Embora em meio a incertezas e problemas no país e no exterior, que tendem a reduzir a receita e espremer as margens de lucro dos produtores rurais brasileiros, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio deverá voltar a crescer no país em 2023, mas não a ponto de compensar a queda prevista para este ano.
Em linhas gerais, esse foi o cenário traçado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em evento realizado na manhã desta quarta-feira, em Brasília. Segundo a entidade, o PIB do setor deverá fechar 2022 com queda de 4,1%, e para o ano que vem a projeção é de avanço de 2,5%.
João Martins, presidente da CNA, afirmou que a principal preocupação no setor diante da tendência de redução de margens em diversas cadeias produtivas é com os pequenos e médios produtores — que também são os que mais vão sofrer caso a economia brasileira derrape em 2023.
Nesse contexto, reforçou Bruno Lucchi, diretor técnico da entidade, o governo eleito precisa estar atento com a responsabilidade fiscal. “As questões sociais não estão desatreladas das fiscais. É viável termos novas regras para a lei do teto de gastos, mas é preciso cuidado com os valores propostos na PEC da transição”.
Em caso de descontrole, disse Lucchi, há riscos de aumento de dívidas e de alta da inflação, o que prejudicará a população como um todo, nos meios urbano e rural.
Mas também há nuvens no front externo, já que a previsão de desaceleração do ritmo de crescimento do PIB mundial terá influência baixista sobre as cotações das commodities e, portanto, sobre as exportações do agro brasileiro.
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB global deverá aumentar 3,2% em 2023, mas o avanço tende a cair para 2,7% no próximo ano. “E os países de alta renda [destinos importantes dos embarques brasileiros de produtos de maior valor agregado] crescerão menos que os países em desenvolvimento”, disse Sueme Mori, diretora de relações internacionais da CNA
Acordos comerciais
Para que o Brasil contorne o horizonte sombrio, completou ela, é importante que continue a avançar em novo acordos comerciais, como o que foi fechado recentemente entre o Mercosul e Cingapura. Sueme espera avanços em 2023 em novas negociações com Canadá e Coreia do Sul.
Ao abri as portas à carne bovina brasileira, o Canadá, aliás, foi um dos 49 novos mercados abertos no exterior a produtos do agro brasileiro em 2022, em esforços que reuniram o governo e a iniciativa privada.
A CNA ponderou, entretanto, que um dos desafios internacionais que ganharam corpo foi o recrudescimento do protecionismo depois dos reflexos negativos sobre a oferta de alimentos provocados pela pandemia e pela guerra na Ucrânia.
Safra recorde
Em meio às dificuldades previstas, há, claro, vantagens que o agro brasileiro poderá aproveitar. Uma delas é a ampliação das ofertas em diversas cadeias produtivas. A colheita de grãos, por exemplo, deverá crescer 15,5% nesta safra 2022/23 e alcançar o recorde de 313 milhões de toneladas, e para café e carne bovina, entre outros, também há previsão de altas.
Por essas e outras, o Ministério da Agricultura projeta que o valor bruto da produção (VBP) agropecuária nacional em 2023 crescerá 4,9% e superará R$ 1,2 trilhão. A Pasta calcula leve queda em 2022, mas a CNA prevê alta de 2,2%, já para R$ 1,3 trilhão.
Mas faturamento não é lucro, e os reflexos negativos gerados principalmente pela alta de custos — notadamente de insumos — ainda poderão causar muitos problemas ao campo brasileiro no próximo ano.
Fonte: Valor Econômico.