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Melhoramento Genético como Ferramenta Empresarial1

Por Cintia Righetti Marcondes2, Ana Rosa Zambianchi3 e Raysildo Barbosa Lôbo2,3

A produção animal baseia-se prioritariamente em três pilares de sustentação: a nutrição, o manejo e a genética. Somente a melhoria conjunta destes fatores pode conferir maiores índices produtivos e, possivelmente, maior rentabilidade ao sistema produtivo. De nada adianta fornecer alimentos de ótima qualidade a animais não especializados e acometidos por enfermidades. Cabe aos técnicos orientar os produtores rurais sobre a utilização racional de sua propriedade, respeitando a natureza e explorando ao máximo o potencial genético dos animais. Com este objetivo, muitas empresas privadas e instituições de pesquisa dão suporte técnico na área de melhoramento genético, seja para suinocultores, avicultores ou criadores de gado. Temos para a raça Nelore, por exemplo, oito programas de melhoramento genético. Em 2002 (DBO Genética, setembro/2002) foram avaliados mais de 12000 touros, em seis dos oito programas citados anteriormente, porém estes números não alcançam nem 3% da demanda por reprodutores, mostrando, assim, um grande mercado em potencial a ser explorado.

A competitividade no mercado e o atual desenvolvimento tecnológico forçam o melhoramento genético a ser mais abrangente, envolvendo fatores como o investimento e o gerenciamento. No entanto, isso gera grande inquietação nos pesquisadores e selecionadores brasileiros, pois nem sempre é fácil separar a aptidão, o amor ao rebanho ou os interesses científicos da necessidade de gerar lucro e, conseqüentemente, maiores divisas ao país.

Procedimentos como a rastreabilidade e a certificação de origem, como exemplo temos o Programa de Qualidade Nelore Natural (PQNN) da ANCB, proporcionam maiores chances de conquista dos mercados interno e externo, já que o Brasil possui um dos maiores rebanhos bovinos do mundo, criado exclusivamente a pasto, sem receber qualquer tipo de alimentação que possa comprometer a saúde humana. Esta faixa de mercado, baseada no boi natural e certificação de origem, pode ser tremendamente aumentada por meio de um marketing estratégico e eficiente. Porém, para que a produção possa atender à crescente demanda, esforços conjuntos de pesquisadores, selecionadores, criadores comerciais, indústria frigorífica e governo se faz necessários. Melhorar a qualidade da carne dos zebuínos, por meio da seleção genética, da melhoria nas condições de criação ou abate mais cedo dos animais, é fato. Outro ponto que precisa ser trabalhado sob seleção, principalmente nas raças zebuínas, é a fertilidade dos machos e das fêmeas. Conseguindo-se um ganho genético em características de carcaça e de fertilidade, os programas de melhoramento da raça poderiam fornecer aos rebanhos comerciais, reprodutores de excelente qualidade genética, retornando mais kg de carne/ha, reduzindo os custos de produção e atendendo a maior parte da demanda por carne saudável.

A informação dos valores das DEP´s (Diferença Esperada na Progênie) dos animais é uma ferramenta de suma importância utilizada na predição do desempenho futuro dos rebanhos. As DEP´s dos touros são obtidas por meio das avaliações genéticas e expressam o quanto se espera que os filhos daquele touro sejam superiores ou inferiores ao restante da população envolvida na avaliação. Os criadores, atualmente, estão utilizando as DEP´s como informação essencial na hora da compra e venda dos animais, estando dispostos a pagar mais por animais com melhores DEP´s. Dessa forma, outra conseqüência das avaliações genéticas é o reflexo das DEP´s no preço dos animais. Paneto et al. (2000) encontraram que para cada 1kg a mais na DEP para peso ao sobreano (DEPP550) espera-se um aumento de R$88,52 no preço de venda do animal. Ou ainda, para cada arroba a mais na DEPP550 espera-se um aumento de R$1300,00. A DEP, além de ser excelente instrumento no auxílio à seleção, pode trazer benefícios econômicos imediatos ao criador como o aumento no preço de venda dos animais.

Dada a necessidade, por parte dos criadores, de ferramentas auxiliares ao processo de tomada de decisão, os programas de melhoramento animal têm disponibilizado softwares ou acessos a e-business ou e-commerce em suas home-pages. Um exemplo seria a ANCPweb (www.ancp.org.br), uma base de dados com 9370 touros de acesso livre e busca por RGN/RGD, Nome e Linhagem. Também podem ser feitas consultas às listas de touros ou fichas, com seleção pela DEP para determinada característica de interesse e “premiações” (medalha de ouro, prata ou bronze) para os animais TOP 0,1%, 0,5% e 1%, respectivamente. Centrais de inseminação artificial conveniadas possuem links via fichas dos touros. Desta forma, o Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore (PMGRN) está divulgando os touros dos criadores associados, possibilitando negócios de venda de sêmen e animais, além de facilitar grandemente o planejamento de acasalamentos, baseados neste completo catálogo eletrônico de dados genéticos.

Além do benefício direto obtido com o uso do melhoramento genético, como a venda mais valorizada dos animais, toda a cadeia produtiva, no caso da carne, estaria sendo influenciada pela melhoria no padrão produtivo dos rebanhos comerciais. Auxiliado, ainda, por aplicações de biotecnologias de ponta, como a identificação de marcadores moleculares e a fecundação in vitro, o melhoramento genético animal tende a ser cada vez mais presente nos sistemas de produção brasileiros.

Referências

Sai a nova safra de Sumários. Revista DBO Genética: Anuário de Reprodução e Melhoramento. São Paulo-SP, p. 98-99, setembro/2002.

PANETO, J.C.C.; FIGUEIREDO, L.F.C.; CARDOSO, M.C.P. et al. Retorno econômico das avaliações genéticas. In: Simpósio Nacional de Melhoramento Animal, 3, 2000, Belo Horizonte. Anais…., Belo Horizonte: SBMA, 2000. p. 356-358. Resumo.

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1Adaptado de MARCONDES, C.R., ZAMBIANCHI, A.R. e LÔBO, R.B. Gênese do Lucro. Revista Agroanalysis. São Paulo -SP, p.46 – 47, 2000.

2Departamento de Genética da FMRP-USP; Av. Bandeirantes, 3900, CEP 14049-900, Ribeirão Preto-SP,

3Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), Caixa Postal 671 CEP:14001-970 Ribeirão Preto – SP. cimarcon@rge.fmrp.usp.br, anarosa@ancp.org.br, rayblobo@genbov.fmrp.usp.br.
Para solicitar informações sobre o Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore: pmgrn@ancp.org.br ou pelo telefax: (16) 623-6659.

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