O grande acerto é entender e respeitar a dinâmica do crescimento do pasto – Felipe Dias
11 de outubro de 2013
Não podemos achar que o animal inteiro superprecoce é passível de alta premiação, pois não produz uma carne que o consumidor mais exigente deseja – Roberto Barcellos
11 de outubro de 2013

Marchigiana: velocidade de ganho de peso e carne magra [Projeto Raças]

Projeto Raças é uma série de artigos do BeefPoint, cada um dedicado a uma raça, que visa reunir opiniões e conhecimento de profissionais que trabalham diretamente com cada uma dessas raças. Elaboramos uma série de entrevistas com esses especialistas. O resultado dessas entrevistas  para a raça Marchigiana está compilado aqui, com a opinião desses especialistas sobre a raça.

Essa série de artigos não representa um endosso especial do BeefPoint em nenhuma das raças que vamos apresentar nesse projeto, mas a opinião e comentários de quem trabalha com cada uma dessas raças. Estamos em contato com as principais raças de corte do Brasil e iremos publicar aqui uma por uma, nas próximas semanas.

Conheça mais a raça Marchigiana

Histórico da raça

Os bovinos da raça Marchigiana têm origem muito antiga. Originários das raças podólicas, foram introduzidos na Itália depois do século V d.C., juntamente com os povos bárbaros que, depois da queda do Império Romano, invadiram a região de Marche. Daí difundiram-se pelas regiões próximas caracterizadas por verões secos e quentes (média de 40ºC) e por invernos úmidos e frios (média de -15ºC), onde as terras, em sua maior parte são argilosas e compactas, ou saibrosas e áridas.

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Nesta região montanhosa (região dos Apeninos), a produção de massa verde não é abundante e as forragens são geralmente de qualidade inferior. As difíceis condições ambientais e alimentares, assim como o emprego continuado nos trabalhos de campo, e os vários cruzamentos com outras raças que habitavam a Itália, como a Chianina, Romagnola e outras, acentuaram, com o passar dos séculos, o desenvolvimento das massas musculares, e as características de rusticidade, precocidade, fertilidade e docilidade que caracterizavam os indivíduos desta raça bovina.

Na Itália, país de origem da raça, em 1930 foi instituído o Livro Genealógico da raça Marchigiana. A partir daí, interromperam-se os cruzamentos e os trabalhos de seleção passaram a ser então dirigidos no intuito de obter animais produtores de carne, visto que até esta época, os bovinos eram criados e selecionados também para o trabalho no campo.

Atualmente a raça na Itália conta com cerca de 50.000 exemplares inscritos em seu Livro Genealógico e está presente em vários países como: Brasil, Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Austrália, Argentina, Inglaterra, Holanda, México e África do Sul.

O rebanho da raça Marchigiana no Brasil

A introdução da raça Marchigiana no Brasil iniciou-se no ano de 1965, quando o Dr. Ermano Bonaspetti, um italiano radicado no Brasil, adquiriu as primeiras doses de sêmen de um famoso touro italiano, utilizando-as com muito sucesso no Rio Grande do Sul. Nessa época, o Dr. Bonaspetti divulgou, por meio vários de artigos de sua autoria, as virtudes da raça que tão bem conhecia em seu país de origem.

Em 1969, foi realizada pelo criador Joel de Paiva Cortes, que viria a ser o primeiro presidente da ABCM, a primeira importação de animais puros italianos, sendo dois touros e dez vacas. Novas importações ocorreram em 1971, 1972, 1975 e 1995. Dessas importações principais, acrescidas de outras menores, de animais, sêmen e embriões congelados, oriundas da Itália, Canadá e Argentina, formou-se o atual plantel Marchigiana do Brasil.

Associação Brasileira dos Criadores de Marchigiana- ABCM

Em 1972, foi fundada a Associação Brasileira dos Criadores de Marchigiana – ABCM, responsável pelo registro genealógico da raça no Brasil.

A missão da ABCM é promover a evolução genética da raça Marchigiana, divulgando as qualidades dos animais da raça e de seus cruzamentos, com base em estudos técnicos e buscando excelência nos serviços prestados pela associação a todos envolvidos com a raça, incluindo o registro genealógico e o suporte técnico.

Eliane Massari, presidente da ABCM, salienta que o principal objetivo da ABCM é responder à crescente demanda por touros Marchigiana para utilização em programas de cruzamento industrial. Para tanto, está incentivando os seus associados ao aumento da produção de touros PO, assim como a oferta de sêmen que será utilizado em programas de IATF.

Partindo deste princípio, os principais projetos em andamento na ABCM estão relacionados ao aumento da oferta da genética Marchigiana para uso em cruzamentos industriais, seja por meio de touros PO seja pela disponibilidade de sêmen a ser utilizado em programas de IATF.

