Participei no início de setembro do Congresso Mundial da Carne, realizado na Cidade do Cabo, África do Sul. Uma das palestras mais esperadas era a de Gary Johnson, diretor mundial para cadeia de suprimentos do Mc Donalds. O tema de sua palestra era "Líderes escutam seus consumidores". Gary fez uma avaliação da situação atual da indústria da carne, seus desafios e como o Mc Donalds está encarando esses desafios e terminou a apresentação dizendo "líderes escutam seus clientes... e respondem".
Participei no início de setembro do Congresso Mundial da Carne, realizado na Cidade do Cabo, África do Sul. Uma das palestras mais esperadas era a de Gary Johnson, diretor mundial para cadeia de suprimentos do Mc Donalds. Gary é responsável por toda a compra de produtos do gigante mundial de fast-food.
O Mc Donalds é um enorme comprador de produtos alimentícios. Em 2007, serviu 56 milhões de clientes por dia, 4 milhões a mais que em 2006. São 20 bilhões de atendimentos por ano. Se atendesse toda a população do planeta, serviria cerca de 3 vezes por ano cada ser humano. A rede de restaurantes compra anualmente um milhão de toneladas de carne bovina, o que representa mais de 10% de toda a produção brasileira de carne bovina.
Além de grande comprador de carne bovina (se define como uma empresa de hambúrgueres), também é um grande comprador de frango, carne suína e diversos outros produtos. É o maior comprador individual do mundo de maçãs, com 290 milhões de porções de frutas servidas por ano. Pelo seu tamanho e importância no mundo da alimentação humana, o Mc Donalds é referência quando se fala em carne, em alimentos.
O tema de sua palestra era “Líderes escutam seus consumidores”. Gary fez uma avaliação da situação atual da indústria da carne, seus desafios e como o Mc Donalds está encarando esses desafios. Além disso, fez uma recapitulação do que tinha apresentado no Congresso Mundial da Carne em 2006, na Austrália, reforçando que confiança e transparência são hoje fundamentais para o sucesso de qualquer negócio.
Antes de começar a palestra, Gary apresentou um vídeo preparado pela empresa, para sua convenção anual. Apresentava inúmeros atletas de ponta, nas mais diversas modalidades, se esforçando para ganhar, melhorar, se superar. Esse tinha sido o tema da convenção anual do Mc Donalds – melhore seu jogo. A empresa busca inspiração nos atletas, para todos seus colaboradores. O tema é muito apropriado ao momento que a produção de carne bovina passa, no Brasil e no mundo.
O potencial de aumento do consumo é muito grande. Os desafios e dificuldades também. Assim como todo atleta de ponta, que precisa treinar muito para se manter na primeira posição, quem é líder também precisa trabalhar duro para manter sua posição. Isso é válido para o Mc Donalds (por isso foi seu tema anual) e também para o Brasil, primeiro exportador mundial de carne bovina. Melhore seu jogo, para se manter no topo.
As oportunidades
O consumo de carne vai crescer muito nos próximos anos, a medida que mais gente, no mundo, entra na classe média, e começa a consumir proteína animal. O gráfico abaixo, apresentado por Johnson, mostra o percentual que a carne bovina vai crescer. Tendo como base 2003, em 2020 o mundo vai consumir 28% mais carne bovina, enquanto até 2040 o crescimento será de 60%. As outras carnes (frango e suíno) vão crescer ainda mais, principalmente pela questão do custo.
Gráfico 1. Previsões para aumento de consumo mundial de carne, de 2003 a 2040
Os desafios
O primeiro desafio é o aumento do custo de produção, pois os grãos e o petróleo estão muito mais caros que seus preços históricos. Nesse ponto, o Brasil, em especial a cadeia da carne bovina, tem uma vantagem. O mundo inteiro sofre com o aumento dos custos de produção. Os mais competitivos tendem a ter mais vantagens nesse cenário de custos mais altos. O alto custo de produção, devido ao preço de grãos e petróleo, deve influenciar mais outros países produtores de carne do que o Brasil.
O segundo desafio é a questão da sustentabilidade. O Mc Donalds, por ser uma empresa global, já está sendo questionada por ações nessa área. Mesmo não sendo uma empresa de produtos “premium”, mas uma empresa que vende volume, já é cobrada por isso em muitos países que atua. A questão sustentabilidade está muito atrelada ao tema da palestra “escutar seus clientes”. Gary Johnson mostrou como a empresa está trabalhando nessa área.
