Parece existir entre algumas pessoas uma grande confusão na interpretação do que são biotécnicas reprodutivas e quais são suas relações com programas de melhoramento e a seleção dos animais. Prova disso, é a existência de comentários do tipo: "Tal animal é melhorador, pois ele é fruto de uma TE ou FIV". Voltaremos a frisar no texto, e é importante estar claro, que o uso da IA, TE, FIV, ou qualquer outra biotécnica reprodutiva, não implica necessariamente em obtenção de maior progresso genético.
Por 1Fernanda Varnieri Brito, Vânia Cardoso, Roberto Carvalheiro, Luiz Alberto Fries, Carlos Dario Ortiz Peña, Mario Luiz Piccoli, Vanerlei Mozaquatro Roso, Flávio Schramm Schenkel e Jorge Luiz Paiva Severo
Parece existir entre algumas pessoas uma grande confusão na interpretação do que são biotécnicas reprodutivas e quais são suas relações com programas de melhoramento e a seleção dos animais. Prova disso, é a existência de comentários do tipo: “Tal animal é melhorador, pois ele é fruto de uma TE ou FIV”. Voltaremos a frisar no texto, e é importante estar claro, que o uso da IA, TE, FIV, ou qualquer outra biotécnica reprodutiva, não implica necessariamente em obtenção de maior progresso genético.
Progresso genético só é obtido se animais geneticamente superiores são selecionados e utilizados na reprodução, seja ela conduzida de forma natural ou assistida. As biotécnicas reprodutivas simplesmente permitem que os animais tenham maior número de descendentes, o que, como veremos adiante, pode ser de extrema valia se animais geneticamente superiores forem escolhidos.
Para melhor avaliar os possíveis impactos das biotécnicas reprodutivas sobre programas de melhoramento, vamos relembrar os diferentes componentes que afetam o progresso genético anual (∆G) de uma população. Três fatores afetam de forma direta o ∆G:
• a intensidade de seleção – associada com a superioridade genética dos animais selecionados para a reprodução;
• a acurácia de seleção, ou correlação entre os valores genéticos verdadeiros (que não conhecemos) e os valores genéticos estimados por métodos estatísticos;
• e a variabilidade genética – propriedade intrínseca da população e da característica em consideração.
O quarto, e último componente, que está inversamente relacionado ao ∆G, é o intervalo de gerações ou tempo requerido para a reposição de machos e fêmeas em reprodução.
Por permitir um número muito maior de descendentes por touro, a IA torna possível selecionar um grupo extremamente seleto de touros sem que haja aumento no intervalo de gerações, pois a quantidade de animais necessários para repô-los é pequena. Da mesma forma, porém em menor intensidade, a TE e a FIV atuam sobre as vacas. O perigo dessas técnicas está em usar na reprodução um número muito seleto de animais sem que estes apresentem genética realmente superior para características de interesse econômico.
Além de permitir aumento da intensidade de seleção e redução do intervalo de gerações, a IA, TE e FIV podem propiciar maior acurácia de seleção, pois animais com maior número de descendentes avaliados apresentam, no geral, mérito genético estimado de forma mais precisa (DEP com maior acurácia). As biotécnicas reprodutivas podem atuar de forma negativa no ∆G sobre a variabilidade genética.
A escolha de um número muito restrito de animais para a reprodução pode acarretar em redução da variabilidade genética das gerações futuras e, conseqüentemente, num aumento da endogamia e da depressão endogâmica – efeito associado à redução do desempenho dos animais. Programas de acasalamento dirigido existem para minimizar esse tipo de problema.
IA – aumentando o potencial reprodutivo do macho
A inseminação artificial tem sido uma das biotécnicas reprodutivas mais eficientes e bem sucedidas nos programas de melhoramento até o presente momento, sendo responsável por um aumento substancial do progresso genético, sobretudo em bovinos de leite, nos países onde ela é aplicada de forma mais intensa.
Programas de melhoramento de bovinos de corte bem planejados, e que utilizam touros em monta natural, podem obter progresso genético anual em torno de 0,5-1,0% (lembrar que os ganhos obtidos com o uso de touros melhoradores são permanentes e cumulativos). Estima-se que com o emprego adequado da IA esse ganho possa ser triplicado.
Falhas para que isso ocorra estão associadas, principalmente, ao uso de sêmen de touros que foram selecionados com ênfase em características de importância econômica questionável, ou pouco correlacionadas com as características que se deseja melhorar, ou ainda que foram selecionados em ambientes muito distintos dos quais sua progênie será criada.
Portanto, no momento de escolher que sêmen comprar, cabe ao produtor ou técnico responsável definir quais touros são superiores para características em sintonia com o seu sistema de produção. Para isso, é imprescindível que se use uma ferramenta importantíssima: as informações contidas nos sumários de touros.
Além de contribuir para democratizar o acesso à genética superior, a IA apresenta outros benefícios como:
• identificação paterna – informação importante para a condução de avaliações genéticas e difícil (ou onerosa) de ser obtida caso lotes com mais de um reprodutor sejam utilizados para cobrir as fêmeas;
• permite a comparação de animais de diferentes rebanhos, sendo que quanto maior a proporção de sêmen de touros em comum entre rebanhos mais justa será essa comparação;
• em situações onde o cruzamento é recomendado, a IA elimina a necessidade de manter touros puros de raças pouco adaptadas ao sistema de produção.
