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Maria Lúcia Pires de Abreu Pereira: seleção e rastreabilidade para obter melhores resultados

Maria Lúcia Pires de Abreu Pereira, proprietária da fazenda Mariópolis, localizada no município de Itapira nos fala sobre seleção de Caracu e também sobre rastreabilidade.

BeefPoint: Por favor nos fale um pouco da fazenda Mariópolis

MLP: Compramos a fazenda em 1993. Essa fazenda pertencia à um espólio e estava muito abandonada, faziam 16 anos. Havia uma área de pinus e não nada de pasto.

Chamamos o Prof. Cláudio Haddad para nos dar consultoria. Ele é o grande responsável pela formação da fazenda. Fizemos um projeto, com autorização do IBAMA, para retirada dos pinus, formação dos pastos e plantio de novas árvores.

BeefPoint: Porque a opção pelo Caracu?

MLP: Meu irmão que é pecuarista em Goiás, foi quem recomendou a utilização do Caracu. Ele disse, que apesar pouco comentadas, as raças adaptadas iriam ser muito úteis. Outras raças já tinham muitos criadores e iriam requerer um grande investimento em animais e, dependendo da raça, também em instalações. Compramos os primeiros animais em 95.

Compramos animais de diversos criatórios com o objetivo de ter diversas linhagens e não ter problemas com consaguinidade.

O rebanho tem hoje 740 cabeças, 470 matrizes. Esse número varia um pouco dependendo da época do ano. Nossa meta é 550-600 matrizes.

BeefPoint: Como é a seleção da Mariópolis?

MLP: Já no início o professor Haddad falou: Pecuária moderna é precocidade, produtividade, fertilidade. É preciso pesar e mensurações, em resumo: fazer um acompanhamento completo.

Contratamos o Núcleo de Zooctenia de Ribeirão Preto, que começou a fazer a avaliação genética. Quando eles entraram já tínhamos um bom banco de dados de pesagens, que foi aproveitado. Com o início do trabalho do Núcleo, aumentamos o número de características avaliadas.

BeefPoint: Quais são as principais características selecionadas?

MLP: A primeira característica é produtividade. Precocidade vem logo em seguida, tanto sexual como de acabamento.

Colocamos as novilhas em monta aos 14 meses, com 300 Kg de peso. Temos obtido excelentes resultados. Ainda não temos índice desse ano, mas nossa média é de 87% de prenhez nessa idade.

Os machos estão aptos à reprodução aos 12-14 meses. Utilizamos um tourinho com 15 novilhas nessa idade.

Pesamos os bezerros ao nascimento, aos 3 meses para avaliar habilidade materna. Na desmama (aos 7 meses) pesamos a vaca e o bezerro, para calcularmos o diferencial de peso entre mãe e filho.

Fazemos avaliação visual de musculosidade, tendo inclusive DEP’s para essa característica. A musculosidade precisa ser trabalhada pois apresenta deficiências no Caracu. Estamos trabalhando pesado para melhorar essa característica.

Fazemos também avaliação de aprumos e adaptabilidade, que foi ensinada pelo Prof. Danie Bosman. Temos essa avaliação para identificar em nosso rebanho os indivíduos mais adaptados. Com isso podemos fornecer animais para todas as regiões brasileiras. Além disso é feita uma avaliação racial.

Já na desmama fazemos um descarte dos animais inferiores e os vendemos como animais comerciais.

Fazemos uma avaliação pós-desmama, um teste de performance à pasto suplementado com cana e concentrado, com uma dieta balanceada pelo Prof. Haddad. Esse teste vai até início de outubro. Hoje os animais estão na fase de adaptação. O teste dura 6 meses.

A cada mês pesamos os animais, medimos a altura e largura dos animais. Medimos também a espessura da pele e número de carrapatos. Também é avaliado o perímetro escrotal.

Além disso fazemos várias avaliações visuais. Características sexuais secundárias, níveis de hormônios e até número de batimentos cardíacos.

O Prof. Bosman faz a avaliação final. Esse ano ele irá fazer uma avaliação intermediária no final de julho, quando estará aqui para o dia de campo no início de agosto.

BeefPoint: Quantos touros são vendidos por ano?

MLP: Produzimos em torno 65-80 touros por ano. Esse ano temos 102 animais na prova, somente os aprovados serão comercializados como tourinhos.

A filosofia da fazenda é vender somente touros melhoradores, não importando se serão usados por criadores de Caracu puro ou por criadores de gado comercial.

O criador faz a escolha baseado nas DEP’s que mais lhe interessam. Se vende à desmama compra os que possuem DEP mais alta à desmama, se cria, recria e engorda escolhe um com melhor avaliação para ganho de peso pós-desmama.

Não há essa idéia de que alguns animais “servem” para rebanho comercial. Só vendemos touros que serão melhoradores, em qualquer rebanho. Nosso comprador sabe exatamente o que está adquirindo. Temos grande preocupação em manter um elevado padrão de qualidade.

Vendemos fêmeas também, esse ano vamos vender mais que o ano passado. E no ano que vem estamos planejando fazer um leilão. As fêmeas também passam por uma seleção em inúmeras características, não sendo no entanto tão rígida como nos machos.

