Assim como as fêmeas os machos possuem períodos que devem ser considerados, relativos ao início da capacidade reprodutiva e desenvolvimento dos órgãos genitais. A puberdade é a idade onde o touro jovem passa a apresentar libido, devido à produção de testosterona (capacidade esteroidogênica) e a produzir espermatozóides (capacidade gametogênica), função esta coordenada por uma complexa inter-relação hormonal. O início da manifestação destas características é considerada como puberdade, porém nesta fase ainda o macho não possui capacidade reprodutiva plena e não deve ser utilizado na reprodução, pois embora possa ter libido, a quantidade e qualidade dos espermatozóides no ejaculado é pequena, e a fertilidade muito baixa.
A maturidade sexual é atingida cerca de 2 a 3 meses mais tarde que a puberdade. É a partir desta fase que o macho deve iniciar a reprodução. Vale lembrar que pode iniciar a reprodução, mas ainda vai melhorar seu perfil espermático até a idade adulta. Assim, nesta fase, deve ser executar um número menor de montas, ou ser colocado com um número menor de fêmeas.
Certamente definir quando iniciar a reprodução dos machos é uma dúvida ainda maior que em relação ás fêmeas. No macho esta questão tem ainda mais importância, pois um touro imaturo, com fertilidade não adequada pode prejudicar a taxa de gestação e comprometer a produção de um grande número de fêmeas. Para que este problema não ocorra é imprescindível a avaliação andrológica de cada animal antes do mesmo iniciar a reprodução. Os resultados podem ajudar a determinar o número de fêmeas a ser colocado com este touro.
A tabela 1 mostra os efeitos da idade na performance reprodutiva de touros de diferentes idades. Os animais mais jovens apresentam maior libido, o que pode ser observado pela maior proporção de montas/serviço. Ou seja, gastam muita energia tentando montar as fêmeas, porém efetivam um percentual menor de montas. Mesmo executando um número maior de montas, a proporção de vacas que foram cobertas é menor em relação aos animais mais velhos. Outro problema com estes animais diz respeito à fertilidade. Um menor percentual de fêmeas efetivamente cobertas pelos animais mais jovens ficou gestante, indicando menor fertilidade dos touros deste grupo. Se considerarmos que não efetivam boa proporção das montas e não tem boa fertilidade, é perfeitamente compreensível que deveriam ser colocados com um número menor de vacas.
As principais variáveis a serem consideradas para se determinar a relação touro: vaca são as seguintes:
As informações sobre a relação entre nutrição e reprodução são mais abundantes em fêmeas que em machos, porém nestes últimos a nutrição também desempenha papel decisivo na eficiência reprodutiva.
Os trabalhos existentes relacionam diferentes componentes da dieta com mecanismos como aparecimento da puberdade, libido, produção espermática, qualidade dos espermatozóides, etc.
Os níveis de energia são colocados como a principal variável da dieta que afeta a fertilidade dos touros. A privação de dieta com níveis adequados de energia, principalmente por longos períodos, durante a fase de crescimento do macho pode levar a problemas de fertilidade permanentes no futuro, que não seriam compensados por alimentação adequada na fase adulta. O excesso de energia também pode ser prejudicial. Animais excessivamente gordos podem apresentar além de redução da libido e capacidade de serviço, problemas de fertilidade.
A proteína da dieta também pode influenciar o perfil espermático dos touros. Dietas muito pobres em proteína podem afetar o desenvolvimento dos animais ainda em crescimento e prejudicar futuramente a produção espermática, principalmente se os níveis de restrição protéica forem muito intensos. Em animais adultos a restrição de proteína poderá também ocasionar problemas de fertilidade, principalmente se chagar ao limite de afetar a multiplicação das bactérias ruminais e o papel destas na fermentação das forragens.
O excesso de proteína também é danoso á reprodução. O excesso deste componente pode causar alteração na viabilidade dos espermatozóides e outros problemas que podem afetar a fertilidade.
Para as condições brasileiras as características de adaptação devem ser consideradas juntamente com os aspectos genéticos, na seleção do reprodutor. Como a maior parte do efetivo de corte nacional são rebanhos extensivos é primordial a capacidade do touro em cobrir vacas à campo com fertilidade duradoura e adequada.
As condições ambientais adversas, nas regiões tropicais, são variáveis limitantes de grande importância na expressão do potencial produtivo, principalmente de animais de raças européias. As condições climáticas, em determinadas situações, podem se tornar um importante fator de estresse para os animais. A maior produção e a menor capacidade de dissipação de calor em animais de raças européias é o principal fator que contribui para a redução de fertilidade destes animais em condições tropicais. Nos machos a dificuldade de manutenção da termo-regulação testicular causa os principais efeitos adversos na fertilidade. Os animais de origem zebuína possuem várias características de adaptação que lhes permite melhor fertilidade nas condições tropicais. A menor circunferência escrotal pode ser considerada um exemplo. Testículos de menor circunferência possuem menor distância entre o centro e a extremidade, dissipando calor de forma mais adequada e intensa.
É importante que todos os touros à partir da idade reprodutiva sejam avaliados quanto a sua fertilidade pelo menos uma vez ao ano. Além disto, sempre que se suspeitar da fertilidade de um touro ou ocorrer algum problema que possa afetar a reprodução, o animal deverá ser novamente examinado. Este exame deve ser completo, feito de forma criteriosa, por um técnico competente.
Desconfie de exames incompletos que avaliam somente algumas características. A estimativa da fertilidade de um animal será mais acertada quanto maior o número de informações envolvidas no diagnóstico. Além disto, a reprovação do animal para a reprodução, salvo em raras exceções, não deverá ser feita por esta ou aquela característica, mas por avaliação e interpretação correta de todas as informações obtidas.
Para quem trabalha o rebanho em regime de estação de monta os animais devem ser avaliados 1 a 2 meses antes da estação, para que se tenha tempo de substituir algum animal eventualmente sem fertilidade adequada. Recomenda-se também uma nova avaliação de todos os animais após a estação. Este exame tem como finalidade eliminar touros com problemas reprodutivos que não têm tratamento, evitando a manutenção desnecessária deste animal no plantel até antes da próxima estação, quando será realizado novo exame.
Conclusões
Os touros possuem grande importância na pecuária de corte nacional, seja pelo seu efetivo ou pelo que representa na fertilidade, e direcionamento genético dos rebanhos. O Brasil possui um grande demanda por touros denominados melhoradores, pois é pela utilização sistemática destes animais que poderá melhorar de forma mais rápida a genética do plantel nacional de bovinos de corte. Desafio adicional tem os criadores e selecionadores de raças européias, que tem importante papel na pecuária nacional para o cruzamento industrial. Estas raças precisam direcionar o melhoramento para características de adaptação ao meio, para que se possa cada vez mais utilizar machos europeus para cobrir as fêmeas zebuínas, à campo. Para muitos, esta é a principal limitação na disseminação de várias destas raças.
Os cuidados com a fertilidade dos touros também merecem atenção especial. A realização periódica de avaliações andrológicas completas, realizadas por técnicos capacitados, deve ser implementada em todos os rebanhos, a fim de não se manter animais com problemas de fertilidade no plantel, que são muito mais prejudiciais que uma fêmea com problema semelhante.
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