Em 2012-2013, visando alavancar a raça no mercado, a ABCM promoveu, nas edições de 2012 e 2013 da Feicorte, a II e III Mostra e Shopping da raça Marchigiana, com maior número de animais e de criadores.

A participação foi considerada um sucesso com a comercialização dos animais expostos, o retorno dos julgamentos da raça Marchigiana e com a visita de criadores colombianos interessados na genética brasileira.

Em 2013, o julgamento dos animais da raça foi realizado por Matteo Ridolfi, representante da ANABIC da Itália, um das mais importantes autoridades no mundo.

E para 2013-2014, os principais planos são:

  • Incrementar o fomento da raça, com a ampliação da oferta da genética Marchigiana, incentivando a divulgação nos principais polos regionais da pecuária, a partir de criadores locais;
  • Fundamentar o fomento da raça com base em pesquisas e trabalhos técnicos, buscando o apoio de profissionais de renome e de universidades;
  • Manter e incrementar o intercâmbio técnico com a ANABIC e
  • Estabelecer convênio de cooperação técnica com a Colômbia, considerando grande interesse demonstrado pela raça por criadores daquele país.

Assim sendo, visando divulgar a raça, a ABCM tem aproveitado todas as oportunidades oferecidas pelos principais canais de comunicação com o setor da pecuária, tendo obtido grande apoio e repercussão na mídia. Além disso, a ABCM explora a comunicação pelas redes sociais com excelente retorno e repercussão.

E para o produtor, quais são as vantagens em se associar na ABCM?

A ABCM, além de realizar todos os registros de animais da raça, fornece assistência técnica aos seus associados, orientando acasalamentos, manejos e sistemas de controle.

Segundo Daniela Sanches Liranço, zootecnista e criadora da raça, a ABCM tem apoiado os criadores a voltarem às exposições, que são vitrines para todas as raças, tem um serviço de ajuda a quem quer adquirir genética Marchigiana, touros e matrizes, bem como atitudes que fortalecem muito a promoção da raça.

Estágio atual da raça

Nos últimos anos, há significativo aumento do número de registros e a inscrição de novos sócios da ABCM, comprovando o aumento do interesse na criação da raça no Brasil.

Assim sendo, temos:

  • Em 2011, 601 animais registrados;
  • Em 2012 e 2013 (dados incompletos), 867 animais registrados e
  • 80 criadores cadastrados.

Características zootécnicas da raça

É um animal tipo produtor de carne caracterizado por notável desenvolvimento dos músculos e do quarto traseiro, comum tronco alongado e que tende a ser cilíndrico. Assim sendo, é particularmente precoce e adaptado aos ambientes mais difíceis.

As características da raça, pele negra e pelos brancos, conferem grande resistência ao calor, resultando em grande adaptabilidade em qualquer região do País. Atualmente, a genética Marchigiana é utilizada com sucesso de norte a sul.

Do bovino Marchigiana, devemos ressaltar, principalmente, o grande comprimento de seu tronco, a força de seus diâmetros transversais e a fineza da sua estrutura esquelética. Considerando em sua totalidade, é harmonioso, ágil em seus movimentos e de temperamento dócil.

Ele se caracteriza pela sua elevada capacidade de ganho de peso (os indivíduos adultos podem superar o peso de 1.200 Kg nos touros e 700 Kg nas vacas) com adequado acabamento de carcaça, altas taxas de fertilidade, rusticidade, sendo uma das características mais marcantes a tolerância ao calor.

Adicionalmente, os animais nascem em média com 42 Kg de peso ao nascer e estão aptos à reprodução à partir dos 16 meses para fêmeas e 18 meses para os machos.

Na busca de animais mais precoces, a raça passou por uma evolução nos últimos cinco anos. Houve uma sensível diminuição na altura dos animais com incremento na profundidade torácica, comprimento e musculosidade.

Assim sendo, as principais vantagens da raça Marchigiana são:

  • Padronização da pelagem;
  • Velocidade e alto ganho de peso;
  • Valorização comercial;
  • Precocidade sexual;
  • Carcaça moderna;
  • Carne de qualidade e
  • Alta lucratividade.

Quais são os desafios para o Marchigiana atual?

Como qualquer raça de bovinos, há pontos positivos e pontos que ainda precisam ser melhorados. Assim sendo, há algumas características indesejáveis na raça Marchigiana, as quais podem ser otimizadas com base no melhoramento genético, acasalamentos dirigidos e outras tecnologias disponíveis e que são motivos de desclassificação no ato do registro do animal, a saber:

  • Pele totalmente rósea;
  • Despigmentação parcial da língua;
  • Vassoura da cauda totalmente branca;
  • Agnatismo ou prognatismo;
  • Criptorquidismo ou monorquidismo e
  • Manchas de coloração escura específicas e delimitadas do corpo.

