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Marcus Vinicius Pratini de Moraes: nova fase para as exportações brasileiras


Marcus Vinicius Pratini de Moraes é hoje o presidente da ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne). Foi um dos mais brilhantes ministros da agricultura do Brasil, tendo reconhecida atuação na busca por maior acesso a mercados pelo Brasil e queda de barreiras às exportações brasileiras. Segundo consta, foi também o mais jovem ministro do Brasil (Indústria e Comércio aos 29 anos, no Governo Emílio Garrastazu Médici).

O Brasil encerrou 2003 como líder no mercado mundial da carne bovina, com 1,3 milhão de toneladas de equivalente carcaça e US$1,51 bilhão. Representando um crescimento de 39% em relação ao ano anterior. Hoje o Brasil fornece carne para 104 países, quando em 2002 exportava para 80 países. Os frigoríficos associados à ABIEC representam 96% das exportações brasileiras de carne bovina.

Pratini de Moraes concedeu essa entrevista ao BeefPoint e fala sobre planos para 2004 e como a ABIEC irá agir frente aos novos desafios do setor exportador de carne bovina.

BeefPoint: Qual o balanço que o senhor faz de 2003?

Pratini de Moraes: O Brasil vem apresentando um enorme crescimento nas exportações, sendo o hoje o maior exportador mundial de carne bovina, com 1,3 milhões de toneladas de equivalente carcaça em 2003. Em 1998 nossas exportações foram de apenas 343 mil toneladas de equivalente carcaça.

Esse grande avanço se deve aos extraordinários ganhos da pecuária em melhoramento genético, ganhos de produtividade, redução da idade ao abate e também graças reconhecimento do status sanitário brasileiro por inúmeros países.

BeefPoint: Quais são os planos para 2004?

Pratini de Moraes: 2003 marca o fim de uma fase de grande crescimento em volume exportado. Estamos em uma nova fase, em 2004 queremos aumentar a exposição da carne brasileira no exterior e atingir os principais mercados mundiais como: EUA, Japão, Coréia do Sul, Taiwan, México e Canadá.

É importante lembrar que apesar de ser o maior exportador o Brasil tem acesso a apenas 50% dos mercados mundiais.

BeefPoint: Quais serão as ações da ABIEC?

Pratini de Moraes: A ABIEC tem várias frentes de trabalho. Iremos executar um programa baseado em três pontos principais:

– Consolidar acesso a outros mercados, como EUA, Japão, Coréia do Sul, etc. A ABIEC vai abrir duas representações no exterior esse ano. Uma em Bruxelas/Bélgica e outra em Washington/EUA.

– Aumentar a participação brasileira nos mercados onde já atuamos. A ABIEC contratou a assessoria de uma empresa de advocacia belga para estudar uma ação legal contra as tarifas alfandegárias da Europa contra a carne brasileira. Em alguns casos, pagamos imposto de 250% sobre o valor exportado.

– Esforço de marketing para melhorar a imagem da carne brasileira. Estaremos reforçando a presença do Brasil e das empresas em feiras internacionais. A primeira desse ano é SIAL China, que acontece em Shangai no final de março.

BeefPoint: O senhor poderia falar mais sobre os objetivos da ABIEC?

Pratini de Moraes:O objetivo principal é aumentar o preço do nosso produto no mercado internacional. Vamos fazer um marketing assinalando as qualidades de nossa produção, mostrando que nosso boi é natural, que nossa carne é magra.

Além disso, vamos bater duro contra as barreiras alfandegárias, como eu fiz durante o tempo que estive no ministério. Há também grande esforço por abrir o mercado dos EUA para carne bovina in natura, pois os EUA vão servir de cartão de visita para entrarmos em muitos outros mercados.

BeefPoint: O que a ABIEC pretende fazer para melhorar a imagem da carne brasileira e para melhorar o preço do nosso produto? Temos hoje uma diferença bem alta de preço entre a carne brasileira e Argentina no mercado europeu, por exemplo.

