Um novo impasse ameaça as negociações da área de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia (UE). Domingo, os europeus concordaram em apresentar a proposta inteira e não mais em “fatias”. Isso deverá ocorrer ao longo da semana que vem. O prazo para fechar o acordo termina dia 31 de outubro, quando também acaba o mandato dos atuais negociadores da UE. Mas se a proposta for considerada ruim, os diplomatas do Mercosul preferirão tentar um acordo melhor no ano que vem.
“Não é hora de soltar foguete, nem de ficar com raiva”, resumiu o presidente da Comissão Nacional de Comércio Exterior da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Gilman Viana Rodrigues. “Para mim, é mais um alongamento do sonho. É preciso ver os resultados, porque reunião já tivemos muitas e não estamos livres do risco de não sair do lugar”.
Também é essa a percepção no Itamaraty sobre o assunto. Os diplomatas não esperam nada muito ambicioso para a agropecuária, dada a dificuldade de a Europa desmontar o sistema de subsídios e proteções. Para tentar aplainar o terreno, o diretor do Departamento de Negociações Internacionais, embaixador Régis Arslanian, vai a Bruxelas para uma série de reuniões de nível técnico.
“Precisamos esclarecer uma série de pontos”, informou. Entre eles, deixar claro que o Mercosul não entrou na negociação para no final enfrentar mais barreiras do que existem. Esta foi a impressão que ficou da última reunião técnica. “Não podemos aceitar uma proposta de área de livre comércio que limita o acesso ao mercado europeu”.
A concordância em apresentar a proposta integral na semana que vem foi recebida como um gesto de boa vontade. “Esse era o ponto principal porque não poderíamos negociar uma oferta fatiada”, comentou Arslanian.
Nos próximos dias, os técnicos vão preparar a oferta melhorada que cada lado pretende apresentar. No Mercosul, há disposição em ampliar a abertura em serviços, investimentos e compras governamentais, o que interessa aos europeus. Em troca, espera-se que a UE melhore a proposta para o agronegócio.
Os técnicos também pretendem concluir nos próximos dias os textos que tratam de temas como regras de origem, solução de controvérsias e barreiras sanitárias e fitossanitárias. Se a oferta for boa, será possível concluir o acordo dentro do prazo. “A gente coloca quinze camisas na mala, vira noites trabalhando e fecha o acordo”, disse Arslanian.
Fonte: O Estado de S.Paulo (por Lu Aiko Otta), adaptado por Equipe BeefPoint