Autoridades brasileiras discutirão hoje em Brasília, no Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), estratégias para expandir as exportações de carne frente às restrições do mal da “vaca louca” nos EUA.
A intenção é detectar os pontos fracos do País diante do mercado externo, afirmou o consultor Ênio Marques: “Barreiras precisam ser derrubadas para provar que o maior exportador de carne do mundo também tem o melhor produto do mercado”.
A agilidade para implementar uma política sanitária capaz de derrubar restrições comerciais, impostas pelos EUA e Japão, será o ponto da reunião no Mapa, ressaltou o consultor.
O Brasil não exporta carne para esses países, maiores compradores, porque vacina o gado contra aftosa. “É hora de provar que é porque os países vizinhos não vacinam”, disse Heinz Otto, da Defesa Agropecuária de São Paulo.
Governos estaduais e iniciativa privada alertam para os investimentos em sanidade animal para reforçar a posição do Brasil na exportação de carne bovina.
Segundo o secretário de Agricultura de São Paulo, Duarte Nogueira, “o Brasil está pronto para preencher a lacuna deixada pelos EUA, que foram afetados comercialmente depois do registro de um caso de ‘vaca louca’ naquele país”.
Aftosa
O histórico de febre aftosa nos rebanhos de gado do Brasil impede que o País se beneficie da suspensão da compra de carne dos EUA.
A expectativa era que países como Brasil, que ao lado da Argentina é um dos maiores produtores de carne da América Latina, ampliassem suas vendas para mercados como Japão e Coréia do Sul depois que estes embargaram a importação do produto norte-americano.
No entanto, foi a Austrália que mais se beneficiou da medida. Apesar de o Brasil não registrar casos da doença há alguns anos, os países da Ásia rejeitam carne de países latino-americanos que têm histórico de febre aftosa, como Brasil e Argentina.
Porta-vozes do Japão e da Coréia do Sul já informaram que não pretendem substituir as compras de carne americana por produtos brasileiros e argentinos.
O mercado japonês e o sul-coreano seriam ótimas oportunidades de negócios para o Brasil caso o País conseguisse apropriar-se pelo menos de parte do mercado que era ocupado pelos EUA. Somente o Japão comprava cerca de US$ 1,8 bilhão em carne norte-americana por ano. A Coréia, cerca de US$ 600 milhões.
Redução
O caso de “vaca louca” nos EUA pode reduzir o consumo de carne vermelha no mundo, favorecendo o mercado de aves e suínos. A avaliação é do analista Alcides Torres, da Scot Consultoria em Bebedouro, SP. “As pessoas podem ficar com medo de se contaminar e buscar produtos alternativos. Foi o que aconteceu na Europa e no Japão após os primeiros surtos da doença”.
Ele disse que a dimensão da queda do consumo por causa do problema só poderá ser confirmada nos próximos meses. Devido ao período de férias e feriado do Ano Novo, o consumo de carne sofre tradicionalmente uma queda sazonal. Para Torres, existe, atualmente, uma “histeria coletiva” em torno do caso de “vaca louca” nos EUA.
Argentina
Entretanto, o governo argentino espera exportar mais carne, soja e farinha de origem vegetal. Segundo o secretário de Agricultura, Miguel Campos, a Argentina está em uma situação “altamente favorável” para aproveitar as conseqüências da crise sanitária americana. “O primeiro impacto, sem dúvida, será um aumento de ingresso de divisas no país por incrementos nos preços e na demanda de produtos derivados da soja”, disse.
Cálculos extra-oficiais apontam que esses ingressos extras poderiam variar de US$ 500 milhões a US$ 2 bilhões, mas a Secretaria prefere esperar a evolução dos mercados antes de fazer uma projeção.
Na visão do governo, o país poderá, com esses ganhos eventuais, compensar perdas ocorridas por conta da redução no consumo e da menor confiança dos consumidores no produto.
Fonte: Correio do Povo/RS, Gazeta Mercantil, Diário de Cuiabá/MT (por Sérgio Ripardo) e O Popular/GO, adaptado por Equipe BeefPoint