Outro ponto que foi citado anteriormente, e que cabe uma maior reflexão, é a respeito da possibilidade de redução da variabilidade genética como conseqüência da utilização de um número muito restrito de touros. Isso, em parte, é verdadeiro. Mas, por outro lado, se utilizada de forma bem planejada, a IA permite maior fluxo e troca de material genético entre rebanhos/programas, podendo resultar em maior variabilidade genética dentro dos rebanhos/programas que a utilizarem. É importante que o produtor não se limite a utilizar sêmen de um número muito restrito de touros.
TE e FIV – aumentando o potencial reprodutivo das fêmeas
Em condições naturais, a contribuição da linhagem materna para o progresso genético é muito restrita, pois as vacas produzem um número pequeno de bezerros ao longo de sua vida produtiva, não sendo possível exercer forte pressão de seleção sobre elas.
O desenvolvimento da TE e da FIV permitiu reverter esse quadro, porém de forma não tão acentuada como a IA para os touros. Enquanto um touro pode ter milhares de filhos com a IA, as vacas podem apresentar algumas dezenas de bezerros com a TE ou, no máximo, algumas centenas com a FIV.
A TE compreende todo o processo de superovulação da vaca doadora (que irá produzir os embriões), inseminação dessa matriz, coleta e transferência dos embriões para as fêmeas receptoras, sendo esses embriões transferidos a fresco ou após terem sido congelados e armazenados por um período de tempo qualquer.
Por sua vez, a FIV consiste na coleta de ovócitos imaturos da doadora, maturação e fertilização desses ovócitos em laboratório e posterior transferência dos embriões para as receptoras, a fresco ou congelados.
A dificuldade em transferir embriões a fresco para as receptoras, está na necessidade da sincronização de cio mais precisa das doadoras e receptoras e maior dificuldade de execução do processo. Por outro lado, os resultados da FIV ainda não são animadores quanto a taxa de prenhez para embriões congelados.
Os resultados da TE em relação à taxa de prenhez são, atualmente, mais favoráveis do que os da FIV, mesmo para embriões transferidos a fresco. A FIV apresenta vantagem sobre a TE no sentido de prescindir o uso de hormônios para a superovulação. Uma suposta e muito questionável vantagem da FIV está relacionada a ela permitir a obtenção de material genético (ovócitos imaturos) de fêmeas pré-púberes, fêmeas pós-abate, ou mesmo de fêmeas com problemas reprodutivos.
Cabem aqui alguns questionamentos: Qual a confiança de que uma fêmea pré-púbere vai ser boa mãe e produzir bezerros com desempenho que justifiquem o uso da técnica? Qual a superioridade genética de uma fêmea que já foi abatida? Quais as conseqüências de proliferar os genes de uma fêmea com problemas reprodutivos? Quem tem a capacidade de avaliar com precisão se esse problema reprodutivo é de ordem genética ou não genética?
Não queremos, com essas questões, desestimular o uso da FIV. Se bem aplicadas, tanto a FIV quanto a TE podem gerar progressos genéticos substanciais, o que depende fundamentalmente de uma identificação eficiente das fêmeas com maior potencial genético, desafiadas e avaliadas sob condições semelhantes de onde seus filhos serão criados.
Reflexão final
Quando o homem assumiu o papel de conduzir a seleção artificialmente, passa a ser ele quem escolhe qual animal irá se reproduzir e com que intensidade. A seleção mal conduzida pode resultar em prejuízos difíceis de serem reparados.
A responsabilidade aumenta com o uso de biotécnicas reprodutivas, que, como discutido, permitem acelerar a resposta a seleção. Acelerar o “passo” não necessariamente significa alcançar a meta mais rapidamente. Isso só será verdadeiro se as biotécnicas reprodutivas forem aplicadas com a utilização de material de animais que sejam de fato geneticamente superiores.
A equipe GenSys agradece o Dr. William Koury Filho pelas contribuições em uma outra versão deste artigo.
1Equipe GenSys
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Com tanta tecnologia, matéria – prima (Bovino), e infra-estrutura que temos podemos conseguir resultados ainda melhores. Essa matéria é positiva, aprimora ainda mais os conhecimentos e interesse pela reprodução animal.
Obrigado ao BeefPoint.
Considerações muito ponderadas.
Parabéns.
Cuidado com a afirmação de que embriões de superovulação tem vantagem sobre embriões FIV nos índices de prenhez. Algumas propriedades e este número vem aumentando, já possuem índices de prenhez semelhantes aos de TE convencional em se tratando de FIV.
Embriões in vitro são prejudicados geralmente em programas de TE, pela alta demanda de receptoras e a impossibilidade de descarte de receptoras não aptas. Novos conceitos de manejo de receptoras e sincronização vem tornando a FIV imbatível como biotécnica de multiplicação.
eu moro nos estados unidos a 6 anos e meio e comprei uma terra com 10 alqueiros goiano terra muito boa tenho toda estrutura pra tirar leite . mas no momento to engordando e matando todo ano
. vou regrescar ao brazil em tres ano qual a ideia que voces mim da pra mim faser um gado de leite sem gastar muito
queria faser uma vacada jesse . enciminacao e uma boa ideia ou comprar as novilhas e mais pratico
obrigado pela oportunidade . itaci cardoso
Ola equipe Gensys
quero tirar algumas duvidas sobre o artigo
como as vantagens da IA, ela pode os cruzamentos e exploraçao da heterose?
Atraso genetico é a diferença entre o núcleo elite e o núcleo comercial expresso em anos.
Entao, uma forma de evitar o atraso genetico seria a IA?
existem outros métodos ?
Muito Obrigado pela atençao
Leonardo Silveira