As ações da MBRF3, resultado da fusão entre Marfrig (MRFG3) e BRF (BRFS3), estrearam na B3 sob forte volatilidade e encerraram o pregão em queda. O movimento reflete a cautela dos investidores diante da criação da nova gigante da carne, que promete ganhos de escala e sinergias operacionais, mas enfrenta um desafio considerável: a alta alavancagem financeira.
A união das duas empresas foi aprovada em setembro e concluiu um longo processo de integração. Agora, os acionistas da antiga BRF receberam 0,8521 ação da Marfrig para cada ação da BRF, conforme comunicado ao mercado. A nova companhia nasce com faturamento combinado superior a R$ 120 bilhões e presença em mais de 100 países, unindo a força da Marfrig no segmento de carne bovina à liderança da BRF no setor de aves e suínos.
Na estreia, as ações da MBRF3 chegaram a abrir em leve alta, mas perderam força ao longo do dia, acompanhando o mau humor do mercado e as preocupações com a estrutura de capital da empresa.
Segundo analistas consultados por Money Times e InfoMoney, o principal ponto de atenção é o nível de endividamento. A nova empresa surge com dívida líquida superior a três vezes o EBITDA, o que limita a flexibilidade financeira e pode comprometer parte dos ganhos esperados com sinergias.
Além disso, há dúvidas sobre a velocidade com que a companhia conseguirá capturar as sinergias operacionais. “A diversificação é um ponto positivo, mas os investidores querem ver números. É preciso mostrar geração de caixa consistente e melhoria nas margens”, destacou relatório do BTG Pactual.
Apesar da reação negativa inicial, especialistas avaliam que a fusão traz oportunidades no médio e longo prazo. A união das operações permite ganhos logísticos, redução de custos e aumento da competitividade global, especialmente em mercados como China e Oriente Médio.
Outro destaque é a complementaridade das operações: enquanto a Marfrig é referência em carne bovina e exportações para a América do Norte, a BRF tem forte presença em alimentos processados e produtos de maior valor agregado. Essa combinação amplia o portfólio da nova empresa e reduz a dependência de um único segmento.
A companhia também já anunciou um plano de recompra de até 77 milhões de ações ordinárias, com prazo até março de 2027 — uma estratégia para sinalizar confiança ao mercado e reduzir a volatilidade das ações.
O principal desafio da MBRF3 está na estrutura de capital herdada das duas companhias. Além do endividamento elevado, a fusão ocorre em um momento de desaceleração global e queda nas margens da indústria de proteína, pressionadas pelos custos logísticos e pelo dólar forte.
Há ainda riscos regulatórios. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) deu dez dias para que Marfrig e BRF se manifestem sobre alegações da Minerva Foods, que apontou possíveis distorções concorrenciais após a fusão. Caso haja exigências adicionais, o processo de integração pode ser afetado.
A nova companhia precisará provar sua capacidade de execução. O mercado estará atento aos primeiros balanços consolidados, à redução da dívida e à melhoria das margens.
Se as sinergias prometidas se confirmarem, a MBRF poderá consolidar-se como uma das maiores empresas globais de proteína animal, com forte geração de caixa e potencial de valorização no longo prazo. Porém, no curto prazo, os investidores devem esperar volatilidade e ajuste de expectativas.
O Itaú BBA e o Santander mantêm recomendação neutra para o papel, destacando que “a fusão é promissora, mas o mercado precisa enxergar resultados antes de precificar o otimismo”.
A fusão entre Marfrig e BRF marca um novo capítulo no setor de proteína animal no Brasil. A MBRF3 nasce com potencial de liderança global, mas sob o peso de uma estrutura financeira desafiadora.
Para o investidor, o momento exige cautela e acompanhamento próximo dos indicadores operacionais e financeiros. O sucesso dessa união dependerá da capacidade de integração e da disciplina na gestão da dívida — fatores que determinarão se a MBRF3 será um case de consolidação ou um alerta sobre os riscos do gigantismo corporativo.
Fonte: A Revista.