Daniela Sanches ainda salienta, que hoje e sempre é preciso melhorar a seleção para animais cada vez mais resistentes ao calor, habilidade materna, cascos e aprumos, uma vez que os reprodutores desta raça são usualmente utilizados em sistemas com monta a campo.

Quais os principais cruzamentos que podem ser realizados com base nesta raça?

A raça Marchigiana é uma excelente opção para o cruzamento industrial, melhorando a qualidade da carne e diminuindo o tempo de abate, com excelente acabamento e rendimento de carcaça para machos e fêmeas.

Outra vantagem dos animais com sangue Marchigiana está na flexibilidade no momento do abate. Caso o preço de mercado não seja o esperado ao atingir as 18 @, pode-se reter os animais no pasto ou no confinamento, que continuarão ganhando peso até uma melhor condição de mercado.

Animais 1/2 Marchigiana 1/2 Nelore

Animal 1/2 Marchigiana 1/2 Brahman

Quais as principais tecnologias usadas para manejo reprodutivo do rebanho desta raça?

No Brasil, um ponto de destaque, é que consegue-se  fazer o cruzamento industrial com touros que cobrem a campo, podendo fazer o repasse da inseminação e ainda assim produzir um animal de qualidade superior.

Adicionalmente, há um intenso trabalho com sêmen de alta qualidade, proveniente dos melhores criatórios italianos e brasileiros, e hoje são produzidos touros e matrizes de excelente qualidade, ou seja, há investimento em tecnologia de ponta como TE e FIV, trocando genética melhoradora.

Índice Asbia 2012 – Evolução raça Marchigiana – 3 anos

Fonte: Asbia.

Veja abaixo recados dos profissionais entrevistados

Eliane Massari: “O momento é extremamente oportuno para os criadores da raça, incluindo aqueles que estejam iniciando a criação, tendo em vista a crescente procura por animais Marchigiana para a aplicação em cruzamento industrial.”

Daniela Sanches Liranço: “O meu recado para todos os criadores seria de estarem sempre procurando o melhor em genética que existe hoje disponível no Brasil e fazer as medições zootécnicas sempre no seu rebanho. E para aqueles que querem começar a criar, eu aconselho a procurar a ABCM que poderá indicar um criatório que tenha animais disponíveis para venda e peça a ajuda de um técnico credenciado, que vai orientar na escolha dos animais, no sêmen a ser comprado e nos acasalamentos desses animais. E claro que se associe a ABCM.”

Veja abaixo algumas fotos de animais e da carne da raça Marchigiana

Agradecimentos

  • Associação Brasileira de Criadores de Marchigiana (ABCM)
  • Eliane Massari- Presidente da ABCM
  • Daniela Sanches Liranço – Produtora destaque (indicada pela ABCM)
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Artigo elaborado por Gustavo Freitas, membro da Equipe Conteúdo BeefPoint, com base nas entrevistas feitas com os profissionais acima listados, que trabalham com a raça Marchigiana.

3 Comments

  1. Adauto Martinez Filho disse:

    Muito boa a matéria sobre a raça Marchigiana, que é uma excelente opção para a produção de carne com eficiência e qualidade.

  2. Gustavo Freitas disse:

    Olá!

    Em nome de toda a Equipe BeefPoint, agradeço a todos que aprovaram a iniciativa do Projeto Raças.

    Tentamos proporcionar um material de qualidade para os nossos leitores, com base em diversas opiniões de profissionais que trabalham com as respectivas raças.

    Publicamos 22 artigos e/ou raças no mês de outubro, isto é uma grande satisfação :-)

    Um abraço,

    Gustavo Freitas – Conteúdo BeefPoint.

  3. renzzo bastiani disse:

    Adquirimos dos criadores, Eliane Massari e Antonio Delamuta algumas fêmeas puras para evoluir o nosso rebanho de P.O. Estamos fazendo FIV ( fertilização in vitro) e inseminação, sempre com ATF. Não poderíamos ter feito nada mais acertado.Nosso rebanho evolui e a garga genética adquirida dos criadores citados acima, não poderia ser de melhor qualidade. Com a ajuda do técnico da ABCM Dr. Roberto, sempre presente, estamos estimulados a continuar com todo vigor e empenho, na produção de PO e também do comercial, com excelente ganho de peso e preço diferenciado.
    Renzzo\ Bruno.
    Fazendas Boa Vitória \ MG