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Márcia Barcellos: oportunidades internacionais para o Brasil

O Brasil é um dos únicos países no mundo que ainda apresenta potencial de crescimento de produção de carne bovina. Segundo dados da FAO, o país possui 19% do total de terras agricultáveis e usa apenas 4% dessas terras. Apesar da subutilização de sua capacidade, possui o maior rebanho comercial do mundo, sendo que 80% deste é constituído por raças zebuínas e suas cruzas. Além disso, o Brasil apresentou, até setembro deste ano, volume recorde de exportação de carne.

O custo médio de produção de bovinos no Brasil também é um fator a ser considerado no que diz respeito ao seu potencial. O custo brasileiro representa cerca de 30% do custo dos Estados Unidos e 50% do custo da Austrália. Além disso, a pecuária é considerada uma atividade menos arriscada que a agricultura.

Tabela 1: Utilização de terras


Em função do grande potencial de abastecimento da carne brasileira no mercado internacional e dos baixos preços da mesma, muitos países tem mudado suas políticas de subsídios em função da ameaça que esse potencial pode representar. Nesse sentido, países, como o Reino Unido, divulgam notícias internacionais que prejudicam a imagem da carne brasileira (a exemplo do artigo de George Monbiot, comentado por Fernando Sampaio na seção Conjuntura do BeefPoint).

A campanha contra a carne bovina contribui para a disseminação da imagem negativa do produto. Exceções podem ser verificadas como a Dieta do Dr. Atkins sugere o aumento do consumo de proteína animal e redução do consumo de carboidratos.

Somado a isso, o Zebu é pouco difundido nos outros países como raça produtora de carne e possui imagem de animal silvestre no mercado internacional. Em sua apresentação durante o 6o Congresso de Raças Zebuínas da ABCZ, Márcia mostrou uma foto de Zebu tirada em um zoológico europeu, evidenciando essa imagem de animal silvestre. A divulgação de pesquisas brasileiras com essas raças, comprovando cientificamente os atributos positivos dos zebuínos internacionalmente é deficiente e poderia ser melhorada.

Além disso, Márcia alerta que o Brasil precisa atentar para oportunidades de entrada no mercado internacional. O mercado japonês, por exemplo, demanda um produto altamente marmoreado. O Brasil não tem condições de produzir de acordo com as exigências desse consumidor de maneira econômica, mas tem oportunidade de utilizar cruzamentos que possibilitem abastecer colônias japonesas em outros países.

O mercado asiático tem apresentado uma sensível mudança no varejo com a entrada e grande expansão de grandes redes de supermercados como a Tesco, por exemplo. Na China, a rede começou a atuar em 2004, apesar de estar no mercado asiático desde 1994. Essa mudança no varejo provocou alterações também no comportamento de consumo da população.

A segurança do alimento se configura como um item de crescente importância. Existe muita diferença entre aquilo que o consumidor pensa que é verdade e o que realmente é verdade, levando-o a buscar atributos de qualidade.

Investimentos da Tesco e de outras grandes redes de supermercados incentivam a adoção de processos de certificação por produtores e frigoríficos. Essas redes apresentam foco em qualidade e integração das cadeias, qualificação, normas HACCP e certificações.

Na União Européia, o mercado é bastante heterogêneo. A Europa Central e o Leste Europeu, até o momento, eram caracterizados pela preferência por cortes dianteiros e pela baixa importância dada a questões de qualidade de carne. Características como certificação, rastreabilidade e pH, praticamente não eram levadas em conta. No entanto, sendo absorvidos pela UE e sofrendo maior influência de redes varejistas, esse cenário tende a mudar muito. No médio e longo prazo, a tendência é valorizar, cada vez mais, cortes de melhor qualidade.

Existe uma grande diferença de preço entre as diferentes origens da carne bovina comercializada e consumida na Europa. A carne inglesa, por exemplo, apresenta preço muito superior à carne brasileira. Comparando preço de gôndola em libras, o “Brasilian Steak” custa 14,82 pounds/kg enquanto que o de origem no Reino Unido (extra especial maturado, raça Angus) custa 21,94 pounds/kg.

A carne brasileira não apresenta nenhum diferencial. É apresentado em embalagem maior e preço menor. A carne local, por sua vez, possui muito valor agregado. Um exemplo disso é o selo de qualidade assegurada “Red Tractor” (que assegura medidas de bem estar animal, proteção ao meio ambiente, dentre outros fatores), atmosfera modificada e indicações de como preparar. Além disso, na Escócia, os projetos de melhoramento estão avançados no sentido de descobrir o que influencia nos atributos procurados.



O Brasil precisa trabalhar em identificação, rastreabilidade, seleção genética e biotecnologia para identificar os melhores animais em determinados atributos para melhoramento. Independente do sistema, deve-se identificar necessidades dos compradores e adaptar o produto para continuar no mercado, com seriedade, competência e sustentabilidade, completa Márcia.

Fonte: Equipe BeefPoint

0 Comments

  1. Alexandre Zadra disse:

    Marcia,

    A ABNP iniciou o trabalho de estudo junto a ABNT sobre o que será considerado Novilho Precoce.

    As normas para porteira adentro serão praticamente, ou de fato, as do EUREPGAP e no frigorífico a garantia de que é de animal jovem.

    Você acha que isso basta para a percepção do consumidor europeu da elite pagar melhor pela carne brasileira?

    Um forte abraço.

    Zadra

  2. Evandro Cassaro disse:

    Gostaria de ter acesso a sua palestra Expo Inter 2009.