Na questão da sustentabilidade, Gary cita uma passagem do livro “O mundo é plano” de Thomas Friedman: Não há mais fronteiras… a comunicação é instantânea… e as notícias literalmente explodem por todo o mundo, logo depois de acontecerem.
A visão do Mc Donalds para sustentabilidade é: “uma cadeia de suprimentos que oferece continuamente, de forma lucrativa, produtos de alta qualidade e seguros, ajudando a empresa a manter sua posição de liderança, além de criar benefícios nas esferas ambiental, social e econômica”.
Gary Jonhson afirmou que a sustentabilidade é mais do que uma tendência passageira, mas uma forma da empresa se manter no negócio. Por dois motivos, precisa garantir que seus fornecedores continuem a oferecer produtos, hoje e no futuro. E também porque se não conseguir provar a seus clientes que é uma empresa preocupada com essa questão, eles irão consumir em outros locais. Uma forma de garantir no longo prazo, oferta do lado dos fornecedores e demanda do lado dos clientes.
Uma leitura brasileira
A situação que o Mc Donalds se encontra no mundo pode servir de inspiração e modelo para empresas brasileiras. Seja na produção ou na indústria. Os desafios, em especial o custo de produção, tendem a aumentar muito. A tendência é de aumento de custos para todos, para o Brasil e para seus concorrentes. Para continuar no topo, precisamos melhorar nossa performance.
Outro ponto interessante é que a empresa, mesmo atuando no mercado de fast-food, por seu tamanho e importância, precisa se adequar a questões de sustentabilidade (ambiental, social e econômica), precisa ganhar e reforçar a confiança de seus clientes, precisa trabalhar com transparência. Mesmo trabalhando com volume (e não preço alto) precisa estar atento a essas questões, para se manter no negócio, de forma lucrativa, hoje e no futuro.
Foto1. Melhore seu jogo
Gary Johnson terminou dizendo “líderes escutam seus clientes… e respondem”.
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É Miguel! Logo abaixo de seu, costumeiramente excelente, artigo vem a notícia que o INCRA é um dos maiores desmatadores do país.
É difícil falar em sustentabilidade num país que ainda está na fase extrativismo e estimula cada vez mais a ocupação desordenada e sem apoio da terra. Vide o sul do Pará, lugar de riqueza natural e potencial produtivo enorme, invadido, saqueado e destruído pelo sem terra.
E depois ainda vejo na televisão, durante a apresentação dos números do desmatamento, a imagem de uns bois andando no meio da floresta queimada, como se o boi fosse o culpado. Espero que o Mr. Johnson não tenha visto essa matéria.
Mas, vamos lá, ainda somos jovens e é nossa a missão de preparar o terreno para a próxima geração.
Abraço!
Caro Miguel,
É importante termos conhecimentos das exigências mundias para o consumo de alimentos com qualidade e sustentabilidade, porém, a mais difícil luta é contra o próprio governo federal e dos estados, onde os produtores rurais que realmente produzem em escala, para engordar de forma relevante o PIB, são classificados hoje, como bandidos com apoio total da mídia, que se quer tem conhecimento de como realmente funciona todo o processo de produção no campo.
O governo lança pacotes, operações e projetos sem sustentabilidade, apoiando somente os reais bandidos da situação (sem terras) que matam, destroem e são aclamados pela midia. E ainda se propõe as papéis quase impossiveis de se cumprir, sem ao menos consultar lideranças do campo para saber se funciona ou não no dia à dia do campo (refiro-me ao SISBOV).
Atenciosamente.
Prezado Miguel Cavalcanti
Existem termos, atualmente, muito em voga que não se tratam de mera retórica da moda. Globalização, competitividade, sustentabilidade e inovação. A compreensão da contínua importância dos mesmos para nosso cenário contemporâneo e do futuro é indispensável para a sobrevivência de qualquer empreendimento. O seu editorial segue essa premissa.
Precisamos começar a compreender que precisamos fazer a coisa certa da forma certa. Precisamos ser mais solidários, desenvolver estratégias compartilhadas com propósitos significativos e de valores claros. Pecuarista nenhum pode ser uma ilha.
A crise volta a mostrar as suas garras. Precisamos, no entanto, transformá-la numa ampliação de oportunidades. Precisamos ter uma visão estimulante de futuro. Para isso o caminho tem 5 C: capacitação, comunicação, cooperação, compromisso e confiança.
Vamos exercitar a esperança.
Abraços