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Marcos Molina (Marfrig): empresa não tem problema de dívida

Apesar da alta no endividamento e da forte queda das ações do Marfrig em bolsa, o presidente do grupo, Marcos Molina, afirma que não há pressão dos bancos para que o frigorífico se desfaça de uma parcela de seus ativos. "Nunca houve um pedido para eu vender ativos."

Apesar da alta no endividamento e da forte queda das ações do Marfrig em bolsa, o presidente do grupo, Marcos Molina, afirma que não há pressão dos bancos para que o frigorífico se desfaça de uma parcela de seus ativos. “Nunca houve um pedido para eu vender ativos.”

Segundo ele, uma troca de ativos com a Brasil Foods dependerá de “levantamento profundo” sobre a saúde dos negócios da concorrente. Já os comentários da venda do braço de abate de bovinos do Marfrig para a Minerva são infundados. “Eu descarto isso.”

Leia os principais trechos da entrevista de Molina ao jornal Estado de SP.

Estado: Por que os papéis do Marfrig vêm sendo castigados na bolsa?
Marcos Molina: Desde 2007, quando as empresas dos setor fizeram o IPO, todas as ações caíram. O nosso histórico era até um pouco melhor, até o fundo GWI vender essa posição grande (no mês passado), o que impactou a nossa ação. Sem esse efeito, a nossa performance seria até boa.

Estado: Os bancos credores dizem que a dívida da empresa já preocupa.
Marcos Molina: Nossas compras tiveram uma estratégia bem definida: um mix de 50% de mercado interno e 50% de externo. Era preciso ter outras proteínas, como frango e suíno e um mix de produto in natura e industrializado. Também queríamos uma presença global. Não temos problema de dívida. Nosso caixa atualmente é equivalente a 1,61 vez a nossa dívida de curto prazo.

Estado: Mas os bancos dizem que a empresa teria de vender ativos.
Marcos Molina:Eu sou sincero. Entre todos os bancos que a gente tem relacionamento, nunca houve um pedido para eu vender ativos.

Estado: Há bancos no País que têm mais de R$ 1 bilhão no Marfrig.
Marcos Molina: Nós não divulgamos essa informação.

Estado: Houve negociação com a Gávea Investimentos para venda de uma participação no negócio de distribuição?
Marcos Molina: Estudávamos a possibilidade de separar nosso braço logístico desde o início do ano. Quando a gente comprou a Keystone nos Estados Unidos, veio junto um braço próprio de logística. Como decidimos focar no segmento proteína, vendemos esse negócio por US$ 400 milhões, para a Martin Brower.

Estado: Essa é a maior venda de ativos que vocês já fizeram?
Marcos Molina: É o maior desinvestimento que já fizemos. Quando compramos a Keystone, queríamos só a parte de proteína, mas eles não queriam vender separado.

Estado: Isso vai reduzir a dívida relativa do Marfrig, que cresceu e está em 3,9 vezes o Ebitda?
Marcos Molina: Sim, com o efeito dessa venda, que entrará em nosso caixa até o fim do ano, a relação deve cair para 3,5 vezes o Ebitda.

Estado: Outros ativos podem ser vendidos para capitalizar a empresa?
Marcos Molina: Tudo que for relacionado ao nosso negócio principal não está à venda.

Estado: É possível uma troca de ativos com a BRF, na qual o Marfrig ficaria com ativos nacionais à venda pela concorrente e daria a Quickfood, na Argentina, e Moy Park, na Europa?
Marcos Molina: A Quickfood é líder na Argentina, e a Moy Park lidera no Reino Unido. Na hora de trocar ativos, vem um monte de gente com ideias. Temos interesse nos ativos da BRF, mas temos que analisar, fazer um levantamento profundo. Não é simplesmente decidir trocar. É um processo mais demorado, para o fim do ano ou início de 2012.

Estado: Mas você descarta essa troca de ativos? Não vai mexer em Quickfood e Moy Park?
Marcos Molina: Sem conhecer os ativos da BRF, eu não troco.

Estado: Há chance de o Marfrig vender o negócio de bois para o Minerva ou para o JBS?
Marcos Molina: Não dá para comentar, é rumor de mercado. Descarto isso. Outro dia um amigo me ligou e perguntou se eu já tinha fechado negócio com o Minerva. Não faz nenhum sentido.

Estado: Você descarta totalmente a venda do abate de bois?
Marcos Molina: Não faz nenhum sentido. Para reduzir a dívida? Mas qual é a dívida do Minerva? É do mesmo tamanho da nossa.

Estado: As debêntures conversíveis em ações que o BNDES tem no Marfrig vencem em 2015. Existe alguma negociação para antecipar a conversão em ações como foi feito para o JBS?
Marcos Molina: As pessoas perguntam: se o JBS fez, porque vocês não fazem? Mas não temos nenhuma negociação nesse sentido.

Estado: Parte do mercado diz que o Marfrig pagou caro pela Seara.
Marcos Molina: A Seara foi uma aquisição estratégica, de marca e ativos importantes. Não temos dúvida de que pagamos o valor justo.

Estado: O Marfrig teria investido R$ 300 milhões para a Seara patrocinar a Copa do Mundo. Faz sentido, já que o foco é interno?
Marcos Molina: O valor não está correto, mas não abrimos por contrato de confidencialidade. O investimento da Copa é no Brasil. Começamos com a África do Sul para ganhar experiência, mas o negócio é estarmos com novas linhas de produto prontas para 2013 e 2014. Também ajuda a vender lá fora. Nossas unidades ao redor do mundo estão lançando a marca Seara.

Fonte: Jornal Estado de SP, adaptado por Equipe BeefPoint.

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