José Henrique Karsburg1 e José Bento Sterman Ferraz
Há muitas décadas, pesquisadores buscam meios e formas de se avaliar os animais e suas carcaças. Muitos estudiosos se destacaram desenvolvendo trabalhos de avaliação animal, e dentre outros destacam-se Hammond (1932 e 1940), Hankins & Howe (1946), Callow (1948) e Berg & Butterfield (1979).
A nova tendência mundial na indústria de gado de corte é a obtenção de um produto final consistente e de alta qualidade. A comercialização dos animais e suas carcaças dentro de determinadas especificações de mercado estão pressionando o setor produtivo para que apresentem informações do mérito genético das características de carcaça dos seus progenitores (Luchiari Filho, 2000).
A pecuária de corte é uma atividade fundamental para a economia e o desenvolvimento do país. A qualidade da carne bovina produzida no Brasil está aquém dos níveis necessários para satisfazer a demanda interna e concorrer internacionalmente, em especial com os demais países do Mercosul. Tal situação deve-se, por um lado, a métodos de criação e manejo deficientes, em particular à níveis nutricionais insuficientes para o abate precoce. Por outro lado, há um componente genético que deve ser melhorado, e que depende dos programas de avaliação genética, que devem incorporar novas tecnologias para detectar animais fisiologicamente mais precoces e, conseqüentemente, com boa qualidade de carcaça.
Selecionar animais para precocidade de crescimento, sexual e de terminação, envolve considerações complexas, pois a seleção para elevados pesos à idade jovem está correlacionada a uma série de características que podem ser altamente negativas à eficiência do sistema de produção, notadamente o aumento do peso adulto e diminuição da taxa de maturação.
O termo precocidade de terminação é utilizado para denotar animais que atingem composição corporal da carcaça adequada ao abate a uma idade jovem e esta composição, definida pelo mercado, pode ser estimada pela espessura de gordura subcutânea.
A ultra-sonografia é uma técnica utilizada mundialmente, e em franca expansão, que permite ir além da seleção por ganho de peso e tamanho do animal, avaliando aspectos de qualidade de carne e de proporção de cortes valiosos no animal vivo.
A técnica de ultra-sonografia “real-time” oportuniza aos criadores obter informações do mérito genético dos animais “In vivo” em idade jovem de sua vida produtiva (Wilson,1992).
Esta técnica caracteriza-se por ser um método de coleta de dados rápido, não invasivo e por não deixar resíduos nocivos na carne dos animais avaliados, (Perkins et al.,1992). A grande vantagem desta técnica é a diminuição do tempo e do custo para identificação de touros e novilhas superiores para as características de composição corporal, ou seja, quantidade de músculo, gordura e rendimentos de cortes comerciais.
As características medidas por ultra-som são:
– Área de olho de lombo medida em (cm2), relacionada a quantidade de músculo, rendimentos e peso dos cortes comerciais na carcaça;
– Espessura de gordura subcutânea medida em (mm), é relacionada a precocidade de crescimento, sexual e de acabamento, apresenta correlação alta e positiva com porcentagem de gordura de recorte dos cortes e negativa com porcentagem de carne magra.
– Gordura intramuscular ou marmoreio, relacionada a palatabilidade e maciez da carne. Ambas características são medidas no espaço entre a 12ª e 13ª costela no músculo Longissimus Dorsi (correspondente ao contra-filé);
A variação genética que existe nas proporções de músculo e gordura das carcaças dos bovinos é grande e apresenta boa resposta a seleção.
A área do músculo Longissimus Dorsi ou área de olho de lombo (AOL) e a espessura de gordura subcutânea (EGS), obtidas por ultra-som são duas características que estão altamente correlacionadas ao peso e percentagem dos cortes desossados das carcaças bovinas.
As relações entre espessura de gordura e área do músculo Longissimus Dorsi, medidas por ultra-som no animal vivo e composição da carcaça, têm sido similares às relações entre as mesmas, medidas na carcaça.
A espessura de gordura, é um dos dados que possuem maior correlação com a composição corporal da carcaça, sendo um importante parâmetro para se determinar o ponto ideal de abate. Tradicionalmente só é possível a verificação dessas medidas com o animal já abatido, o que impede que este parâmetro seja utilizado como ferramenta para a produção de carcaças melhor terminadas.
A partir da coleta das imagens do Ultra-Som é montado um banco de dados, nesse banco é feita analise genética utilizando-se modelos estatísticos e transformando esses dados em DEP´s, dessas características de carcaça (Diferença Esperada na Progênie de carcaça). Como o produtor pode se beneficiar dessas DEP´s para selecionar animais geneticamente superiores para transmissão de características de carcaça ao seu rebanho?
Veja como isso pode ser feito:
DEP Área de Olho de Lombo – É um excelente indicador do rendimento e peso de cortes comerciais, é altamente correlacionada com o total de massa muscular do animal. DEP´s altas e positivas são as mais indicadas;
DEP Espessura de Gordura Subcutânea – Identifica animais fisiologicamente mais precoces dentro de um mesmo grupo de animais, ou seja, identifica animais com maior facilidade de terminação e mais eficientes dentro de um sistema de produção. DEP´s positivas e medianas são as mais indicadas, embora as DEP´s mais altas possam também indicar animais mais precoces.
A seleção baseada em características medidas por meio de ultra-som em gado de corte, além das outras características já selecionadas, como peso, precocidade sexual, etc., permite mais rapidamente o progresso genético e econômico.
Os principais fatores que interferem na acurácia das medidas por ultra-som e na carcaça são: limitações tecnológicas, experiência do técnico, nível de gordura e músculo, sexo e idade do animal, mudança nas características dos tecidos pós-morte, remoção da gordura junto com o couro, e deslocamento dos músculos em relação ao esqueleto no frigorífico.
É necessário realizar pesquisas básicas com ultra-som, para adaptar essa técnica aos sistemas de criação que utilizam pastagens, um dos maiores recursos naturais do país, visando obter carne de qualidade, dentro dos padrões de um produto natural e sadio.
O uso da tecnologia de ultra-som é recomendado para a coleta de dados em gado de corte, pois disponibiliza dados objetivos sobre a composição corporal dos animais, evitando os altos custos de obter dados de carcaça, como também a morte exigida dos animais.
A aplicação do ultra-som para o melhoramento genético, deve ser encarado como uma ferramenta alternativa e complementar, podendo assim identificar animais geneticamente superiores para qualidade de carcaça, pois oferece maior confiabilidade na seleção de animais para estas características.
Imagem gerada pelo Ultra-Som no espaço entre a 12ª e 13ª costela, do músculo Longissimus Dorsi, para medida da Área de Olho de Lombo (AOL) e espessura de Gordura Subcutânea (EGS).
Mesma Imagem, medida, mostrando a área de olho de lombo e espessura de gordura subcutânea.
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1mestrando da Fac. de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo
GMA – Grupo de Melhoramento animal
E-mail: icokarsburg@hotmail.com.br
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texto muito bom… bastante explicativo…