O Frigorífico Margen Ltda., que atua em oito estados do Brasil, vai demitir hoje seus dez mil funcionários, disse ontem o advogado da empresa Ney Moura Teles. “Todo mundo vai ser mandado embora com pagamento dos direitos trabalhistas”, afirmou Teles.
No dia 1o deste mês, a PF (Polícia Federal) prendeu 11 pessoas acusadas de sonegação de impostos, formação de quadrilha, tráfico de influência, corrupção em órgãos públicos e lavagem de dinheiro. Entre os presos, estão oito diretores do Margen. O frigorífico seria usado no esquema da suposta quadrilha. O advogado nega.
Segundo Teles, desde as prisões, a empresa não consegue mais créditos para comprar gado e abater os animais, o que resulta em prejuízo diário de R$ 400 mil. A situação, ainda de acordo com o advogado, levou o grupo a tomar a decisão de demitir os funcionários.
Os diretores da empresa permanecem presos. No dia 17, a desembargadora Suzana Camargo, do TRF (Tribunal Regional Federal) da 3a Região, em São Paulo, negou liminar (decisão provisória) que os colocaria em liberdade. Teles atua como advogado do grupo no TRF e, por essa razão, foi ouvido pela reportagem.
Desde terça-feira passada, a reportagem tenta entrevistar o gerente comercial do frigorífico, Wagner Cyrne Diniz, designado para prestar esclarecimentos sobre as dificuldades da empresa.
Em todas as ocasiões, a assessoria do Margen informou que Diniz estava ocupado com viagens ou reuniões. Os diretores substitutos também foram procurados, mas não responderam aos recados.
Até novembro, o Margen era o segundo do país em abate de bovinos. Com abatedouros e unidades de distribuição em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Acre, Rondônia, Tocantins, Paraná e São Paulo, o Margen abatia oito mil cabeças de gado por dia e tinha faturamento anual de R$ 2,3 bilhões.
Conclusão
A PF concluiu na sexta-feira passada o inquérito onde aponta o Frigorífico Margen como empresa usada em esquema de lavagem de dinheiro, sonegação de impostos, corrupção em órgãos públicos, falsidade ideológica, apropriação indébita de contribuição da Previdência Social e formação de quadrilha.
A PF diz que os presos Mauro Suaiden, 46, Ney Agilson Padilha, 45, e Geraldo Antônio Prearo, 47, comandam o Margen, mas a empresa está oficialmente em nome da Eldorado Empreendimentos e de Jelicoe Pedro Ferreira, 64, também preso.
Conforme a PF, a suspeita é que Ferreira seja um laranja. Ele aparece como dono de 21% da Eldorado Empreendimentos e seria proprietário de uma “offshore” (empresa criada em paraíso fiscal geralmente para lavar dinheiro) no Uruguai.
O grupo Margen, segundo a PF, deve R$ 60 milhões à Receita Federal e R$ 85 milhões à Previdência Social.
O advogado do frigorífico diz que os valores estão errados. Segundo Teles, o Margen obteve decisão judicial para não recolher contribuições que julgava indevidas à Previdência. Ainda na versão do advogado, o governo federal deve créditos de exportação à empresa, o que anularia dívidas com a Receita. Ferreira, segundo Teles, não é laranja, mas um dos fundadores da empresa.
Fonte: Folha de S.Paulo (por Hudson Corrêa), adaptado por Equipe BeefPoint