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Marfrig avança no rastreio de sua cadeia, mas ainda há desafios

Mil dias depois do lançamento de seu plano para se tornar totalmente livre de desmatamento até 2030, a Marfrig Global Foods já pode dizer que conhece muito mais de sua cadeia de fornecimento do que antes, mas ainda se depara com desafios na regularização dos produtores.

Até o momento, a companhia já tem mapeados todos os seus fornecedores diretos de gado no país e já identificou 72% dos pecuaristas na Amazônia que vendem gado para seus fornecedores diretos de animais – os fornecedores indiretos –, enquanto no Cerrado a identificação dos indiretos está em 71%.

Estes números estão acima do que a companhia esperava para este momento, diz Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade da Marfrig. No momento, a companhia está debruçada sobre os fornecedores indiretos das áreas mapeadas como de “médio risco” de desmatamento. No início, a companhia dividiu sua região de atuação em cinco categorias: “muito alto risco”, “alto risco”, médio risco”, “baixo risco” e “muito baixo risco”. As áreas classificadas nas duas primeiras categorias foram rastreadas em 2021 e 2022, respectivamente, e o plano é que até 2025 todas as áreas sejam rastreadas.

Metodologia escalável

Para o gerreferenciamento, a companhia utiliza hoje o sistema da Brain Ag, da Serasa Experian, que cruza dados dos sistemas Prodes (anual) e Deter (mensal) — ambos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) —, os alertas semanais do MapBiomas, e o Visipec, um sistema criado pela Universidade de Wisconsin-Madison que também cruza informações de bancos de dados públicos.

Este mecanismo já permitiu que sejam identificados 38 mil pecuaristas na cadeia de fornecimento da Marfrig. Para Pianez, os resultados mostram que a metodologia é escalável e pode ser inclusive adotada por todo o setor de carnes. “Esse caminho pode ser escalado para ser uma solução inicial para o Brasil poder ter um sistema de identificação de origem”, defende. O principal passo para extrapolar o sistema para a cadeia é destravar o acesso às bases de dados das Guias de Transferência Animal (GTAs), que possam ser vinculadas aos Cadastros Ambientais Rurais (CAR).

Reinclusão e exclusão

Com a varredura feita na cadeia até agora, a companhia também está ampliando a avaliação daqueles pecuaristas que podem voltar a serem fornecedores e aqueles que devem continuar excluídos dessa rede. No momento, a companhia mantém mais de 2,5 mil pecuaristas em sua lista de exclusão de fornecimento, mas já reincluiu 3 mil propriedades de criação de gado em sua cadeia entre 2021 e 2022 que lhe forneciam animais direta ou indiretamente após a regularização de sua situação.

Boa parte dos casos de regularização são casos simples de documentação. Apenas no ano passado, dos 532 fornecedores regularizados para fornecimento à Marfrig, 368 foram casos que demandavam apoio técnico documental. Em menor proporção, também há casos de assistência jurídica (132).

O gargalo, porém, está nos casos de pecuaristas que precisam de recomposição de vegetação. De todas as fazendas reinseridas na cadeia da Marfrig no ano passado, apenas três estão relacionados a restauração florestal – justamente o ponto mais crítico na cadeia de carnes e mais necessário para a reversão dos danos provocados pelo desmatamento.

Os pecuaristas que permanecem excluídos geralmente estão relacionados a sobreposição com terras indígenas, unidades de conservação ou territórios quilombolas.

Já os produtores com embargos ambientais são suspensos, mas não excluídos. Isso ocorre porque a empresa ainda analisa o motivo do embargo. “Muitos embargos não são ambientais, são por outras questões. Ou pode ter embargo ambiental porque foi feito apontamento de que não havia destinação adequada dos dejetos animais”, exemplifica Pianez. Há, ainda, casos de embargos porque o produtor não cercou a Área de Preservação Permanente (APP), não impedindo o gado de pastar na área. “À medida que fazemos identificações, damos suporte técnico e de recursos para ele se regularizar.”

Desafios

Os ajustes, porém, seja para uma simples construção de cerca, seja para uma restauração florestal, custam dinheiro. E é aí que está o gargalo, afirma Pianez. “Os bancos precisam repensar seus instrumentos financeiros e redesenhar mecanismos de crédito que existem hoje para suprir a necessidade de produtores”, sustenta. Para ele, os bancos precisam ir além dos empréstimos “verde” concedidos à indústria. “O produtor na ponta é que precisa de dinheiro.”

Outro desafio é a falta de compromissos de frigoríficos de menor porte. “Tem mais de dois mil SIFs [registros no Serviço de Inspeção Federal], são mais de mil empresas”, lembra. Para ele, enquanto não houver pressão sobre estes agentes, os pecuaristas que hoje estão nas listas de exclusão de fornecimento dos grandes frigoríficos continuarão a vender para os pequenos, perpetuando o problema do desmatamento no segmento de carnes.

Fonte: Valor Econômico.

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