar o consumo. Sabemos que o GPD é ligado à ingestão de MS, porém animais que recebem ração à vontade ou em excesso geralmente acabam em um chamado consumo cíclico (efeito “iô-iô”), caracterizado por uma variação excessiva entre altos e baixos consumos. Logo, o manejo alimentar correto não é aquele que oferta o máximo, mas aquele que oferta apenas o necessário.

A oferta contínua e abundante de alimento pode até fazer com que animais consumam mais inicialmente, mas eles possivelmente perderão o apetite e não irão consumir bem nos dois ou três dias seguintes.

Galyean et al. (1999) realizaram um estudo mostrando que a variação de 10% no consumo de MS durante o período de confinamento causou uma redução de 6% em GPD e 7% em eficiência alimentar, em comparação com um sistema baseado em incrementos constantes em consumo de acordo com peso vivo. Nesse estudo, os autores concluíram que o desempenho inferior foi causado por uma acidose ruminal subclínica decorrente da variação no consumo.

A ecologia microbiana ruminal

Dietas de confinamento geralmente possuem grande quantidade de grãos contendo carboidratos prontamente fermentáveis que causam um expressivo aumento na disponibilidade de glicose livre, estimulando o crescimento de bactérias ruminais, aumentando a produção de AGV e diminuindo o pH ruminal. Algumas bactérias produzem também ácido láctico, responsável pela diminuição mais acentuada do pH.

Em condições normais, existe um mecanismo compensatório entre produção e uso de ácido láctico que previne o seu acúmulo excessivo. Quando há oscilações frequentes no consumo, o excesso de ácidos produzidos poderá exceder a capacidade de tamponamento do rúmen, o que causa diminuição drástica do pH ruminal (Schwartzkopf-Genswein et al., 2003).

Problemas digestivos são geralmente causados por mudanças súbitas que desestabilizam a ecologia microbiana ruminal. Se o consumo de grãos é constante, o animal tem tempo suficiente para ajustar-se à quantidade de ácido produzida. Menor variação no consumo diário significa menor variação do pH ruminal, melhora na saúde ruminal e redução na ocorrência de problemas como acidose, timpanismo, abcessos hepáticos e laminite.

Cocho limpo

O manejo de cocho é um processo dinâmico, variando em função de fatores como diferentes tipos de dietas, animais, clima e espaço de cocho disponível. Esse manejo é aplicado à baia mesmo considerando que podem existir direrenças marcantes entre animais do mesmo grupo em termos de características ruminais (Pritchard and Bruns, 2003).

Pesquisa e experiência prática têm mostrado que métodos que parcialmente restringem a quantidade de ração fornecida podem ser favoráveis para confinamentos. Nesses sistemas, animais recebem apenas 92 a 96% do que consumiriam caso estivessem recebendo ração à vontade. De acordo com Pritchard, (1998) a diminuição na oferta não afeta o GPD, e mesmo quando ocorre um efeito negativo, a eficiência alimentar é mantida e pode até ser melhorada. Enquanto sistemas de fornecimento contínuo tentam maximizar o consumo diário, o fornecimento limitado de ração tenta maximizar o consumo médio durante todo o período.

Algumas das vantagens observadas no uso da restrição de tratos incluem melhor eficiência alimentar, menor quantidade de sobras e desperdício no cocho, menor quantidade de ração a ser oferecida, menor despesa com mão de obra, melhor sistema para limpeza de cochos, melhor controle de estoque de ingredientes, e melhores projeções (Hicks et al., 1990).

Diferentes sistemas de manejo de cocho são adotados em diferentes confinamentos. O chamado “manejo do cocho limpo”, por exemplo, é o sistema onde os cochos devem estar limpos de um dia para outro, ou pelo menos entre um dos tratos durante o dia. Dentro desse sistema, alguns confinamentos preferem que os cochos estejam completamente vazios enquanto que outros aceitam a permanência de uma fina camada de sobras.

Comportamento do animal

Se os cochos estão completamente vazios e os animais estão tranquilos e descansando, a quantidade de ração fornecida está provavelmente certa. No entanto, se antes do trato os cochos estão vazios a ponto de serem visíveis as marcas de saliva, e os animais aparentam estar estressados e famintos, a quantidade de ração provavelmente precisa ser aumentada. O “ideal” para quando o caminhão tratador chegar, é que 25% dos animais da baia estejam no cochos alinhados e esperando o trato, que 50% estejam em pé e já se encaminhando para o cocho e que 25% estejam se levantando (Horton, 1990).

