A aversão ao risco voltou a dominar o mercado de commodities agrícolas. Ontem, os grãos negociados na bolsa de Chicago encerraram o dia em queda acentuada, com o milho à frente: os contratos do cereal para dezembro, os de maior liquidez, caíram 6,76% (42,50 centavos de dólar), a US$ 5,865 por bushel, e os papéis para setembro, de segunda posição, recuaram 6,75% (43 centavos), a US$ 5,94 por bushel.
O temor de uma recessão global desencadeou uma debandada no mercado de commodities agrícolas e também de energia. Sob esse receio, os investidores migraram para ativos considerados mais estáveis, como o dólar e os títulos do Tesouro americano.
A desvalorização do petróleo tende a baratear os derivados fósseis. Isso pressiona o milho porque reduz a competitividade do etanol nos Estados Unidos, onde o grão é a principal matéria-prima do biocombustível.
O analista Doug Bergman, da RCM Alternatives, disse à Dow Jones Newswires que o novo relatório do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) sobre oferta e demanda, divulgado ontem, também exerceu pressão sobre os preços do milho. O USDA projetou estoques finais no mundo em 2022/23 de 312,94 milhões de toneladas, um aumento de 0,8% em relação à estimativa de junho.
Embora a tendência geral seja de aversão ao risco, é possível que o foco dos investidores mude rapidamente para as perspectivas climáticas para o Cinturão do Milho (“Corn Belt”) nos EUA. “As chances de uma seca repentina estão aumentando acentuadamente nas planícies e no centro-oeste ocidental, onde dias de calor extremo e chuvas limitadas reduzirão rapidamente a umidade do solo”, disse a AgResource, em nota. As temperaturas devem ser mais altas do que o normal neste mês em grande parte do cinturão de grãos do Meio-Oeste americano, segundo o Monitor de Secas.
As incertezas na economia e o andamento da colheita seguem exercendo pressão sobre o trigo. Ontem, os contratos futuros para setembro, que são os de maior liquidez, fecharam o dia em baixa de 4,93% (42,25 centavos de dólar), a US$ 8,1425 por bushel.
“Atualmente, os fundos contam com uma série de oportunidades para operar em grãos, mas estão perdendo liquidez. Nesse cenário de aversão ao risco, os investidores preferem ativos de segurança, como papéis da dívida americana. O dólar forte, que agora se equiparou ao euro, também afasta os investidores do mercado”, diz Marcelo de Baco, operador do mercado de trigo.
Com o andamento da colheita em regiões do Hemisfério Norte, o aumento da oferta de trigo no mercado também exerce pressão sobre as cotações. “Diferentemente do efeito negativo para as lavouras de soja e milho, o tempo seco em áreas dos EUA e da Europa favorece o adiamento da colheita, jogando mais oferta no mercado, e, consequentemente, pressão sobre os preços”, disse o consultor Vlamir Brandalizze.
Ontem, o USDA informou que a produção mundial de trigo em 2022/23 deve somar 771,64 milhões de toneladas. O volume é 0,2% inferior à previsão de junho.
Nas negociações da soja, os contratos para novembro, os de maior liquidez em Chicago, caíram 4,41% (62 centavos de dólar), a US$ 13,43 por bushel. Já os papéis de segunda posição, para agosto, recuaram 3,53% (53,75 centavos de dólar), a US$ 14,6825 por bushel.
Nesta terça-feira, o USDA reduziu em 3,7 milhões de toneladas, para 122,61 milhões, sua estimativa para a produção americana de soja em 2022/23. Para a colheita global, o órgão agora prevê 391,4 milhões de toneladas – volume inferior à projeção do mês passado, mas, ainda assim, recorde.
A aversão ao risco derrubou também as “soft commodities” na bolsa de Nova York. No mercado de algodão, as cotações sofreram pressão também das novas estimativas do USDA para os estoques globais. Os contratos da pluma para dezembro, os mais negociados, recuaram 4,22%, a 90,84 centavos de dólar por libra-peso.
Fonte: Valor Econômico.