Pratini de Moraes: É preciso lembrar que a Argentina tem grande tradição exportadora e o Brasil até pouco tempo quase não exportava, em alguns momentos foi um importador líquido. Com todo esse crescimento dos últimos anos não foi possível ter também preços altos.

Há 500 anos o Brasil é comprado. Agora que estamos começando a vender. Quase não existem marcas brasileiras conhecidas no exterior. Temos alguns poucos bons exemplos como Embraer, Sadia, uma ou outra marca de sapato. Na carne bovina o Bertin já é bem conhecido.

A ABIEC vai fazer o marketing institucional da carne. Não iremos substituir as empresas da divulgação de seus produtos. O marketing dos produtos é responsabilidade das empresas.

Além disso, queremos evoluir muito em logística e distribuição de nossos produtos. Mas não iremos criar uma estrutura própria da ABIEC. Joint Ventures como a BF Alimentos (Bertin e Friboi) são interessantes, mas fazem parte da estratégia de cada empresa. Não cabe à ABIEC criar isso.


BeefPoint: Existe alguma ação da ABIEC para apoiar a modernização de frigoríficos?

Pratini de Moraes: Estamos vendo uma nova geração na administração dessas empresas. A ABIEC está assessorando, por exemplo, na questão da rastreabilidade e da classificação de carcaças.

Estamos com um trabalho forte junto ao MAPA para reforçar o controle sanitário brasileiro. Precisamos ampliar nosso sistema de vigilância sanitária.

BeefPoint: Como o senhor vê no futuro, a relação entre produtores e frigoríficos? Principalmente com a tendência de aumento do volume exportado junto com o aumento das exigências de qualidade?

Pratini de Moraes: O crescimento muito elevado das exportações podem nos levar a pequenos desajustes na qualidade do que é produzido, mas isso é momentâneo.

Acredito que não teremos problemas de relação com produtores, principalmente agora que estamos analisando formas de remunerar melhor animais rastreados e com couro de qualidade, por exemplo.

Não se pode esperar uma revolução muito rápida. Há pouco tempo nossa agropecuária estava endividada.

Os frigoríficos evoluíram muito nos últimos anos. Ainda há muito o que evoluir, mas na minha opinião estamos caminhando bem.

BeefPoint: A agricultura vem tomando áreas da pecuária, principalmente em áreas de cria e se inicia a exportação de bovinos vivos para engorda em outros países. Como o senhor vê o possível impacto desses fatores na produção e principalmente exportação de carne brasileira?

Pratini de Moraes: O avanço da soja não se dá apenas em áreas de pecuária. Também há abertura de novas áreas.

Por outro lado temos grandes avanços na genética, eficiência na produção, diminuição na idade ao abate. Os confinamentos e semi-confinamentos têm crescido bastante. Isso tudo permite que a pecuária tenha menos área e ao mesmo tempo maior produção.

Os EUA tem um rebanho menor que o brasileiro e uma produção bem maior, pois tem desfrute muito alto, graças à produção muito intensiva.

Não vamos caminhar para um sistema igual ao americano. Em termos de eficiência, algo entre a média brasileira atual e o sistema americano seria o ideal para o Brasil.

BeefPoint: Qual a sua visão de futuro da cadeia da carne brasileira?

Pratini de Moraes:Sou muito otimista. Desde os tempos que estava à frente do MAPA acredito muito na capacidade da agropecuária brasileira.

A pecuária brasileira será a maior do mundo em 3 a 4 anos em produção. Gradualmente vamos construir marcas e aumentar preços.

A competitividade do agronegócio brasileiro é muito difícil de se bater.

1 Comment

  1. Ricardo Michaelsen disse:

    Com certeza o Brasil será o maior exportador de carnes do mundo, pois temos vocação para a pecuária e agora com o ilustre ministro do calçado, como nós o chamamos, tomando a frente da associação, com sua experiência e determinação. O céu é o limite.

    Parabéns Dr. Marcus Pratini de Moraes, muito obrigado por tudo que o senhor já fez pelo Brasil e com certeza muito ainda fará.

    Ricardo Michaelsen
    diretor do conselho técnico do couro
    Centro tecnólogico do couro, calçados e afins CTCCA