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27 de abril de 2006
Síntese agropecuária BM&F – 30/04/2006
30 de abril de 2006

Me engana – eu não gosto (a UE também não)

Por Louis Pascal de Geer 1

Tem gente que faz questão de ser enganada e até gosta disto, porque tomando esta atitude pensa que se livrou da responsabilidade de agir e fazer ou responder perguntas chatas e incisivas e que passou a bola para frente e assim não corre o perigo de ser a bola de vez.

Até hoje, a novela SISBOV nos seus vários capítulos continua a não entender que o sistema de rastreabilidade tem que ser global para o país e não ser somente dirigido para a exportação porque aí é fácil de entrar o fenômeno de enganação que adoeça a confiança e cause arrepios para quem leva o assunto de rastreabilidade a sério, e para quem se preocupa com segurança alimentar e saúde publica e bem estar da pecuária em geral.

Quantas vezes vamos ter que sofrer na pele que o não cumprimento das regras de rastreabilidade é um enorme tiro no pé e com conseqüências gravíssimas para o Brasil além de parecer com uma verdadeira fratricida econômica para os demais pecuaristas, frigoríficos e outros elos da cadeia de carne que levam o assunto a sério.

Uma coisa é não concordar com o SISBOV, mas fazer uso inadequado, ou em português mais claro, fraudar a sistema como produtor, certificador, inspeção federal ou frigorífico pode sair muito caro no futuro.

As cortinas de fumaça são erguidas numa maneira aparentemente eficiente pelos elos da cadeia, mas não resistiriam uma auditoria séria e abrangente.

Devemos considerar este assunto como segurança alimentar e por isto de suma importância nacional, ou simplesmente vamos deixar a bola rolar? Esta é a questão que deve ser respondida pelos produtores de gado, certificadores, inspeção federal (SIF), frigoríficos, MAPA etc.

Não adianta fazer palestras lá fora sobre o novo SISBOV para o inglês que já viu este filme antes. Creio que já perdemos um bom pedaço de credibilidade e mais uma tentativa de rolar o assunto da rastreabilidade com a barriga terá efeitos graves no futuro e principalmente caso que aparece qualquer problema ainda mais sério do que a aftosa aqui no Brasil.

Podemos e devemos sim fazer palestras depois de ter feito as lições de casa; um acordo de pecuaristas, certificadores, SIF, frigoríficos e os governos municipais, estaduais e federal para levar o SISBOV a sério.

O controle de qualidade e auditorias das boas práticas incluindo também as vacinações obrigatórias contra doenças como as de febre aftosa devem funcionar no país inteiro e em cada frigorífico e barreira sanitária e / ou fiscal e nas fazendas, mas sem a decisão pessoal de cada um de aderir sem restrições ao sistema não vamos conseguir o que precisa ser feito.

Especialmente, os frigoríficos têm um papel enorme de educação e esclarecimento a fazer como também aderir plenamente ao SISBOV verdadeiramente, aquilo que vale a pena e não o presente que apenas traz um aumento do custo e mais papel e brincos, mas que sem duvida é cômodo para quem quer ser enganado. E você, caro leitor, quer ser?

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1 Louis Pascal de Geer atualmente é consultor, trabalhou durante 28 anos para Agropecuária CFM Ltda, se aposentando como vice-presidente da empresa

0 Comments

  1. Luiz Fernando Azambuja Jr. disse:

    Ler este artigo num domingo pela manhã é como lavar a alma! Concordo 100% com tuas palavras. A maioria dos produtores brasileiros são imediatistas. Até porque o são por uma questão de “vocação do pai” ou herança.

    O produtor que o é por opção própria está preparado e aberto à mudanças, as mudanças dos dias atuais, à modernidade, à tecnologia….aliás o imediatismo é cultural, aqui no Brasil. A destruição constante dos nosso ativos naturais, são fruto do imediatismo brasileiro.

    Temos que pensar mais, maior…nas próximas gerações. Temos que respeitar o brasileiro, como consumidor “que somos”. Faço a pergunta de volta. Tu gostarias de ser enganado ao comprar o teu churrasco de domingo? Comer uma picanha com gosto de “carne de porco” quando te disseram que não era boi confinado? Eu não!

  2. Fabíola Fernandes Schwartz disse:

    Prezado Sr. Louis Pascal de Geer,

    Parabéns pelo artigo, pela iniciativa e coragem de deixar claro as mazelas que andam ocorrendo nos bastidores da Rastreabilidade Brasileira.

    Estive no Simpósio de Rastreabilidade recém promovido pelo Mapa em Brasília e voltei “enojada” com tanto conchavo junto.

    O que achei mais deplorável foi que tudo ocorreu – conchavos entre certificadoras, frigoríficos e o Mapa, discursos ensaiados dos caciques da cadeia da carne, briguinhas e desavenças políticas e até mesmo algumas válidas denúncias de pesquisadores sérios e comprometidos com a causa nacional, de rastreabilidade e segurança de alimentos – às vistas de membros da Comunidade européia, países latino americanos, enfim, deixamos claro que não fazemos a lição de casa direito e que não temos nem a intenção de fazê-lo.

    Foi um circo armado para “inglês ver” e eles realmente viram o quanto nós deixamos a desejar em seriedade e comprometimento.

    Acho que todos nós brasileiros, em seus respectivos setores de trabalho e na vida cotidiana, precisamos aprender a nos posicionar desta forma como o Sr. fez, para tentarmos botar ordem neste país e mudarmos a nossa imagem perante a comunidade internacional.

  3. Daniela Sanches Liranço disse:

    Caro Louis,

    Penso que o Sisbov é uma ferramenta importante na pecuária moderna, com erros enormes, porque o que conta hoje para os frigoríficos é um brinco e um papel que podem ser facilmente fraudados.

    Hoje no noroeste do estado de São Paulo, estamos sofrendo com a síndrome do Certificado, nossos animais estão sendo desclassificados por qualquer motivo, em um abate de 180 cabeças, tivemos desclassificados 12 bois por causa de brincos antigos, em outro abate disseram que os certificados não batiam com os brincos, assim como nós outros colegas também estão passando por isso.

    Peço um maior interesse da imprensa com esses fatos, pois nós continuamos a perder, até quando?

    Daniela Liranço
    Birigui- SP