O fato da pecuária ser um investimento rentável está aumentando os custos da atividade. “Hoje compensa mais investir em boi do que aplicar o dinheiro no mercado financeiro”, explica o pecuarista Euclides José Formighieri, da Agropecuária Formighieri, que abate em média dois mil animais por ano no Paraná e no Mato Grosso do Sul. “O retorno é maior e não tem CPMF”, continua. Sua análise é simples: como o boi tornou-se um ativo interessante, houve aumento da procura pelo bezerro, provocando desequilíbrio na relação de troca na hora da reposição.
Por exemplo, tradicionalmente, o invernista sabia que com o resultado da venda de boi com 18 arrobas era possível comprar em média 2,75 bezerros, com idade entre 7 e 8 meses, nas regiões Noroeste e Oeste do Paraná. “Esta relação se modificou diante da valorização do animal de reposição, que não foi acompanhado pelo preço da arroba da carne”, explica.
Tradicional pecuarista na região de Cascavel (PR) e Eldorado (MS), ele declara que o preço de R$ 370,00 do bezerro na desmama é muito alto se comparado com o ganho do invernista. Segundo ele, um boi de 18 arrobas rende líquido em torno de R$ 750,00, valor suficiente para comprar 2,02 bezerros. “Das duas uma, ou o preço da carne deveria estar mais alto ou o do bezerro mais em conta. Mas esta é a realidade, o invernista passou a ganhar menos e quem está no setor de cria está tendo mais vantagens, no momento”.
Na interpretação de Formighieri, há que se considerar, em primeiro lugar, que com o fim da ciranda financeira, quando as aplicações rendiam juros acima de 40%, “o dinheiro felizmente foi canalizado para o mercado. E também para o mercado de boi”. De acordo com o empresário, “o retorno é interessante, pois, se os preços de mantiverem estáveis, o bezerro, em 18 meses, dá retorno em dobro”.
De acordo com ele, o alto custo da reposição não tem afugentado quem trabalha com a engorda, porque há um cenário positivo para o setor, com possibilidade de expansão da fatia do Brasil no mercado externo. Ele também considera como fator de desequilíbrio da relação de troca boi/bezerro o abate de grande número de fêmeas no momento em que o mercado de carne estava em baixa, o que reduziu o número de nascimentos. “É a velha lei da oferta e da procura”, sintetiza.
Formighieri previa que isso ocorreria. Por isso, há três anos também entrou para o mercado de cria, não para fornecer ao mercado, mas para repor os animais terminados. Isso já permite, segundo ele, suprir 75% da demanda atual do grupo, que abate anualmente dois mil animais com peso médio de 18 arrobas e com idade entre 22 e 24 meses, por causa do confinamento. “Assim antecipo a terminação em um ano e meio, com a vantagem extra de dispor de mais pasto para as vacas”, diz. O pecuarista calcula que, em um ano, não dependerá mais do mercado para repor o plantel de corte.
Fonte: Gazeta do Povo/ PR, adaptado por Equipe BeefPoint