BeefPoint: Por que se decidiu implantar um sistema de rastreabilidade nos animais da Faz. Mariópolis, já que são em sua maioria animais puros que serão utilizados como reprodutores e não para abate (e possivelmente exportados)?

MLP: A Allflex nos procurou para sermos uma das fazendas piloto por termos muita precisão na avaliação e obtenção de dados. Apesar de comercializar reprodutores e não gado para ser abatido, esses reprodutores são vendidos para produtores que irão precisar da rastreabilidade.

Outro ponto importante é que o sistema de rastreabilidade auxilia muito na gestão da fazenda. Esse é o maior ganho, pois se economiza em muito em mão-de-obra e também temos a absoluta certeza dos dados coletados. Temos muitos dados que são coletados em nossas avaliações. Antes tudo era anotado em papel e depois digitado no computador, isso aumentava a chance de ocorrência de erros. Além disso tudo fica mais rápido hoje.

Toda a parte sanitária será feita num padrão um à um. Agora teremos a certeza sobre o tratamento de cada animal.

E num futuro próximo poderemos fazer várias medições à pasto, sem precisar levar os animais ao curral.

BeefPoint: Quais a avaliação do custo benefício desse sistema?

MLP: Isso tudo tem um custo aproximado de R$ 5,00-6,00 por animal. Não acredito que se tornará um custo muito significativo.

Hoje não posso te afirmar que terei um preço mais alto por esses animais rastreados, pois ainda tudo está muito no começo. Mas é possível que isso venha a acontecer pois teremos mais confiabilidade das informações que apresentamos.

BeefPoint: Qual o recado a senhora daria para os produtores que ainda não estão buscando a rastreabilidade?

MLP: Meu conselho ou opinião, que alguns talvez irão chamar de otimista, é que o sistema de rastreabilidade irá facilitar em muito a gestão da fazenda. A implantação é facílima.

Quem exporta vai precisar da rastreabilidade. Quem não vai exportar, quem vende no mercado interno, terá que lidar com as mudanças do consumidor. Hoje o consumidor está cada dia mais preocupado. Começa a procura por carne orgânica, carne Nelore Natural, etc. Talvez a rastreabilidade deixe de ser uma característica extra no produto e passe a ser uma exigência do consumidor.

Tudo que é novo gera muitas dúvidas. Hoje muita gente acha que a rastreabilidade só vai aumentar os custos e o trabalho.

BeefPoint: A senhora está otimista com a pecuária?

MLP: Sim estou muito otimista. A pecuária brasileira tem todas as condições para ser a melhor do mundo.

BeefPoint: Como a senhora vê o Caracu da Mariópolis daqui a 10 anos? Qual é grande meta?

MLP: Quero que o Caracu da Mariópolis seja considerado um rebanho de animais ideais. Estamos buscando a excelência. Segundo Danie Bosman, na Mariópolis temos um grupo de vacas que entram em qualquer rebanho de qualquer raça, no mundo.

Nosso objetivo é aumentar o número de vacas desse grupo. Para chegar lá precisamos continuar com esse trabalho de seleção firme. Também estamos fazendo um pouco de transferência de embriões. Tendo cada vez mais animais aptos à comercialização como reprodutores.

BeefPoint: Qual é o desafio para produção de carne no Brasil?

MLP: Um dos grandes problemas atuais é a confiabilidade. Acredito que a rastreabilidade irá ajudar nisso. Hoje o consumidor quer saber o que está comendo. Tanto para exportação como para mercado interno. Nós queremos ter certeza do que estamos comendo.

Outra parte é a necessidade de divulgação da carne. O homem é carnívoro. Precisamos aumentar a campanha sobre a carne. É preciso falar que a carne é necessária e fundamental para saúde das pessoas. Precisamos divulgar o uso de todos os cortes de carne. Não é só picanha e filé-mignom, existem outros cortes muito bons também.

Estamos próximos de alcançar grande sucesso, só não podemos descuidar de coisas simples, como por exemplo da sanidade de nosso rebanho.

_____________________
Originalmente essa entrevista foi realizada pela Equipe BeefPoint, para o site da Merial.

0 Comments

  1. Roberto Doria disse:

    No último mês de outubro comprei 6 tourinhos da Mariópolis, seguindo a recomendação da fazenda, que por sinal manda um “manual do proprietário” acompanhando cada touro, efetuei a cobertura em 15 novilha por touro, novilhas com idade variando dos 14 aos 18 meses, conseguindo uma fertilidade de 70%. A monta foi acompanhada de perto, uma vez que os tourinho eram muito jovens, e usá-los era uma novidade para nossa fazenda.

    Constatamos que muitas novilhas não apresentaram cio, o que era esperado por nós, uma vez que nosso gado ainda não esta selecionado para alta precocidade em fêmeas. Fiquei muito satisfeito com o resultado, uma vez que o índice geral da fazenda foi apenas de 83%, nesse ano. Parabéns pelo grande serviço que esta sendo prestado a raça Caracu.

    Vamos esperar o nascimento dos bezerros para outros comentários