O acordo de delação fechado pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos do grupo JBS, causou indignação e perplexidade no centro financeiro paulista. Investidores, banqueiros, advogados e analistas estavam atônitos com a homologação de um acordo nos quais os irmãos não irão presos e nem sequer usarão tornozeleiras e, apenas com o pagamento de multa, encerrarão pendências pessoais nas operações Greenfield e Lava-Jato.
A JBS confirmou ontem que a delação envolve sete executivos e que o valor total da multa aplicada a todos os delatores é de R$ 225 milhões. O valor foi considerado “simbólico” pelo mercado, mesmo tratando-se de pena atribuída aos indivíduos e não à companhia.
Como comparação, a todo momento, era lembrado que as empresas do grupo J&F, em seu conjunto, doaram legalmente R$ 370 milhões apenas nas eleições de 2014, para variados partidos.
A pena, em todo seu conjunto, foi considerada excessivamente branda comparada a demais empresários que também foram delatores e que amargaram dias, meses ou anos presos, como Marcelo Odebrecht, Ricardo Pessoa, dono da UTC, e até André Esteves, fundador do banco BTG Pactual, foi lembrado, por ter ficado preso no complexo penitenciário de Bangu e ter perdido a posição de controlador na instituição.
A indignação já era latente com as informações conhecidas na quarta-feira, em que a circunstância foi apenas relatada.
Quando a gravação da conversa com o presidente Michel Temer (PMDB) começou a circular pela internet, no início da noite de ontem, os sentimentos de insatisfação e incredulidade aumentaram.
A visita de Joesley a Temer, no Palácio do Jaburu, dura menos de 38 minutos. A conversa entre Joesley e o presidente começa, de fato, a partir do quinto minuto da gravação. O diálogo sobre a condição do país dura pouco mais de três minutos.
Todo o restante do bate-papo é concentrado nos problemas da JBS e dos irmãos com a Justiça. Sem nenhuma cerimônia, Joesley fala sobre sua gestão dessas crises, com pagamento a políticos e membros do Judiciário, como juízes e procuradores. O empresário fala, inclusive, sobre a tentativa de trocar o procurador que ‘estava atrás’ dele.
“Foi o perfeito golpe de mestre”, disse o presidente de um banco. “O Joesley fez o que fez porque está de mudança para os Estados Unidos. Pagará uma multa patética e irá embora, deixando o país na lama”, completou. Um outro alto executivo de instituição financeira relutava em acreditar que não haverá uma pena adicional para Joesley Batista.
“O sujeito faz e desfaz, paga todo mundo e, além de tudo, vai embora, passar bem em Nova York. A mensagem que fica é que o crime compensa”, disse o gestor de um grande fundo de participações em ativos de infraestrutura. Junto com a indignação sobre as penas, havia uma cobrança pela contextualização da autorização para que a família toda pudesse ficar fora do Brasil. “Cadê a autorização judicial? Quem deu?”, disse um outro executivo.
Fonte: Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.
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