Horário de fornecimento

Assim que o período de terminação em confinamento se inicia, todos os animais têm que ser tratados diariamente no mesmo horário e da mesma forma. Qualquer atraso de 15 minutos poderá afetar a performance do animal confinado. O quanto será afetado irá depender da frequência e da extensão da irregularidade (Pritchard, 1998).

Bovinos possuem hábitos, fazendo as mesmas coisas todos os dias no mesmo horário, sem muitas mudanças na sua “agenda”. Os tratos no mesmo horário todos os dias ajudam a criar um hábito e a melhorar a consistência no consumo.

Se em algum dia o primeiro trato for oferecido mais cedo que o esperado, os animais provavelmente ainda não estarão famintos o suficiente para ingerir a quantidade rotineira. Eles possivelmente irão consumir parte dessa ração fresca, porém irão ingerir menos depois que o alimento ficar no cocho por algum tempo.

Se o trato é feito mais tarde do que o normal, os animais poderão ingerir demais porque estarão mais famintos, o que fatalmente resultará em excesso de consumo e problemas digestivos.

Em confinamentos que usam três a quatro tratos por dia, o horário é ainda mais crítico. Os animais se acostumam tanto que aproximadamente 75 a 100% de seu consumo está relacionado ao “chamado” do caminhão.

Leitor de cocho

Determinar a quantidade de ração a ser acrescentada ou diminuída não é fácil. O “leitor de cocho” é a pessoa responsável pela inspeção de sobras no cocho e responsável por determinar quanto deverá ser modificado em relação ao dia anterior. As “leituras” devem ser feitas sempre nos mesmos horários e pela mesma pessoa todos os dias. A mais importante das leituras é a primeira da manhã, feita aproximadamente uma hora antes dos caminhões começarem a distribuir a ração.

Nessa leitura é que é decidida a quantidade de ração a ser aumentada ou diminuída com relação ao dia anterior. O leitor de cocho também é encarregado de conferir se todas as baias são tratadas com a ração certa, com a quantia certa e na hora certa.

Existem hoje disponíveis no mercado programas de computador para controle de tratos que podem ser adaptados a diferentes sistemas de manejo de cocho. O leitor de cocho digita os dados da leitura e recebe uma planilha automática com a quantidade a ser fornecida durante o dia. O uso desses programas, porém, deve ser associado a um bom treinamento e à experiência do leitor de cocho.

Conclusão

Em diferentes confinamentos diferentes sistemas de manejo de cocho têm sido utilizados, cochos são lidos em diferentes horas do dia e da noite, e os números de tratos têm variado de 1 a 6 vezes por dia.

Como podemos ver, não há um consenso sobre manejo de cochos em confinamentos comerciais, assim como não há um consenso sobre manejo de cochos em termos de literatura científica.

Há uma complexidade de interações que afetam de forma diferente cada confinamento ou instituição de pesquisa. Independentemente do método utilizado em manejo de cocho, é importante lembrar que as adições de ração devem sempre ser feitas em pequenas quantidades e de forma gradual.

O resultado final será um aumento natural do consumo, menor incidência de problemas digestivos e melhores ganhos.

Bibliografia consultada

Galyean, M. L., K. L. Malcom-Callis, D. R. Garcia, and D. G. Pulsipter. 1992. Effects of varying the pattern of feed consumption on performance by programmed-fed beef steers. Progress Report No. 78. Clayton Livestock Res. Ctr. New Mexico State Univ.

Hicks, R. B., F. N. Owens, D. R. Gill, J. J. Martin and C. A. Strasia. 1990. Effects of controlled feed intake on performance and carcass characteristics of feedlot steers and heifers. J. Anim. Sci. 68:233.

Horton, Johnny M., 1990. Bunk management, feed delivery and water trough management. In Cattle Feeding: A Guide to Management, Albin and Thompson, Ed., Trafton Printing, Inc, Amarillo, TX.

Pritchard, R. H. 1998. Bunk management – Observations from research. Plains Nutrition Council Spring Conf. Texas A&M research and Extension. Pub. AREC 98-24. Page 68.

Pritchard, R. H., and K. W. Bruns. 2003. Controlling variation in feed intake through bunk management. J. Anim. Sci. 81(E. Suppl. 2):E133-E138.

Schwartzkopf-Genswein, K. S., T. A. McAllister, K. A., Beauchemin, D. J. Gibb, D.H. Crews Jr., D.D. Hickman and M. Streeter. 2003. Effect of bunk management on feeding behaviour, ruminal acidosis and performance of feedlot cattle: A review. J. Anim. Sci. 81 (E Suppl. 2):E149-E158.

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