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Mercado da carne bovina em 2002 e 2003

Por Miguel da Rocha Cavalcanti

Historicamente, mais de 90% da produção brasileira de carne bovina tem sido consumida internamente. De um lado isso é uma grande vantagem, pois o comércio internacional é mais competitivo e sujeito a crises sanitárias, financeiras e barreiras comerciais que todo o setor agropecuário conhece muito bem.

Por outro lado, perdas no poder aquisitivo da população influenciam de maneira negativa no consumo de carne. A população brasileira apresentou significativos ganhos na renda média per capita nos anos do início do plano real. No entanto desde 1997 a renda média brasileira tem diminuído. Isso, aliado à expressiva desvalorização do real frente ao dólar nesse segundo semestre de 2002 tem permitido uma das cotações (em US$) de arroba de boi gordo mais baixas dos últimos anos.

O comércio mundial de carne teve um crescimento de 7% nos últimos 10 anos. A FAO prevê para 2002 que, aproximadamente, 5.600 mil toneladas equivalente carcaça sejam comercializadas internacionalmente. O Brasil vem apresentando um crescimento elevado no volume de carne bovina comercializada internacionalmente. Segundo um estudo do USDA (a ser publicado em breve pelo BeefPoint) o Brasil irá exportar 838 mil toneladas em 2002, representando 11,7% da produção brasileira de carne bovina. Em 2003 a expectativa é que 922 mil toneladas sejam exportadas, representando 12,5% da produção brasileira, esperada para 7.385 mil toneladas para o próximo ano.

Gráfico 1

Fonte: USDA

O elevado índice de desemprego (em torno de 7%), inflação projetada para 2002 acima de 8% (o dobro da programada pelo governo) e queda no poder aquisitivo da população tem prejudicado em muito um bom desempenho da cadeia da carne. Além disso, grande parte dos insumos pecuários é dolarizada; tem sido difícil repassar esses aumentos de custos para o consumidor. No entanto, os produtores vem se modernizando e aumentando a produção numa taxa média de 3,4% ao ano.

Porém, as exportações brasileiras têm se mostrado firmes, tendo desempenho superior ao ano de 2001, ano em que o Brasil mais exportou carne bovina. Como se pode ver no gráfico 2, apesar de todos os problema,s como a reentrada da Argentina, Irlanda e Uruguai no mercado internacional, o Brasil vem apresentando esse ano um desempenho superior à 2001.

Gráfico 2

Um desempenho superior das exportações brasileiras pode ser uma ajuda valiosa para evitar uma queda mais acentuada da rentabilidade da pecuária de corte brasileira.

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1Miguel da Rocha Cavalcanti é engenheiro agrônomo pela ESALQ/USP e coordenador do BeefPoint.

0 Comments

  1. Miguel Barbar disse:

    Há ainda um outro ponto de análise interessante sobre o contexto exportação/consumo interno que é o que é exportado (principalmente os traseiros e cortes, quando se fala de carne não industrializada) e o que a população mais consome no mercado interno (mix de traseiro e dianteiro, este segundo inclusive mais para o consumidor de baixa renda). E por fim qual é o segmento que pulará o consumo interno com aumento de renda (que é o baixa renda que consome mais cortes de 2a como o dianteiro).